"Eu acredito muito na educação, porque ela me transformou. Conseguiu me tirar de um lugar que a sociedade definiu que seria meu pelo resto da vida. Estar no país que mais mata travestis e transexuais no mundo há 17 anos é, de fato, sair de casa sem saber como e em que momento a tua vida vai cair por terra. Por isso, quando vocês, pessoas cis heteronormativas, se juntam a essa luta, a gente fica mais tranquilo pois, de alguma forma, vocês vão entender um pouquinho o que é a LGBTfobia, o que é a transfobia".
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As palavras da vereadora Regininha foram a tônica da tarde de terça-feira, 7, durante o lançamento oficial do projeto TransTech na sede do Centro de Convívio dos Jovens do Mar (CCMar).
O projeto de capacitação profissional é focado em pessoas trans e travestis em situação de vulnerabilidade e exclusão social, sendo realizado através de parceria com o Ministério Público do Trabalho (MPT), a Associação de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros (ALGBT) Rio Grande e a Otroporto Indústria Criativa.
O TransTech chega com a missão de oferecer um espaço seguro, acolhedor e humanizado para que essas pessoas possam adquirir qualificação profissional na área de tecnologia, além de fortalecer a autoestima e a dignidade e acessar oportunidades concretas e efetivas no mercado de trabalho. O público-alvo são pessoas trans e travestis com 16 anos ou mais, em vulnerabilidade social e econômica, e residentes em Rio Grande e região.
De acordo com o coordenador pedagógico do CCMar, Guy Barcellos, o Centro é um espaço de acolhimento e humanização. "Além da formação profissionalizante, também possuímos atividades de direitos humanos, formação em direitos humanos, em saúde pública, alfabetização científica e alfabetização ecológica. Então, além de oferecermos esse conhecimento de excelência e essa formação de competências e habilidades para o mercado de trabalho, também ajudamos a preparar jovens para o exercício pleno de uma cidadania crítica e planetária. O curso TransTech vem justamente ao encontro dessa proposta de transformação social e de reversão de desigualdades que o CCMar se compromete desde a sua fundação, e que reflete também o espírito que anima o projeto pedagógico da nossa Universidade. A FURG está comprometida com as comunidades vulneráveis desde a sua fundação", avaliou.
"Vamos desfrutar deste momento excepcional que teremos com essas pessoas que nos honram com a sua presença aqui no CCMar, essas 15 alunas e alunos que se interessaram em realizar essa formação aqui. A nossa expectativa é de sucesso no curso e de que nós possamos contribuir para a qualificação dessas pessoas para que elas possam entrar no mercado de trabalho com pleno emprego, que é o desejo de todas elas", concluiu o diretor.
As aulas iniciaram esta semana e seguem até dezembro, nas instalações do CCMar. A matriz curricular inclui Python, Cloud Computing e Power BI. Para garantir a permanência na formação, os estudantes terão acesso, ao longo do curso, a bolsa-auxílio, transporte e alimentação.
Defesa dos direitos
Para a procuradora do Trabalho Cristina Benedetti, o "trabalho decente é um direito humano de todas as pessoas, independentemente do gênero ou da orientação sexual. Cada ser humano é detentor de igual dignidade e merece iguais oportunidades, seja na sua formação educacional e profissional, seja no mercado de trabalho. E o Ministério Público do Trabalho tem como missão institucional, conferida pela Constituição Federal, lutar pela defesa dos direitos de todos os trabalhadores e todas as trabalhadoras. Dentre esses direitos, está o de se inserir no mercado formal de trabalho em condições dignas de execução. Esse projeto visa justamente possibilitar que a população trans da região tenha acesso a uma qualificação profissional e consequentemente ao mercado de trabalho para que, por meio de um trabalho legalizado e formalizado, em condições seguras e saudáveis, consiga obter condições de se sustentar e de edificar a sua própria condição enquanto pessoa humana".
"Somos muito felizes de ter a parceria aqui da Universidade, a parceria do CCMar, que sempre abre as portas para todas as pessoas excluídas, todas as pessoas à margem da sociedade, incluindo a população LGBTQIA+. E somos alegres por ter esse quórum, por ter tido a ampla adesão da população trans. Desejamos que o curso seja um sucesso e que essas meninas e esses meninos saiam daqui em dezembro com condições de ingressar no mercado de trabalho e condições de, nele, permanecer ao longo da sua vida profissional", completou a procuradora.
"Travestilidade e transexualidade não são uma escolha"
Presente no ato, a vereadora Regininha defendeu que "não existe armário para pessoas trans. Não tem como me esconder numa sociedade que me julga e que me fecha a porta diariamente. Eu tenho somente a opção de enfrentar, enfrentar e enfrentar. Então, para enfrentar todas as dificuldades, preconceitos e obstáculos diariamente, a gente chama os nossos combatentes, os nossos soldados, as nossas irmãs e irmãos. A gente se empodera juntos e juntas e juntes para que possamos enfrentar essa sociedade que, de fato, não compreende as diferenças".
"Vivemos em uma sociedade que fala muito sobre inclusão, mas não entende a questão da sexualidade e da identidade de gênero. É tão importante, quando a gente fala sobre inclusão, compreender que a travestilidade e a transexualidade não são uma escolha. Porque enquanto a gente, enquanto sociedade, ainda pensar e acreditar que é uma escolha, julgamos e temos um olhar de afastamento dessa população dos lugares em que todos e todas devem estar. Quando a gente diz que é uma escolha, está dizendo que a gente pode penalizar esses sujeitos por conta das suas escolhas. Que essas vidas saiam da invisibilidade, da violência, da marginalização dos seus corpos. Que a gente possa ir para frente com muita dignidade, romper com as barreiras, destruir os muros e construir pontes para a nossa população", finalizou a vereadora.