Com ocorrência em águas costeiras entre a Patagônia Argentina e o estado do Espírito Santo, a toninha é capturada acidentalmente em redes de pesca de emalhe, com elevada frequência no litoral gaúcho. Este pequeno cetáceo aparece nas listas de espécies ameaçadas de extinção.
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O primeiro dia do mês de outubro foi escolhido como o Dia Nacional da Toninha para sensibilizar a população sobre a situação do pequeno cetáceo mais ameaçado do Atlântico sudoeste. A data foi definida por marcar o início do período de nascimento de filhotes, e tem também como missão apresentar à sociedade em geral um pouco da biologia e ecologia dessa espécie.
Uma avaliação recente da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) classificou a toninha como “Vulnerável” (indicando que a espécie provavelmente já declinou mais que 30% do seu tamanho original) e na Lista Nacional de Fauna Ameaçada ela está atualmente na categoria "Criticamente em Perigo" (com declínio superior a 50% das populações brasileiras). O fator que mais contribui para este cenário de extinção é a captura acidental na pesca, através das redes de emalhe.
Em 2012, foi criada a Instrução Normativa Interministerial MPA/MMA nº 12, cujo objetivo é ordenar a pesca de emalhe no sul e sudeste do Brasil visando, entre outras atividades, reduzir o esforço pesqueiro e também a mortalidade das toninhas e outras espécies ameaçadas. Com a norma, a pesca de emalhe nesta região teve que se adequar a limitações diferenciadas nos tamanhos das redes e nas áreas de pesca.
Idealizado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), o Projeto Conservação da Toninha apoia seis iniciativas que constituem o maior esforço coordenado já feito sobre a espécie no Brasil. Uma delas é o Projeto Toninhas da FURG, financiado pelo Funbio desde 2018. Participam pesquisadores dos institutos de Oceanografia (IO), Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis (Iceac) e Matemática, Estatística e Física (Imef), além da parceria com o Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (Nema), o Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul (Gemars) e a Kaosa. O acordo com o Funbio inclui bolsas de iniciação científica e bolsas técnicas no IO e no Iceac e já contribuiu também com uma bolsa de mestrado para uma aluna do programa de Ambientometria (Imef).
Avaliação da magnitude e tendências temporais da mortalidade, afetividade da INI 12/2012 e propostas de alternativas de gestão da pesca, construídas de forma participativa e levando em consideração as demandas ambientais e socioeconômicas, estão entre os objetivos da pesquisa realizada na FURG, conforme explica o coordenador do Projeto Toninhas/FURG, Eduardo Secchi. O professor detalha o principal motivo do alto índice de mortalidade da espécie. "A área de pesca de espécies como a corvina, pescada e abrótea se sobrepõe muito à área das toninhas. O nível de captura acidental do cetáceo é muito alto: no litoral gaúcho, os números variam entre várias centenas até mais de mil animais mortos a cada ano. Essa remoção é insustentável, e por isso o a toninha está nessa situação", analisa o coordenador.
Com o desenvolvimento do projeto, espera-se não apenas conhecer melhor o tamanho das populações ainda existentes na região, mas também identificar as áreas prioritárias para a conservação da espécie. Além disso, a equipe de pesquisadores pretende também dar maior visibilidade às toninhas, "ainda pouco conhecidas por parte da população brasileira em geral", complementa a professora Danielle Monteiro, coordenadora executiva do projeto (IO).
Características
A toninha (Pontoporia blainvillei) é uma pequena espécie de golfinho que habita águas costeiras do Brasil, Argentina e Uruguai, em profundidades de até 30 metros. Elas têm como características o corpo pequeno (entre 128 e 177 cm), peso entre 29 e 55 kg, cabeça com rostro fino e comprido, mais de 50 pares de dentes, nadadeira dorsal pequena e pescoço flexível. Sua gestação dura 11 meses e cada fêmea tem apenas um filhote; o período de amamentação dura cerca de 9 meses. O tempo de vida é de até 21 anos, mas a maioria dos indivíduos não vive mais que 15 anos.
Também conhecidas como franciscanas (no Uruguai e Argentina), elas vivem em áreas estuarinas e costeiras marinhas, a exemplo da praia do Cassino, onde costumam aparecer em maior número nos meses de primavera e verão. A espécie tem comportamento discreto e evita a aproximação de embarcações a motor. De acordo com pesquisa lideradas pelo Gemars, hoje restam menos de 20 mil indivíduos no Brasil.
Encontro no YouTube
Nesta quinta-feira, 1º, mais de dez instituições vão se reunir para uma grande aula virtual sobre a toninha. Aberto ao público, o webinar “Conhecendo o golfinho mais ameaçado do Brasil” começa às 8h e terá 16 apresentações, abordando aspectos da biologia, do comportamento e também os riscos que a espécie enfrenta no atual cenário. O professor Eduardo Secchi abordará o tema "Quem são as Toninhas?" a partir das 8h45min. A transmissão do evento será no canal do Viva Instituto Verde Azul no YouTube. Veja a programação no quadro anexado abaixo.