A fim de homenagear as grandes descobertas científicas e comemorar o Dia da Ciência e Tecnologia, celebrado neste 16 de outubro, a Secretaria de Comunicação (Secom) da FURG dá início a uma série especial de entrevistas com alguns dos nomes de destaque no quadro de pesquisadores da universidade.
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O primeiro bate-papo é com Silvia Botelho, professora titular do Centro de Ciências Computacionais (C3) e também diretora do iTec, projeto que concebeu e institucionalizou na universidade. Há poucos dias, ela foi escolhida como professora homenageada na 22ª Mostra da Produção Universitária (MPU), um dos eventos de maior expressão no calendário da FURG.
A vasta experiência na área de Engenharia da Computação e Automação, com ênfase em Inteligência Artificial, Graphics, IoT e Robótica, levou a professora Silvia a assumir a coordenação de diversos projetos com o setor produtivo nas áreas de energia, educação e ecossistema costeiro e oceânico. É membro da Comissão Especial de Robótica da Sociedade Brasileira de Computação e do Conselho de Inovação Tecnológica da Fapergs, e atual coordenadora da área de Robótica Subaquática na South Brazil IEEE RAS Chapter. Também participa do Comitê Operacional do Oceantec e do Conselho Municipal de Ciência Tecnologia e Inovação.
Nos últimos anos, Silvia contabiliza seis patentes depositadas e o desenvolvimento de inúmeros softwares. Em 2020 recebeu o prêmio Destaque Pesquisador Gaúcho 2020, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (Fapergs), por suas contribuições em inteligência artificial.
No ensino da FURG, participou da criação de dois cursos de graduação e três programas de pós-graduação.
Nesta conversa, a pesquisadora fala sobre curiosidades que envolvem a área de tecnologia e IA, e como ela consegue equilibrar as tarefas acadêmicas e a vida pessoal.
Como ocorreu o seu interesse acadêmico pela computação e a tecnologia e, mais especificamente, pela inteligência artificial?
A possibilidade de “criar” coisas sempre me fascinou. A academia concede grande liberdade de invenção e criação. Quanto à IA, sempre tive grande curiosidade pela compreensão da inteligência, sobretudo no que tange o desenvolvimento de engenhos inteligentes.
O seu doutorado na área de Robótica, Informática e Telecomunicações, na França, foi concluído no ano 2000. O que mudou nas discussões no ambiente acadêmico, duas décadas depois?
Muita coisa. A robótica e a IA, antes vistas como futuristas, hoje fazem parte do dia a dia. O caráter disruptivo destas tecnologias vem transformando vertiginosamente a nossa sociedade.
Já é possível afirmar que a robótica será capaz de substituir humanos em suas atividades mais complexas?
Depende. A curto prazo, será crescente o uso de sistemas robotizados no auxílio a tarefas repetitivas e padronizáveis. Contudo, a substituição humana em tarefas complexas é algo que virá mais lentamente em uma janela temporal de mais difícil precisão.
Como é o dia a dia de uma pesquisadora científica na FURG? Há tempo suficiente para cuidar da saúde e dedicar-se à família e momentos de lazer?
Conciliar tempo não é uma tarefa simples. Mas algumas estratégias podem ajudar, tais como a estruturação de um grupo de pesquisa com diversos professores, pesquisadores e estudantes, em diferentes níveis, dividindo a carga de trabalho, a profissionalização da gestão da pesquisa, o uso intensivo de tecnologias de trabalho online, a organização de agenda e definição de metas claras e precisas, bem como o uso de ferramentas tecnológicas para o seu monitoramento.
Que conselhos é possível dar a pesquisadores e pesquisadoras iniciantes?
Tenham como foco a solução de problemas brasileiros. Temos que canalizar a pesquisa aqui desenvolvida para resolver os graves problemas que impedem nosso país de ser um local melhor para viver. Vamos partir dos problemas e, a partir daí, balizar nossas pesquisas. O tempo é curto, e o recurso é limitado, priorizar a ciência aplicada à solução de problemas urgentes é o caminho, talvez único, de sermos uma sociedade mais justa e igualitária. Se aproximar do setor produtivo e das comunidades, estabelecer redes de cooperação com outros grupos e agentes da sociedade, são alguns elementos importantes neste cenário. Outro aspecto importante é a gestão da pesquisa; entender os níveis de alcance de maturidade possível de cada pesquisa e estabelecer articulações que permitam a sua efetiva entrega para a sociedade.