Concebido a partir dos impactos da maior tragédia climática do Rio Grande do Sul, ocorrida a partir da grande enchente de 2024, o “Guia de Integridade da Informação no Contexto da Crise Climática do Rio Grande do Sul - Protocolos, Boas Práticas e Governança da Informação para Enfrentar a Infodemia Climática” é um documento, organizado pela Fiocruz, que busca dissertar sobre a crise paralela instaurada naquela ocasião, ligada à comunicação. Para isso, o material elenca boatos, dados imprecisos, ausência de coordenação comunicacional e o uso de fontes não verificadas como atributos que afetaram a capacidade de resposta do poder público e da sociedade no enfrentamento daquela situação.
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Considerando seu fator multidisciplinar e variado, o documento se apresenta como um marco referencial, destinado tanto a orientar futuras situações emergenciais quanto a fortalecer a governança da informação em contextos climáticos extremos.
Além da Fiocruz, também atuam como organizadores a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); o Centro de Informações das Nações Unidas para o Brasil (Unic Rio); e a Secretaria de Comunicação do Governo do Estado do Rio Grande do Sul (Secom/RS). Como instituições participantes assinam: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS); Universidade Federal do Rio Grande (FURG); Universidade Federal de Pelotas (UFpel); Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA); Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR); Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Universidade Feevale (Feevale); Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos); e Secom/RS.
De acordo com o próprio material, sua concepção parte de uma abordagem interdisciplinar e internacionalmente alinhada, conectando comunicação, ciência e gestão pública. Sua elaboração adota o conceito de One Health (Saúde Única, em português), que compreende saúde humana, animal, vegetal e ambiental como interdependentes e interconectadas. Dessa forma, a desinformação climática deixa de ser vista como um problema apenas social ou tecnológico e passa a ser compreendido como um fator de risco que afeta diretamente a resiliência das comunidades, a saúde pública e a eficácia das respostas governamentais.
“Acreditamos que o guia é um material completo, que alcançou seus objetivos para orientar ações futuras de gestores, comunicadores e líderes comunitários no contexto da crise climática, servindo não apenas ao Rio Grande do Sul, mas a qualquer localidade que precise enfrentar problema semelhante”, detalhou a jornalista Tammie Faria.
Organização
Disposto por meio de blocos temáticos e com 13 capítulos centrais, o guia propõe uma macrovisão sobre o período, seu contexto, fundamentos para abordar o problema, conceitos sobre desinformação e seus impactos, governança, estudos de caso, diretrizes estratégicas e boas práticas, colaboração com plataformas digitais e sociedade civil, protocolos e ferramentas, fluxos de verificação, engajamento, comunicação inclusiva, entre outros temas pertinentes.
No que se propõe, o documento é enfático quanto aos modelos de coordenação entre atores públicos, científicos, jornalísticos e comunitários, e destaca a necessidade de fluxos de informação transparentes, rastreáveis e consistentes. O documento reforça o papel da informação como parte estrutural da gestão de risco climático, e não como uma ação periférica; ou seja, é parte da estrutura de tomada de decisão e fundamental para a mitigação de danos paralelos.
Além dos eixos diretos, o material também trabalha conceitos importantes para combater a desinformação, como a estratégia de Pré-bunking, por exemplo, que busca prevenir a disseminação de desinformação antes que ela se espalhe, ganhando mais força e tração. Além disso, propõe a criação de mecanismos permanentes de monitoramento da desinformação, com metodologias capazes de identificar padrões de circulação de boatos e de acionar respostas coordenadas.
Ainda segundo Tammie, a FURG, por meio de seus profissionais de comunicação, pode colaborar com o subitem 2.2 “Iniciativas Internacionais - Boas práticas globais e cooperação multilateral" e com a introdução do item 7 “Riscos, Desafios e Impactos".
“Mais do que nunca as comunidades, não só do Rio Grande do Sul, precisam estar preparadas para agir e buscar, em boas práticas já consolidadas, modelos de ação e possíveis parceiros, para minimizar os impactos que situações como essas ocasionam. Acreditamos que a organização prévia, respaldada em exemplos de sucesso de instituições que há anos atuam na área e na contribuição da educação midiática para a compreensão dos fenômenos e engajamento das comunidades no combate à desinformação, seja fundamental nesse processo”, completa a jornalista.
Estudos de caso
O documento inclui ainda estudos de caso práticos, como o funcionamento do Gabinete de Crise de Comunicação e a experiência do Núcleo de Combate à Desinformação do Governo do Rio Grande do Sul. Esses relatos funcionam como exemplos de cenários enfrentados e soluções encontradas naquele momento, oferecendo lições importantes para outros governos e instituições que desejem fortalecer suas estratégias de comunicação.
Além de propor diretrizes, o guia estabelece recomendações práticas. Entre elas, destaca-se a criação de sistemas de alerta para desinformação, semelhantes aos sistemas de alerta meteorológico, que permitam respostas rápidas a conteúdos enganosos durante crises. Também enfatiza a necessidade de consolidar políticas públicas permanentes voltadas à integridade informacional, com recursos, equipes e responsabilidades institucionais bem definidas. Para isso, reforça a importância da integração da quádrupla hélice (governo, universidade, mídia e sociedade civil).
Impacto esperado e desdobramentos
Além de tornar a comunicação governamental mais eficiente e de fácil acesso, o guia pretende institucionalizar a integridade da informação como parte do processo de resiliência climática, transformando essa ação em política pública. Mais do que um exercício de cidadania, ao reforçar o papel da comunicação, em especial em momentos de crise, a intenção do documento é fomentar uma cultura perene de confiança, em que cidadãos, instituições e autoridades possam garantir e justificar ações e decisões com base em fontes confiáveis e processos comunicacionais transparentes.
Ao longo das suas mais de 200 páginas, o guia não esquece, também, de servir como uma espécie de manual para além do contexto regional. Ao integrar iniciativas globais como o Mutirão Global pela Integridade da Informação sobre a Mudança do Clima, da ONU, no âmbito da Agenda de Ação da COP30, o documento destaca a sua relevância para outros territórios, colocando o Brasil e o Rio Grande do Sul como referências em políticas de integridade da informação.
Confira o material clicando aqui.