Foi concluída, nesta semana, a última das seis viagens de estudantes a bordo do navio Laboratório de Ensino Flutuante Ciências do Mar I, pertencente à frota da FURG.
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A Secretaria de Comunicação (Secom) foi convidada a acompanhar na última quarta-feira, 10, uma tarde nesta jornada em alto-mar. A expedição partiu do Porto Velho, cruzando as águas doces da Lagoa dos Patos e o canal de acesso ao Porto do Rio Grande, e adentrou o Oceano Atlântico, navegando por um longo trecho próximo à costa da praia do Cassino.
Ao longo de uma semana embarcados, estudantes da FURG e de outras sete instituições de ensino superior brasileiras vivenciaram um pouco da rotina de trabalho no mar, executando atividades práticas sobre navegação, física e química da água, hidroacústica, geologia e sedimentação marinha, geofísica e pesca com diferentes instrumentos.
Aluno do último semestre do curso de Oceanologia, Felipe Machado comemorava a experiência do embarque obrigatório, que representa atividade complementar da graduação. "Pegamos um mar bem conturbado nos dois primeiros dias, com força 7 na escala (ventos fortes de 50 a 61 km/h, que causam mar revolto com ondas de até 4,5 metros), mas hoje está esse baita dia. Aqui, podemos vivenciar na prática toda a rota biológica, a parte física das aulas", comentou, a bordo, o estudante da FURG.
A diretriz nacional curricular para os cursos de graduação possui como atividade complementar obrigatória o cumprimento de pelo menos 100 horas de embarque.
A turma de acadêmicos aproveitou o dia ensolarado e o mar calmo para observar e fotografar as dezenas de leões-marinhos ocupando os tetrápodes do Molhe Leste, em São José do Norte, além de flagrar saltos de golfinhos e toninhas próximos ao navio.
Financiamento do MEC
Conforme explicou o professor Raphael Pinotti, da FURG, as seis viagens recentes foram financiadas pelo Ministério da Educação, que mantém os laboratórios de ensino flutuante e todo o programa funcionando. Nessa última etapa da viagem, a FURG esteve representada por 16 ocupantes na embarcação: quatro professores e 12 alunos. Eles se juntaram aos dez integrantes da tripulação fixa. "O objetivo é dar aos alunos essa vivência, essa prática de mar. Então, nós embarcamos com eles. Nós, professores, somos de distintas áreas: temos a área da ecologia do bentos, que são os organismos que vivem no fundo dos ambientes aquáticos; da geologia; da planctologia; e também da oceanografia física. Ontem desembarcaram outros quatro professores, da pesca, hidroacústica, fitoplâncton e também da física, assessorando todas essas áreas", detalhou.
Vivência de mar
Apesar de a embarcação pertencer à FURG, ela não é a única a utilizá-lo. Além dela, há a UFRGS, UFSC, Udesc, Univali, UFPR, Unioeste e o Instituto Federal do Mato Grosso do Sul (IFMS). Em relação à presença deste último, pertencente a um estado não-litorâneo, o professor Pinotti justifica que os laboratórios de ensino flutuante são pensados para fornecer essa vivência de mar para alunos que se formam nas Ciências do Mar. Contemplam hoje Ciências do Mar a Oceanografia, a Oceanologia, a Biologia Marinha, a Engenharia de Pesca e a Engenharia de Agricultura. "Então, esses alunos do IFMS, por exemplo, são engenheiros de pesca. Então, a gente dá essa vivência de pesca marítima para eles, porque hoje eles têm em sua formação uma engenharia voltada para a pesca de rio, construção de tanques, atividades mais ligadas à aquacultura do que à prática no oceano. Para a formação deles, é super válido terem esse complemento", destacou o professor.
"Essa é a grande missão do nosso projeto, porque a gente entende que, assim como um estudante de Medicina passa 4 ou 5 anos estudando e, no último ano, ele vai para dentro do hospital e aprende na prática como tratar um paciente, nós, nas Ciências do Mar, devemos fazer o mesmo. A gente passa 4, 5 anos estudando na teoria como se comportam o oceano, as correntes, os organismos e aí no último ano - e infelizmente não é um ano inteiro, são só 5 dias - a gente vem para o nosso habitat natural, que é o mar, e coloca em prática esses 5 anos de curso".
"Isso é muito válido, porque acaba colocando um sentido, um propósito naquilo que, na teoria, os estudantes aprenderam. Hoje, a gente embarca, basicamente, os formandos, ou seja, esses alunos que estão aqui com a gente, eles estão cumprindo o último pré-requisito para a formatura. É diferente você ver um peixe morto, muitas vezes cheirando a formol ou a álcool, numa bandeja ali, que é o que o professor consegue mostrar, do que trazer eles para cá, jogar a rede, pescar, virem 100kg, 200kg, 300kg de peixe, eles processarem, conhecerem a diversidade. Isso acaba tornando a vivência e a experiência, tanto profissional quanto pessoal, muito mais rica", observou o docente da FURG.
Águas turbulentas
Os percursos de cada expedição variam e são definidos conforme as condições climáticas. "Nosso maior chefe é o mar. É ele que decide quando a gente sai, quando a gente volta, para onde a gente vai", ressalta o professor Raphael Pinotti, que fala também sobre as particularidades e vantagens de quem embarca no Ciências do Mar. "Nossa costa é muito retilínea, muito uniforme, não temos ilhas, então não temos opção de abrigo. A partir do momento em que a gente sai dos molhes (da Barra), ou a gente vai para o Rio da Prata, Uruguai e Argentina, ou a gente sobe em Imbituba (SC). Não tem outro porto, não tem outro lugar para a gente se abrigar. Então, a gente acaba tendo que enfrentar muito mais o mar. Isso pode parecer um ponto negativo, mas, enquanto professor, eu já entendo como algo positivo para os nossos alunos. Porque quem embarca no Ciências do Mar no Rio Grande do Sul, pode embarcar em qualquer lugar. Porque já vai estar acostumado. Não vai ser aquela vida tranquila e suave, não vão ser águas calmas", concluiu.