O projeto de extensão PANCPOP (Popularizando as Plantas Alimentícias Não Convencionais) alcançou um marco histórico ao ser oficialmente reconhecido como Núcleo de Estudos em Agroecologia (NEA) do Campus FURG São Lourenço do Sul (FURG-SLS).
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Formalizado como projeto de extensão em 2018, o PANCPOP expandiu suas ações para a pesquisa, o ensino e a cultura, se tornando referência regional e nacional.
Segundo a docente e coordenadora do projeto, Jaqueline Durigon, o título de NEA simboliza o “coroamento” de um trabalho construído em rede e reconhecido pelo edital do CNPq.
“Os NEAs são uma engrenagem para a gente operacionalizar as políticas de agroecologia, para ter capilaridade de ações nos diferentes territórios, nas diferentes realidades desse Brasil afora, para que a gente possa ter um contato direto com as comunidades e sua demandas, e poder atuar nessa indissociabilidade de ensino, pesquisa e extensão junto junto às comunidades tradicionais, aos agricultores e agricultoras agroecológicos”, afirma Jaqueline.
O NEA integra o Laboratório Interdisciplinar MARéSS e, além da participação da FURG-SLS, também envolve a Incubadora de Empreendimentos de Economia Solidária (Ineesol), fortalecendo a articulação entre ensino, pesquisa e extensão no campus.
PANC como eixo central
A trajetória do PANCPOP foi marcada por conquistas expressivas. Em 2024, o grupo sediou o Encontro Nacional de Hortaliças Não Convencionais (HortPANC), reunindo pesquisadores e agricultores de diversas regiões do país.
No mesmo ano, a iniciativa recebeu reconhecimento institucional da FURG, quando Jaqueline foi homenageada na Mostra de Produção Universitária (MPU) pelo impacto do trabalho extensionista desenvolvido no campus de São Lourenço do Sul.
Para Jaqueline, o fato de o NEA ter as PANC como eixo central é um diferencial. “Isso não quer dizer que o NEA vá trabalhar apenas com PANC. Elas são uma temática transversal: envolvem sociobiodiversidade, diversidade agrícola, sistemas de produção mais resistentes, resgate cultural, alimentação como patrimônio histórico e cultural, conservação da biodiversidade pelo uso sustentável, segurança e soberania alimentar, enfrentamento das mudanças climáticas e questões de saúde pública. As PANCs conectam todas essas dimensões”, destaca.
Equipe multidisciplinar e abordagem integrada
Segundo a docente, o NEA PANCPOP reúne uma equipe multidisciplinar, formada por especialistas em ciência política, ciências sociais, gastronomia, agronomia, botânica, engenharia agrícola, entre outras áreas.
A equipe é composta por 33 pessoas, incluindo professores da FURG nos campi de São Lourenço do Sul e Santo Antônio da Patrulha, técnicos, estudantes de graduação e pós-graduação, docentes de outras Universidades e institutos federais, pesquisadores da Embrapa, agentes de assistência técnica e extensão rural, além de lideranças quilombolas, cooperativas da agricultura familiar e camponesa e do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
O NEA conta ainda com a participação de 25 instituições colaboradoras e coexecutoras, que incluem universidades como UCS, UFRGS, UFPel e IFSul Camaquã; unidades da Embrapa; cooperativas vinculadas ao MPA; Escolas Família Agrícolas; associações de produtores agroecológicos e quilombolas; e organizações da sociedade civil voltadas à educação ambiental, à defesa dos direitos de cidadania e à promoção da agroecologia.
“A agroecologia e as PANCs exigem olhares múltiplos, capazes de dialogar tanto com a produção agrícola quanto com os saberes tradicionais, a cultura alimentar e as políticas públicas. Esse conjunto fortalece a proposta e dá sentido ao trabalho coletivo”, ressaltou.
Para o professor Carlos Alberto Seifert Junior (Jajá), integrante do projeto, um dos diferenciais do NEA PANCPOP está na forma como a proposta foi construída: em rede e de maneira participativa.
“Temos muitos grupos que representam a diversidade de populações de agricultores e agricultores camponeses, comunidades quilombolas e diversas entidades representativas. Isso foi um esforço que empreendemos do ponto de vista da estruturação da proposta, para que o NEA PANCPOP tivesse uma característica participativa e pudesse incorporar as demandas desses diferentes grupos sociais”, explica.
Esse arranjo colaborativo foi determinante para o resultado da avaliação do edital do CNPq, que considerava tanto a relevância técnico-científica quanto a social das propostas. O projeto recebeu uma significativa pontuação em ambos os critérios, com destaque para a dimensão social.
“Isso demonstra que nosso projeto se consagra como vanguardista no processo extensionista das universidades, não só no campo, não só na Universidade Federal do Rio Grande, mas também nas universidades federais do Rio Grande do Sul. É o coroamento de quase uma década de trabalho”, avalia Jajá.
Parceria com cooperativas e movimentos sociais
Josuan Sturbelle Schiavon, engenheiro agrônomo, responsável técnico da Cooperativa dos Agricultores Familiares e do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e integrante da direção estadual do MPA, destaca que a parceria representa uma via de mão dupla entre universidade e movimentos sociais.
Para ele, a sinergia entre o PANCPOP e a cooperativa é estratégica para o avanço da agroecologia no território, especialmente por meio da comercialização e da agregação de valor, papéis centrais do cooperativismo.
“Por ser uma cooperativa do campesinato ligada ao movimento social do campo, temos a possibilidade de massificar alguns conceitos da agroecologia e das PANCs, chegando a territórios onde o PANCPOP sozinho talvez não alcançasse, em todo o estado”, disse.
Além disso, Josuan ressalta que a participação da cooperativa e do movimento fortalece políticas públicas, fundamentais para a agricultura familiar.
No âmbito do NEA PANCPOP, a cooperativa terá papel estratégico na agregação de renda e comercialização, ampliando também a difusão do debate sobre agroecologia e PANCs, apoiada na capilaridade do MPA, que atua como movimento de massa no campo.
Por fim, Josuan ressalta que um dos motivos para o apoio ao núcleo sul-riograndense é a valorização do resgate dos saberes tradicionais, reconhecendo e respeitando os camponeses, guardiões desse conhecimento, das sementes e das mudas.
“Esse é o motivo que nos faz estar presentes e ajudar a consolidar esse núcleo no Rio Grande do Sul, diferente de outros grupos que usam o tema para uma perspectiva única e exclusiva de gourmetização, muitas vezes com visibilidade mais capitalista, mercantilizando a temática. Acreditando nisso e podendo ver as PANC nesse debate, para nós é muito enriquecedor. É por isso que, enquanto movimento social do campo, nacional e de massa, apostamos nesse núcleo e queremos vê-lo consolidado, para usar as PANCs como forma de transformar a realidade local com compromisso e responsabilidade social”, concluiu.