CONSUMO RESPONSÁVEL

Grupo vinculado à FURG-SLS promove comércio justo e solidário em São Lourenço do Sul

Desde 2019, iniciativa busca a aproximação com agricultores e empreendimentos de economia solidária para realizar a compra direta de produtos

Com o objetivo de transformar o ato de consumir em um ato político e cidadão, o Grupo de Consumo Responsável Jerivá (GCR Jerivá) tem atuado em São Lourenço do Sul desde 2019, realizando a aproximação entre consumidores, famílias agricultoras e empreendimentos econômicos solidários da região.

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Os integrantes, em sua maior parte, são docentes e estudantes do campus da FURG São Lourenço do Sul que, junto de outras pessoas da comunidade lourenciana, buscam realizar práticas comerciais baseadas na justiça, na solidariedade, no diálogo, na transparência e no respeito.

A iniciativa recebe o suporte da FURG a partir da Incubadora de Empreendimentos de Economia Solidária (Ineesol). Além disso, também conta com o apoio de outros parceiros, como o Núcleo Interdisciplinar de Tecnologias Sociais e Economia Solidária (Tecsol/UFPel), o Centro de Apoio à Agricultura de Base Ecológica (Ceaabe), o Movimento Ambientalista Verdenovo e o projeto de extensão Pancpop.

Como funciona?

No grupo, são consumidos apenas produtos advindos da economia solidária e, no caso de alimentos, apenas aqueles produzidos em propriedades agroecológicas ou em transição agroecológica. Atualmente, 13 empreendimentos fornecem para o GCR, dos quais nove são agricultores e agricultoras familiares, um produz plantas ornamentais e três são agroindústrias.

A cada ciclo — realizado uma vez por mês — os fornecedores listam os produtos disponíveis para oferta e os consumidores selecionam aquilo que desejam. Com os pedidos feitos, os produtores conseguem colher ou produzir somente o necessário, evitando perdas e desperdícios desnecessários.

A distribuição e a logística do grupo são desempenhadas pelos próprios consumidores que assumem todas as funções necessárias ao seu funcionamento. As decisões são tomadas de forma coletiva e autogestionada, inserindo nas discussões os próprios fornecedores.

De acordo com levantamento realizado por integrantes, entre 2019 e 2020, em média, o GCR comercializava R$ 524,77 a cada ciclo, e os consumidores investiam cerca de R$ 41,54 a cada compra. Entre os produtos consumidos, estão alimentos processados (36,3%); Plantas Alimentícias Não Convencionais (Panc) (17,1%); outras hortaliças (14%); hortaliças folhosas (9,1%); e raízes (8,5%).

Segundo os integrantes, uma das premissas é a busca por encurtar a cadeia de abastecimento, incentivando que ocorra o contato direto entre produtor e consumidor. Assim, o consumidor tende a pagar um valor menor e o produtor tende a ganhar mais, uma vez que são retirados os intermediários da cadeia comercial, estreitando laços.

Nas palavras de quem produz

Desde o início das atividades, o produtor rural Luciano Muhlenberg participa do GCR Jerivá como fornecedor. Em 11 hectares, ele e a família produzem grande diversidade de tubérculos, em especial muitas variedades de batata; hortaliças; feijão; soja orgânica; noz-pecã e temperos como manjerona, coentro, salsinha, entre outros. Segundo ele, são 50 variedades de alimentos produzidos ao longo do ano, de acordo com a sazonalidade.

Além do grupo de consumo, a família também comercializa seus produtos na Feira Livre de São Lourenço do Sul e aceita encomendas de consumidores. “O que a gente manda para o consumidor [do GCR Jerivá] é a mesma coisa que a gente tem na feira. Alguma coisinha mínima, como as Panc, ou algum pedido especial é o que muda”, explica Luciano.

Ele conta que participar do grupo é importante para complementar a renda mensal. “A gente continua fazendo a feira do mesmo jeito. É uma coisa a mais”, afirma, dizendo que gosta de fazer parte da iniciativa. “Do jeito que foi organizado é fácil, eu mando a lista segunda-feira para eles, como não sei olhar no computador, não sei como o pessoal compra... E aí alguém, às vezes um, às vezes outro, na quinta-feira manda a lista de pedidos. Aí eu preparo e já sei certo que tá vendido. [Diferentemente] da feira que, tu pode vender tudo, ou pode vender nada”.

