O desafio de estabelecer um diálogo de conhecimentos, em uma prática coerente com a teoria aprendida em sala de aula, é o que tem movimentado os estudantes do 7º semestre do curso de Agroecologia, vinculados à disciplina de Metodologias Participativas na Extensão Rural, a realizarem um trabalho em conjunto com a comunidade quilombola Coxilha Negra, localizada no 6º distrito de São Lourenço do Sul.
Alunos da LEdoC promovem ação educativa sobre saúde alimentar em São Lourenço do Sul
Estudante de Letras da FURG-SLS lança livro com líder do Movimento Negro sobre a quilombola Maria Lina
Alunos de Agroecologia da FURG-SLS desenvolvem projetos para resolver desafios em agroecossistemas familiares
Assim, a cada novo semestre os estudantes escutam as demandas dos moradores da comunidade e buscam por soluções com viés agroecológico em sintonia com os trabalhadores, a partir do Diagnóstico Rural Participativo (DRP). Para este ciclo, estão previstos seis encontros presenciais, sendo que todo trabalho é acompanhado por docentes e técnicos da FURG-SLS.
Mesmo no período em que a universidade se encontrava em ensino remoto - entre 2020 e 2021, por conta da pandemia da covid-19 - o projeto seguiu acontecendo, com o monitoramento e o assessoramento da comunidade sendo realizado de forma virtual.
Entre ações já realizadas, estão incremento dos pomares, organização de estufa, melhoria dos sistemas de cultivo de hortaliças e fortalecimento da criação de galinhas para a produção de ovos coloniais.
A partir da demanda trazida pelos moradores, nesta edição da disciplina o foco dos estudantes tem sido em podas e manejo dos pomares de citros, bananeiras, videiras e demais espécies, com o auxílio do técnico em agropecuária da FURG-SLS, Antônio Echeverria.
Impactos para a comunidade
Giane Ferreira é uma das lideranças quilombolas do Coxilha Negra. Ela conta que o projeto desenvolvido na comunidade foi muito importante para as pessoas do território. “Quando a FURG começou a vir, a gente começou a se integrar mais com as pessoas, a conversar, a brincar, a trabalhar junto”, afirma.
Giane cita o fato de que sua filha e outras pessoas da comunidade ingressaram no ensino superior como exemplo dos frutos trazidos pela aproximação do quilombo com os alunos e os professores da universidade. “Eu vou agradecer sempre por tudo que proporcionou para a minha família. Não só para a minha família, mas para os colegas, para os amigos, para os vizinhos… Eles ingressaram na FURG, quiseram continuar os estudos que muitos que já tinham parado, foi um incentivo”.
A agricultora também conta que, com o projeto, os moradores passaram a reconhecer os seus direitos e novas lideranças dentro da comunidade foram se formando. “Muita coisa a gente não fazia, a gente não sabia”, relata.
Diálogo de saberes
Na avaliação da professora Carmem, o resultado mais importante alcançado pela equipe até hoje foi ter trazido estímulo às famílias da comunidade a se organizarem em torno de seus problemas, prioridades e demandas, valorizando suas potencialidades e suas capacidades de movimentação coletiva.
A docente explica que uma situação frequente que ocorre no quilombo é a migração dos moradores. “Por vezes, se deslocam para a realização de ações de sua vida cotidiana, como o trabalho como diaristas em propriedades próximas. Ou migram para a área urbana do município em busca de melhores condições de vida, para estudar, trabalhar, entre outros”, relata.
Dessa forma, para Carmem, “o trabalho desenvolvido em conjunto com universidade é capaz de promover espaços para que as famílias possam compreender suas próprias dinâmicas e estratégias de sobrevivência e reprodução social, contribuindo para o fortalecimento dos seus ativos e atenuação de questões que desejam resolver”.
Já para os estudantes, segundo a visão da docente, o DRP promove a possibilidade de entrelaçamento de teorias, experiências e conhecimentos interdisciplinares, por meio da interação e do diálogo. “Ademais, revela aos estudantes os inúmeros desafios que o espaço rural enfrenta nos dias atuais, sendo uma oportunidade para o aprofundamento teórico, bem como aquisição de experiência para os futuros profissionais”, salienta Carmem.
A estudante Thielle Pinho, matriculada atualmente na disciplina, complementa, afirmando que a oportunidade dos alunos e alunas construírem atividades junto das famílias, em um território quilombola, é uma possibilidade de troca de saberes entre a instituição de ensino e a comunidade.
Thielle destaca que a proposta só se efetiva pela permissão dos moradores em receberem os alunos e professores da universidade. “Faz alguns anos que o Quilombo Coxilha Negra acolhe a FURG e essa relação é muito importante para nós estudantes, sobretudo da Agroecologia, para conhecer e aprender a história dos nossos povos tradicionais locais” entende.
Darwin Aranda, estudante na primeira turma do projeto e atualmente doutorando em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), concorda, explicando que aplicação do DRP dentro da Agroecologia implicou na ruptura da relação assimétrica entre o saber acadêmico e o conhecimento local. “Nós não levamos uma solução pronta para a comunidade e isso foi deixado claro desde o início de nossos encontros”, afirma.
Ele conta que para além do diagnóstico, foram elaboradas algumas sugestões para fortalecer a comunidade e as famílias, levando em consideração as características socioeconômicas de cada núcleo e, o mais importante, segundo ele, com propostas que os próprios moradores sugeriram e desejavam trabalhar.
Darwin também entende que o trabalho que é realizado até hoje junto ao Coxilha Negra é o ponto de partida para futuras ações de pesquisa ou de extensão na universidade. “Sem esse diagnóstico, seria difícil ou até impossível trabalhar com essas comunidades. Além disso, também acredito que o simples fato de a universidade dar voz e ouvir essas pessoas valoriza a quem por muito tempo passou por situações de exclusão e invisibilidade”.
Este material foi produzido de acordo com as normas disciplinadas pela Instrução Normativa nº 1, de 11 de abril de 2018, bem como se ancora e respeita os demais materiais publicados até o momento no que tange o regramento para a comunicação pública dos órgãos federais durante o período de defeso eleitoral, compreendido de 2 de julho a 2 de outubro, podendo ser prorrogado até o dia 30 do mesmo mês em caso de segundo turno.