TERRAS RARAS

Reserva de minerais críticos é importante para "assegurar tecnologia do país", aponta secretário de Gestão Ambiental da FURG

Professor Felipe Kessler comenta sobre grupo de minérios usados na alta tecnologia e que são alvos de interesse do governo dos EUA

Foto: Divulgação

Com o crescente interesse de mineradores pela exploração em áreas indígenas e de conservação na Amazônia, é necessário discutir o papel da ciência no caminho da criação de uma cadeia produtiva no Brasil.

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As terras raras, ou metais de terras raras, são um grupo de 17 elementos químicos, dos quais 15 pertencem ao grupo dos lantanídeos, junto ao escândio e o ítrio. Mesmo com relativa abundância, os depósitos destes minerais são mais difíceis de ser encontrados porque eles não se concentram em áreas, como outros elementos.

Os metais de terras raras são valiosos devido às suas propriedades magnéticas, de luminescência e de resistência mecânica, e são aplicados nas áreas de saúde e militar, na geração de energia limpa, carros elétricos, equipamentos aeroespaciais e outros produtos de alta tecnologia.

O Brasil tem a segunda maior reserva dessas substâncias no mundo, atrás apenas da China. Para o secretário de Gestão Ambiental da FURG, professor Felipe Kessler, a importância da reserva de minerais críticos é "estratégica" para assegurar a tecnologia do país essencial de industrialização dessas matérias raras.

"A eletrônica como conhecemos - computadores, celulares, chips - funciona com uma tecnologia baseada no silício, assim como as células solares. O problema é que esses elementos, que foram basicamente desenvolvidos na metade do século passado, já alcançaram tecnologicamente um limite onde possamos expandir as nossas capacidades de processamento e capacidade de captação de energia", explica o secretário.

Atenção ao mercado

O professor Kessler explica que o termo "terras raras" é usado por haver poucas quantidades delas no planeta. "Essas terras têm uma capacidade maior de melhorar as propriedades dessas tecnologias, ou seja, se uma célula de silício hoje consegue captar, na melhor das hipóteses, 20% da energia solar que chega nela, uma célula solar com terras raras - ela não precisa ser só das terras raras, ela só precisa ter uma pequena quantidade para uso - já aumenta essa capacidade significativamente", analisa.

Logo, segue ele, esses minerais "asseguram ao país um mercado para a próxima tecnologia", a próxima família de dispositivos que virá como fornecedores dessas matérias. "A situação comercial não é a ideal, mas também nos habilita, tendo o controle dessas terras raras, a desenvolvermos indústrias de alto valor agregado e de grande capacidade tecnológica dentro do país. Então, essas reservas, a extração e todo o setor industrial que está por trás disso, são tecnologias para os próximos 25 anos e por isso nós precisamos colocar muita atenção a partir disso", completa o secretário da FURG.

O papel da Universidade
Existe, também, a questão ambiental. As terras raras, como o próprio nome traz, são de quantidades muito pequenas, e sua extração impõe um passivo ambiental bastante complexo; não é fácil extrair desse tipo de terra, seja por ela estar impregnada em rochas, ou bem abaixo do solo.

"Então, se uma mineradora de ferro ou de alumínio, que são os elementos mais abundantes na Terra, já faz um estrago grande, para as terras raras é pior ainda. Penso o seguinte: você tem que processar uma montanha ou uma mina de um quilômetro, por exemplo, para você tirar alguns quilos de terras raras; isso traz um passivo ambiental muito grande, e é por isso que precisamos, como universidade ou como sociedade, estar muito atentos a essas questões", pontua o professor. "E, obviamente, por haver pouca quantidade desse material é que a demanda vai crescer e o preço dele vai aumentar. Então, quem detiver o controle de terras onde se encontram essas terras raras, quem conseguir minerar isso, terá um retorno muito grande, muitas vezes maior do que ouro, por exemplo. Então, pensando nos próximos 25 anos, as tecnologias que estão já desenvolvidas e que vão entrar no mercado irão precisar de muitas terras raras para conseguir suprir a nossa necessidade por processamento, por tecnologias, por colheita de energia", adianta o pesquisador.

Nesta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o Brasil pode discutir a inclusão da exploração de minerais críticos e terras raras nas negociações com os EUA sobre o tarifaço imposto pelo governo norte-americano aos produtos brasileiros.

 

 

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Professor Felipe Kessler comenta sobre grupo de minérios usados na alta tecnologia e que são alvos de interesse do governo dos EUA

Yuri Lucas/Secom