Nas palavras de quem consome

A arquiteta lourenciana Lourdes Schneid é outra que compõe o grupo desde a sua criação. Integrante do Movimento Ambientalista Verdenovo, ela conta que colaborou com a implementação do projeto "Saberes e Fazeres relacionados ao uso de Plantas Alimentícias Nativas do Bioma Pampa", coordenado pelo pesquisador Rodrigo Hoff e financiado pela Fundação Luterana de Diaconia (FLD). A iniciativa previa, entre os seus resultados, a criação de um grupo de consumo que tinha por objetivo facilitar uma rede de apoio e segurança aos produtores agroecológicos da região. “Com essa perspectiva, e como integrante do Verdenovo, participei do processo que ‘desenhou’ o GCR Jerivá, em conjunto com outros grupos e pessoas, coordenado pelos professores do curso de Gestão de Cooperativas e Agroecologia da FURG”, explica.

Segundo Lourdes, o que a motivou a ingressar no grupo foi a necessidade de experienciar formas alternativas de organização e o que lhe motiva a seguir é a mesma coisa. “Eu acredito fortemente que nós precisamos de alternativas e experiências, mirar outras perspectivas e visões de mundo, para serem usadas no pós capitalismo. Se elas já tiverem sido experimentadas, a transição será menos traumática”, relata.

Para Lourdes, além de nos oferecer a possibilidade de experimentar novas formas de relações colaborativas de trocas e de consumo, participar do grupo “também pode ser um espaço para entender a importância da produção de alimentos na formação histórica do município e da possibilidade de ocupar um espaço de relevância para o abastecimento da região com alimentação saudável, numa perspectiva de construção de soluções com enfoque no desenvolvimento sustentável”.

Isso implicaria, segundo a arquiteta e ambientalista, em apoiar o crescimento da produção agroecológica, como política de governo de longo prazo e com perspectiva biorregional, para consolidar nosso papel como referência na produção e distribuição de alimento saudável.

Já a estudante de Agroecologia Thielle Vieira Pinho vê o grupo de consumo como uma possibilidade para a universidade, a comunidade e a agricultura familiar local estarem juntas se apoiando, baseado em outra proposta de consumo, de escolhas do dia a dia.

Thielle é uma consumidora recente e conta que sua aproximação se deu a partir da atuação como bolsista da Ineesol a partir de 2021. “Antes mesmo de ser consumidora, por meio da Ineesol passei a realizar atividades através do projeto de extensão que possibilitou dar maior visibilidade às fornecedoras (es) do GCR Jerivá. Para isso, foi realizado um levantamento de dados junto com os fornecedores através de pesquisa quantitativa e qualitativa”, explica. Ela conta que o compilado dessas informações foi utilizado para a criação de materiais informativos, apresentando os tipos de produtos, contato, localização e composição familiar das famílias agricultoras que fornecem ao Jerivá. Os materiais foram divulgados digitalmente nas redes sociais do GCR Jerivá no Facebook e Instagram, além de também serem impressos e distribuídos presencialmente.

Na dinâmica proposta, a estudante salienta a importância que a aproximação com as famílias agricultoras têm na sua atuação e permanência no grupo, e o fato de saber de onde vem e quem está por trás do alimento que consome. “Além disso, produtos de origem agroecológica são difíceis de encontrar no mercado convencional e produtos de alternativas diferentes de comercialização também, que apoiam a agroecologia, o comércio justo e a economia solidária. Os GCRs, as feiras e contato direto com famílias agricultoras já inverte o cenário”, destaca.

 Este material foi produzido de acordo com as normas disciplinadas pela Instrução Normativa nº 1, de 11 de abril de 2018, bem como se ancora e respeita os demais materiais publicados até o momento no que tange o regramento para a comunicação pública dos órgãos federais durante o período de defeso eleitoral, compreendido de 2 de julho a 2 de outubro, prorrogado até o dia 30 do mesmo mês em função do segundo turno.

 

 

Galeria

Desde 2019, iniciativa busca a aproximação com agricultores e empreendimentos de economia solidária para realizar a compra direta de produtos

Foto: Divulgação/ GCR Jerivá