A noite desta quinta-feira, 8, foi marcada pelo segundo lançamento do livro Plantas Alimentícias Não Convencionais no Território Zona Sul: identificação de espécies e uso de estruturas vegetativas, uma parceria do projeto de extensão PancPop, do Campus FURG São Lourenço do Sul (FURG-SLS), com a Embrapa.
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A programação aconteceu no Restaurante Nona Bray, onde um espaço especial foi preparado para receber agricultores, camponeses, autores, estudantes, a comunidade acadêmica da Universidade, além de movimentos sociais e representantes de instituições comprometidas com a agroecologia na Zona Sul do estado.
Estiveram presentes no evento o vice-reitor Edinei Gilberto Primel, a chefe de gabinete Camila, o pró-reitor de Assuntos Estudantis André Lemes e o diretor do Campus São Lourenço do Sul, Eduardo Vogelmann. Também participaram docentes, técnicos, trabalhadores terceirizados e representantes de instituições parceiras, como a Embrapa, representada por Leonardo Ferreira Dutra, da chefia-geral, e pelo pesquisador e editor técnico do livro Gustavo Heiden, além da Emater e da Prefeitura Municipal, com a presença de Priscila Bosenbecker.
Entre falas emocionadas, homenagens, agradecimentos e trocas de afeto, a obra mostrou o resultado de um processo coletivo que valoriza a articulação entre saberes acadêmicos e populares.
A publicação nasce em um contexto em que a região Sul do estado se firma como referência no campo da agroecologia e das PANC. Experiências desenvolvidas por agricultores familiares, em diálogo com Universidades como a FURG e instituições como a Embrapa, mostram que é possível produzir alimento de forma saudável, sustentável e resistente.
O livro envolve 20 espécies de PANC, muitas delas cultivadas por famílias que participaram ativamente da construção da obra, compreendido como um território partilhado, que pertence a quem escreve, a quem planta, a quem cozinha e a quem come.
Durante o evento, o vice-reitor Edinei destacou o papel estratégico das PANC na resistência alimentar e na afirmação da soberania dos territórios, ressaltando o compromisso do projeto com a vida humana.
“O livro trata da alimentação saudável e segura, com um olhar diferenciado para os alimentos. Isso é muito importante e é estratégico, um novo conceito de desenvolvimento da sociedade, desenvolvimento atrelado com um compromisso muito forte com as pessoas que fazem parte desse território, de saberes científicos, compartilhados e do dia a dia, das comunidades que também ensinam a Universidade e aprendem com ela”, afirmou.
Mais do que um produto final, o livro foi compreendido pelo projeto como um processo formativo. Escrito a várias mãos, com seis autoras de São Lourenço do Sul, a obra articula vivências de agricultores com olhares técnicos e pedagógicos.
Para o diretor Eduardo, além de ser um registro, o livro é um símbolo de luta, de resistência e de afirmação de modos de vida alternativos ao modelo do agronegócio.
“Esse projeto só é viável, só existe e só está de pé há 7 anos porque houve um grupo de agricultores que se engajou e deu as mãos ao projeto e que tem constituído esse grupo, e batalhado. Esse projeto tem como base transcender alguns paradigmas, vejam que são plantas alimentícias não convencionais, ele está fazendo algo que não é o convencional, e sempre é muito difícil romper essas barreiras, que são muitas, barreiras institucionais, barreiras culturais. Apresentar um novo alimento para a população e ele ser aceito é muito difícil e eu parabenizo os colegas e os agricultores por persistirem nesse caminho”, destacou.
Jaqueline Durigon, docente da FURG e coordenadora do projeto, enfatizou que o livro foi construído como um verdadeiro processo formativo, envolvendo estudantes, pesquisas e atividades de extensão.
“Esse é um fator que não lemos no livro, mas é um diferencial. Além disso, a maioria das autoras são mulheres, o que é outro fator que lutamos para conquistar espaço, para poder ter nossas ideias colocadas em prática e poder estar compondo mesas de cerimônias também”, disse.
Em sua fala, a professora também resgatou a presença histórica dos movimentos sociais, ambientais e populares na consolidação de práticas agroecológicas na região.
“Para mim, como uma mulher, professora, educadora, eu me sinto muito honrada de estar à frente desse projeto que tem sido tão significativo para a Universidade, para o território, para os agricultores e agricultoras, para a agroecologia, para todos os saberes do campo e as Ciências do Campo. Não foi um livro escrito pela Jaqueline, pelo Gustavo, pela FURG ou pela Embrapa, foi um processo formativo e educativo. Eu acho que isso se diferencia da maioria dos livros que a gente conhece”, complementou.
Durigon destacou ainda que o PancPop não é um projeto apenas da Universidade, mas da comunidade e dos agricultores e agricultoras. Lembrou a caminhada junto aos movimentos sociais e enfatizou que a construção do livro, com forte recorte territorial e ampla participação popular, é algo inédito. Segundo ela, até onde se tem conhecimento, o PancPop é o projeto mais longevo da FURG-SLS ainda em vigência. “Estamos presentes no cotidiano dos agricultores e agricultoras e isso faz a diferença”, completou.
Durante a programação, exemplares do livro foram entregues a pessoas e instituições parceiras que têm contribuído ao longo dos anos com essa trajetória coletiva. Algumas entregas foram simbólicas, representando o agradecimento a grupos inteiros.
O momento também foi marcado por homenagens. Em sua fala, o professor Carlos Alberto Seifert Jr. (Jajá), integrante do projeto, destacou a importância dos movimentos sociais, estudantis, quilombolas e agroecológicos que fortalecem diariamente a luta por soberania alimentar.
“A gente quer colocar que ser pioneira às vezes em um debate, agenda, luta, processo, pesquisa e assunto novo pode ser uma tarefa bastante árdua e difícil. Muitas vezes a gente se pega sozinho, enfrenta hostilidade, enfrenta desafios muito pesados para conseguir concretizar as ações desse pioneirismo, e esse é um processo que a gente reconhece pelas mãos de pessoas que enfrentaram um modelo de agricultura que não era conectado com a terra. Essas pessoas a gente tem que reconhecer, reconhecer quem chegou antes de nós nesse território”, refletiu.
Em seguida, houve uma homenagem ao agricultor agroecológico Roni Mühlenberg, pioneiro no território de São Lourenço do Sul. Roni enfrentou inúmeros desafios, e sua trajetória foi celebrada como símbolo de compromisso com a terra e com a alimentação saudável. No campus, ele também foi homenageado com a nomeação de um espaço que agora carrega seu nome.
Foi anunciada ainda a realização da Festa da Colheita das PANC, prevista para o início de junho, com convite aberto a todos que compartilham da construção agroecológica.
Como não poderia faltar, o encerramento do evento teve gosto e aroma de partilha. O buffet, preparado com muito carinho pelo restaurante, foi composto por pratos que combinavam plantas convencionais e não convencionais, em receitas criativas e nutritivas. Todos os ingredientes foram adquiridos de agricultores da região, com destaque para as áreas cultivadas com PANC. O cardápio, assim como o livro, reafirmou que se alimentar pode e deve ser um ato político, afetivo e comunitário.
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Conheça a versão completa do livro em PDF: