AGENDA SOCIAL

Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico: confira a primeira entrevista da série em alusão à data comemorativa

A primeira entrevistada é a professora, Cassiane Paixão, do Instituto de Ciências Humanas e da Informação (Ichi) do Campus Carreiros

Neste sábado, 8 de julho, é dia de celebrar o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico. Na FURG, esta data integra o calendário de ações do projeto Agenda Social para o mês.

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 Em comemoração, a Secretaria de Comunicação (Secom) da FURG em parceria conjunta com a Agenda Social e Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (Propesp), realizará neste mês uma série de entrevistas com pesquisadoras dos 4 campi: Rio Grande, São Lourenço do Sul, Santo Antônio da Patrulha e Santa Vitória do Palmar.

A primeira entrevistada é a professora, Cassiane Paixão, do Instituto de Ciências Humanas e da Informação (Ichi) do Campus Carreiros. Ela possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Pelotas (1999). Mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e Doutora em Educação pela Universidade do Vale dos Sinos (2010), Pós-Doutora pela Universidade Federal da Bahia, junto ao grupo de pesquisa “A cor da Bahia” (2017-2018). Coordenou a especialização, modalidade à distância, no curso de Ensino de Sociologia no Ensino Médio entre 2014 e 2016. Coordenou a Especialização em Sociologia, presencial, na FURG entre 2020 e 2022. Atua principalmente nos temas relacionados à expansão da educação superior no Brasil, questões etnico-raciais no sul do Rio Grande do Sul, ações afirmativas e clubes sociais negros. Além disso, também é tutora do Programa de Educação Tutorial (PET) do grupo Conexões de Saberes da Educação Popular e Saberes Acadêmicos.

Confira abaixo a entrevista com a pesquisadora.

Tendo uma área de pesquisa científica voltada para as questões étnico-raciais, ações afirmativas e clubes sociais negros, qual a tua opinião sobre como a pesquisa científica pode contribuir para resolver problemas sociais e globais, como o racismo?


Cassiane:  Recentemente, cooperei com o livro “I Seminário Internacional de pesquisa da paisagem costeira na arte contemporânea: ética, ecologia e entorno”, organizado pela professora Janice Appel e pelo professor Luiz Alberto Pires, com um texto sobre “Sopros de uma Cidade Negra”, que traz um estudo inicial do que tem sido produzido por pesquisadores negros e negros, que olham para a cidade negra do Rio Grande. Pensar cientificamente é também concentrar este olhar na história, cultura, ciência, principalmente, quando se trata de um povo socialmente e historicamente invisibilizado dentro da história gaúcha; logo, estes espaços construídos pela comunidade negra, pelo povo negro deveriam ser parte desta visão que os Gaúchos deveriam ter sobre a comunidade negra local. Pensar um pouco sobre essa ciência é também entender que não existe só um único olhar onde a gente muitas vezes reverbera de que é uma cidade açoriana e que a colonização riograndina é europeia, pois, isto invisibiliza a leitura da população negra do Rio Grande do Sul. As pesquisas auxiliam nesse sentido.


Como tem sido a tua atuação nos Programas de Pós-Graduação na FURG?


Cassiane: Eu faço parte atualmente apenas da pós-graduação em Sociologia, nível de especialização. Nesta terceira edição, a minha discussão é sobre sociedade e educação. Enquanto doutora em educação todas as pesquisas que eu desenvolvi desde a minha graduação envolvem essas duas questões. Nós temos avançado nessa proposta de entender a nossa formação, não mais em um único viés, mas entendendo as diferentes categorias de opressão e problematizando-as diferentes categorias de opressão. Trazer o conceito da interseccionalidade, que para nós chegou muito tardiamente, mas ainda é muito contemporâneo. Pensar os processos educacionais é considerar estas categorias de opressão, e que muitas vezes nos coloca no currículo uma visão direcionada para um único viés teórico. Então é necessário problematizar essa discussão no campo educacional.

