DIA MUNDIAL DOS OCEANOS

Pesquisadores da FURG alertam para importância da preservação de lagoas costeiras

Ligada ao Atlântico pelo canal, Lagoa dos Patos necessita de cuidados para garantir sua sustentabilidade

Foto: NASA/Divulgação

Ao sul do Brasil, a cidade do Rio Grande margeia uma parcela considerável da maior lagoa costeira da América do Sul. Carinhosamente tratada por "Mar de Dentro" pelas comunidades pesqueiras, a Lagoa dos Patos forma, com seus 10.360 km2, um conjunto de lagoas adjacentes que representam a mais importante área de criação, reprodução e alimentação para camarões e grande parte de peixes que povoam essa região do litoral brasileiro.

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Uma parte da lagoa é inundada pelo Oceano Atlântico, formando o Estuário da Lagoa dos Patos (ELP). Junto com a água do mar, entram animais de água salgada, como aves, botos, leões marinhos, peixes e camarões. E cada vez mais esse estuário necessita de cuidados para garantir sua sustentabilidade. É o que apontam pesquisadores da FURG, como o oceanógrafo e pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação, Eduardo Secchi. "Não podemos esquecer organismos microscópicos do plâncton e a vegetação aquática submersa que são a base da teia alimentar que sustenta este ecossistema", ressalta o professor, que há mais de 30 anos dedica seus esforços à pesquisa e conservação de mamíferos marinhos e seus ecossistemas.

Entre suas pesquisas, o professor Secchi, juntamente com seus colegas e alunos de graduação e pós-graduação, investiga a dinâmica e viabilidade populacional dos botos do Estuário da Lagoa dos Patos e costa marina adjacente (ELPA), no âmbito do Programa Nacional de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD/ELPA – sítio 8), financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do RS (Fapergs).

Outros pesquisadores ligados ao PELD/ELPA alertam para a importância de sensibilizar a população para a proteção dos recursos hídricos através do engajamento da comunidade para o cuidado do meio ambiente. "A vegetação costeira aumenta a biodiversidade estuarina e marinha, estabiliza o sedimento, protege a costa, filtra o excesso de nutrientes e sequestra carbono atmosférico (carbono azul). Uma necessidade urgente é proteger essas áreas rasas, incluindo nossas marismas e pradarias de plantas submersas", observa a professora Margareth Copertino, doutora em Ecologia Marinha e integrante da Coalizão Ciência e Sociedade.

No Estuário da Lagoa dos Patos, as pradarias de gramas marinhas reduziram drasticamente nas últimas décadas, principalmente devido a modificações hidrológicas, aumento da turbidez da água, eutrofização e impactos da pesca de arrasto. As marismas foram reduzidas principalmente devido à expansão urbana, drenagem de áreas para agricultura, pastagem, aterros, poluição, contaminação e despejo de lixo. Modificações hidrológicas no estuário, como aumentos do fluxo de descarga fluvial, causaram erosão de margens e sedimentação de fundos vegetados. "A perda dos habitats vegetados reduz a qualidade das águas estuarinas, desequilibra os ciclos biogeoquímicos e ameaça as pescarias locais, além de aumentar emissões de CO2 para a atmosfera", completa a pesquisadora.

Os dados do monitoramento da água e da biota estão alimentando um grande banco de informações de longo prazo que está se tornando público em plataformas nacionais e  internacionais.  Em  médio e longo prazo, os resultados do  programa PELD deverão contribuir para a conservação da Lagoa dos Patos e a costa marinha, subsidiando diagnósticos,  predições sobre impactos do clima, políticas públicas e planos locais de manejo.

Impacto ecológico

Alguns moradores da região ainda fazem o despejo de sacolas plásticas, embalagens de comida e outros lixos domésticos. De acordo com os estudos do PELD/ELPA, a solução de problemas como esse passa por ações integradas dos agentes envolvidos - e o cuidado da população e a atenção dos órgãos públicos e privados são a esperança de amenizar os impactos à biodiversidade local.

Os plásticos que poluem os oceanos contribuem para destruir os habitats; enredam e matam, anualmente, dezenas de milhares de criaturas marinhas. Vale lembrar que grande parte do lixo nos oceanos é proveniente do continente, que chegam nos mares pelos rios e lagoas. Para limitar esse impacto, recomenda-se medidas como o uso de garrafas d'água reaproveitáveis, acondicionar alimentos em recipientes reutilizáveis, carregar consigo um saco de pano ou outro reutilizável quando for às compras, e reciclar sempre que possível. Quem gosta de mergulhar, praticar esportes aquáticos ou simplesmente relaxar na praia, deve assegurar-se de deixar o espaço limpo. Ações de limpeza das praias também são bem-vindas.

Eventos climáticos e oceanográficos extremos também podem representar grande perturbação para a estabilidade dos processos ecológicos no estuário e na região costeira. O aumento nos processos de produção é outro fator que possivelmente modifica a dinâmica ecológica de toda a região costeira.

Monitoramento e pesquisas

Para dar conta de compreender a complexidade da região, e as respostas ambientais aos impactos naturais e antrópicos, é necessário que vários outros grupos atuem em diferentes frentes. Assim, o PELD-ELPA se divide em 13 laboratórios, os quais realizam pesquisas, monitoram, coletam e geram dados científicos sobre o Estuário da Lagoa dos Patos e as praias adjacentes – Mar Grosso (São José do Norte) e Cassino (Rio Grande), há mais de 20 anos, formando a mais extensa base de informação sobre estuários no Brasil.

Os dados gerados pelo PELP-ELPA também são fonte para uma vasta produção científica que serve de subsídio técnico para a elaboração de políticas públicas voltadas à proteção do estuário e costa marinha adjacente, bem como para contribuir na discussão sobre o manejo da pesca artesanal, junto ao Fórum da Lagoa dos Patos. Na última década, mais de 200 artigos científicos foram publicados no âmbito do projeto, e mais de 150 novos pesquisadores se formaram atuando no PELD-ELPA, seja em nível de graduação, mestrado ou doutorado.