O projeto de extensão Linguagens e Expressões Negras na Escola, desenvolvido pelo curso de Letras do Campus São Lourenço do Sul na Escola Estadual de Ensino Médio Cruzeiro do Sul, realizou na última quarta-feira, 19, a exposição Artistas Negros e Negras do RS, dentro das atividades relativas ao Dia da Consciência Negra na escola Cruzeiro do Sul. A exposição é resultado de um trabalho de oficinas formativas em educação antirracista iniciadas pela equipe do projeto em maio deste ano.
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O projeto nasceu de uma interação dialógica com docentes e estudantes da Educação Básica, fomentada por iniciativas de ensino, pesquisa e extensão realizadas no contexto do Curso de Letras do Campus São Lourenço do Sul. A iniciativa foi da professora Faustia Fanka, que atua nas escolas Cruzeiro do Sul e Padre José Herbst, e é desenvolvido pelas professoras do Instituto de Letras e Artes da Universidade Federal do Rio Grande (ILA/FURG), lotadas no Campus SLS, Aline Nardes dos Santos e Letícia da Costa Chaplin.
Para a professora Aline Nardes, a Mostra de Artistas Negros do Sul foi um momento importantíssimo de culminância do projeto. "Desde o início do ano, temos realizado diferentes atividades com turmas de Ensino Médio, na escola Cruzeiro do Sul, desenvolvendo temáticas antirracistas".
A professora Aline explica que a equipe do projeto de cultura Kilombo Literário, coordenado por ela desde 2023, também teve presença marcante - em especial, com a atuação das pesquisadoras quilombolas Ana Teresa Santana, Carina Santana e Charlene Santana, do Quilombo Coxilha Negra; e da escritora e pesquisadora negra Priscila Ferreira. "Muito nos emociona construir coletivamente um projeto que fortalece a luta antirracista pela Educação. Sobretudo, buscamos construir caminhos de ensino de Língua Portuguesa cheios de arte, afeto e celebração das Negritudes brasileiras e lourencianas”, reforça.
O Linguagens e Expressões Negras na Escola também envolve o Projeto Verso a Verso, coordenado pela professora Letícia Chaplin.
Glossário
Neste semestre, por meio da disciplina de Práticas de Linguagem do Ensino Médio, os graduandos de Letras contribuíram para o planejamento da exposição e a publicação do Glossário de Artistas Negros e Negras do Rio Grande do Sul, em ações de ensino e extensão universitária organizadas pela professora Letícia da Costa Chaplin.
Para a professora Letícia, “a relevância do projeto se dá, principalmente, pela valorização da cultura negro-brasileira e a possibilidade concreta de efetivar uma educação antirracista como práticas emancipatórias e formativas da cidadania, ainda que seja este, sabemos, um processo lento, de caráter ao mesmo tempo educacional e político".
Quanto às ações desenvolvidas, Letícia destaca: "O que realizamos no projeto até hoje é resultado de muitas mãos e muitos corações. Acreditamos que uma verdadeira educação antirracista só seja possível atravessada pela coletividade e pelo afeto. Esta é a medida que aprendemos de Antônio Bispo dos Santos, a confluência, energia que nos move para o compartilhamento e para o respeito”.
Sobre o projeto
A então professora da Escola Estadual de Ensino Médio Cruzeiro do Sul e da Escola Padre José Herbst, e também supervisora do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), Faustia Fanka, procurou a FURG por ocasião das atividades relativas ao Novembro Negro do ano de 2024. Tratou-se da primeira interação sobre o tema, ainda bastante incipiente, com a escola e seus estudantes.
Logo no início do ano letivo de 2025, a professora reconheceu algumas questões importantes sobre identidade negra e racismo em suas salas de aula do Ensino Médio. Foi assim que nasceu o compromisso em promover e valorizar a identidade negra na região, por meio do desenvolvimento de propostas interdisciplinares que envolvessem as áreas de Língua Portuguesa e de Literatura.
A partir do contato com o curso de Letras da FURG no Campus São Lourenço do Sul, o projeto de extensão Linguagens e Expressões Negras na Escola nasceu alinhado ao disposto na Lei Federal n° 10.369/03 e na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), dentre outros documentos oficiais, em busca de atender a demandas de atuação universitária que emergem da comunidade escolar de São Lourenço do Sul.
Inicialmente, destacou-se a possibilidade de valorizar a representatividade negra no próprio contexto da localidade, a qual conta com um expressivo número de comunidades quilombolas, pensando sempre no desenvolvimento da autoestima de estudantes negros/as. Além disso, o projeto incluiu, entre os objetivos, propiciar um repertório sociocultural que amplie a visão dos alunos acerca do papel das culturas e dos saberes negros na formação da sociedade brasileira, incluindo aqueles relacionados aos quilombolas, tão fortemente silenciados histórica e sistematicamente.