Em sua opinião, de que forma a divulgação científica pode contribuir para aproximar a sociedade do conhecimento produzido nas universidades?


Cassiane: Acredito que a divulgação precisa ser pensada para além da universidade. A comunidade externa anseia por discussões científicas, deposita os seus impostos dentro da universidade pública. Ainda temos uma parcela pouco significativa de pessoas que conseguem concluir um curso de Graduação; logo, precisamos alcançar o público que ainda não está na universidade, estendendo a divulgação científica para além dos nossos pares.

Nos últimos anos, os pesquisadores no Brasil enfrentaram diversas barreiras, como, por exemplo, o negacionismo científico e cortes orçamentários na educação. Como você lida com as consequências destas ações?


Cassiane: Sofremos não só com barreiras em termos de orçamento, mas também se desacreditou na construção de conhecimentos. Enquanto pesquisadora nunca imaginei que isso aconteceria, num momento em que uma série de questões já postas pareciam consolidadas foram desconstruídas. Hoje o embate é retomarmos as discussões anteriores que tínhamos. É incrível que apesar de todos os avanços, não só com a questão das cotas, mas em todas as pesquisas nas áreas das relações étnico-raciais, ainda se observa o genocídio epistemológico que aconteceu e ainda vem acontecendo nos últimos anos. O desafio agora é reconstruir muitas das coisas que ficaram, e acreditar nos jovens pesquisadores/pesquisadoras negros e negras e na sua compreensão das ciências humanas, exatas, aplicadas, com um olhar não só para o público da qual não fazem parte, mas também para o seu próprio grupo social. A gente tem visto diferentes estudantes de diferentes cursos: administração, economia, discutindo a questão das cotas com mensuração de dados; além do projeto de extensão Gurias na Ciência, do Programa de Pós-graduação em Química Tecnológica Ambiental (PPGQTA) debatendo sobre uma ciência afrocentrada. Esta é a proposição: Não só olhar para esses jovens pesquisadores, mas principalmente estimulá-los para a produção de conhecimento científico.

Quais são as perspectivas futuras da sua área de pesquisa?


Cassiane: Este é um ano que o nosso grupo de pesquisadores está repensando e revendo algumas coisas. Estamos criando um grupo de pesquisa sobre as relações étnico-raciais. Isso me deixa muito feliz, já que, estamos avançando muito principalmente em pesquisas desenvolvidas em trabalhos de conclusão de curso, tanto de graduação quanto de mestrado e doutorado nesta área, junto aos seus Programas, principalmente, por partir de estudantes negros (mulheres, indígenas, quilombolas) que tem moldado a sua orientação das diferentes modalidades de ensino para olhar para si na sua formação, que muitas vezes exclui esses saberes tradicionais e afrocentrados, que problematizam também a discussão sexista no Brasil. A minha felicidade é motivada porque esse movimento vem exatamente de onde eu sempre imaginei que viesse - da comunidade externa para a universidade – e este é o principal compromisso de uma cientista do ensino superior em uma universidade pública, sabendo e entendendo a importância de dar os ouvidos para a comunidade externa repensando o que é realmente uma abordagem epistemológica, sem pensar o conhecimento a partir de um único viés.

Projeto Agenda Social


A FURG em seu contexto multicampi realiza inúmeras ações, atividades e projetos, que dialogam com diferentes temáticas socioculturais, educativas e ambientais. Assim, com o propósito de visibilizar as produções, bem como celebrar a vida e manifestar os compromissos de luta e resistência, foi criada a Agenda Social da FURG em 2022.
O conceito é de dialogar, informar e visibilizar datas que expressam o compromisso social da universidade, assim como criar campanhas que buscam compor uma programação coletiva e plural, sempre que possível em parceria com os municípios de Rio Grande, Santa Vitória do Palmar, São Lourenço do Sul e Santo Antônio da Patrulha.
Neste ano, o tema da Agenda Social é voltado aos Direitos Sociais e Humanos, e tem como slogan "Diversidade em todas as formas".