No mês dedicado a discutir a conscientização sobre a Síndrome de Down, o exemplo de Marina Marandini Pompeu carrega muita força. Há quatro anos, o seu desempenho acadêmico no curso de Artes Visuais virou notícia para além dos muros da FURG.
"Sou uma poeta forjada pela educação popular, pelo desejo de dialogar"
"O Nudese devolve para a sociedade os empréstimos que ela deixa para a FURG"
"Priorizar a ciência aplicada à solução de problemas urgentes é o caminho"
Desde então, Marina, primeira egressa com Síndrome de Down a concluir um curso de graduação na universidade, pôde realizar um desejo de infância. Em meio aos preparativos para a formatura, foi convidada pela Prefeitura do Rio Grande a exibir uma exposição de sua obra na sala Multiuso. A mostra "Dança e Pintura: As memórias de uma Aluna com Síndrome de Down no Curso de Artes Visuais" reuniu aquarelas do seu trabalho de conclusão de curso, que teve a orientação dos professores Vivian Paulitsch e Michael John Chapman. Com uma técnica que mescla tintas e dança, a autora ressalta as diferenças de quadros e desenhos conforme a música que toca ao fundo. A exposição foi posteriormente levada ao Partage Shopping.
Marina começou sua trajetória no ensino superior com a aprovação no vestibular na Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde morava com a família ao final do ensino médio. Com o retorno a Rio Grande, batalhou a transferência para a FURG e conseguiu. Os estudos foram difíceis, mas com o auxílio de tutores, ela foi se adaptando à rotina acadêmica e conseguiu concluir o curso com aprovação máxima no TCC.
Aos 31 anos, Marina mantém hoje uma outra rotina, característica da maioria das pessoas no mundo pós-coronavírus: respeitando o isolamento, "ansiosa às vezes" e ocupando o tempo envolvida com artes e gadgets de tecnologia. Confira o bate-papo a seguir.
Em meio à tua graduação, foste convidada pela Prefeitura a fazer uma exposição pública de tuas aquarelas. Como foi essa experiência?
Foi maravilhosa! Conheci muitas pessoas, e ela ainda abriu portas para uma outra exposição, no Partage Shopping no mesmo ano. Minhas telas puderam ser vistas por muitas pessoas, e com isso passei a acreditar mais em meu talento. Aproveito para agradecer ao incentivo dos meus monitores na época da FURG, Larissa e Carlo Diego, que sempre acreditaram no meu potencial e talento, e meus professores e orientadores.
Como é o teu dia a dia hoje, com a chegada da pandemia? Influenciou muito nas tuas tarefas? O que costumas fazer para ocupar o tempo?
Influenciou em tudo. Tive que me afastar das pessoas que mais gosto, inclusive do meu afilhado João, que mora em Pelotas e o qual amo muito. Estou sempre em casa, e ansiosa em alguns momentos. Leio livros do Augusto Cury, faço exercícios escolares baixados da internet, e jogo no meu tablet.
Como está o teu fluxo criativo, tens conseguido te dedicar às artes plásticas e à dança?
Pra falar a verdade, raramente tenho me dedicado à minha arte. Às vezes pinto minhas aquarelas, e pratico a dança assistindo a vídeos no YouTube.
E depois de concluir o curso na FURG, surgiu interesse em seguir estudando?
Sim. Eu gostaria de fazer um curso relacionado a secretariado, pois adorei o meu trabalho de estágio na Escola Viva, onde fui bem recebida e acolhida por todos.
Que atividades pretendes retomar quando acabar essa situação do isolamento?
Quero dar um abração em todas as pessoas que mais amo, e depois voltar à rotina de trabalho, porque adoro trabalhar e conviver com as pessoas. Hoje estou angustiada para voltar à minha rotina anterior.
>>> Ações afirmativas
Atualmente, a FURG tem 141 estudantes com deficiência matriculados na graduação, e outros nove na pós-graduação. Deficiências físicas são as mais frequentes, seguidas de baixa visão e deficiência auditiva. A universidade tem um Programa de Ações Inclusivas para auxiliar na adaptação: são oferecidos intérpretes de libras, monitores e reforços.
Para a pró-reitora de Assuntos Estudantis, Daiane Gautério, um dos principais desafios da Prae hoje é garantir a permanência dos estudantes com deficiência na universidade. "O Programa de Ações Afirmativas cada vez mais se consolida, abrindo espaço para trabalhar todas as dimensões da inclusão e da acessibilidade. Mas ainda precisamos ir além, buscando garantir a permanência qualificada, assim como a conclusão do curso", observa Daiane. "O Paene é um dos programas que podemos destacar. É realizado junto à Coordenação de Apoio e Acompanhamento da Prae, e visa garantir acessibilidade aos estudantes com necessidades específicas no ambiente universitário, proporcionando acompanhamento e apoio pedagógico", pontua.