Em São Lourenço do Sul, a Universidade Federal do Rio Grande (FURG) tem se aproximado de diferentes comunidades do território, promovendo acesso à educação superior e fortalecendo vínculos com modos de vida tradicionais.
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Até chegar ao mestrado, o pesquisador percorreu um caminho que começou com a decisão de buscar formação acadêmica na LEdoC, motivado por um contato direto com a Universidade.
“Quando o professor Eduardo Dias levou seus alunos à minha casa em duas ocasiões para conhecer meu sistema de criação de peixes e cultivo de hortaliças por aquaponia”, recorda.
Nesse momento, Clodoaldo percebeu a necessidade de buscar formação para realizar o sonho de se capacitar em criação de peixes.
Ele lembra que a escolha pelo curso de graduação ocorreu por acaso, mas logo se revelou a decisão certa, pois dialogava com o conhecimento empírico que acumulava ao longo dos anos como pescador artesanal.
Formação e descoberta do caminho acadêmico
Durante o curso, Clodoaldo destaca que o maior aprendizado foi o incentivo dos professores à pesquisa sobre a pesca artesanal e outros povos tradicionais, despertando nele um sentimento de pertencimento, reforçando os laços com seus ancestrais e com a comunidade de pescadores à qual pertence.
A aproximação com a pesquisa acadêmica aconteceu ainda na graduação, em uma disciplina ministrada pela docente Patrícia Lovatto, quando Clodoaldo conheceu a Estação Marinha de Aquicultura (EMA) da FURG em Rio Grande, experiência que descreve como decisiva, pois ao entrar em contato com o universo de estudos sobre organismos aquáticos sentiu que havia encontrado seu caminho.
“Naquele dia, nasceu em mim um sonho: fazer o mestrado no EMA e me tornar um pesquisador, contribuindo com a ciência e com a classe dos pescadores artesanais”, relata.
Hoje, Clodoaldo desenvolve pesquisas voltadas à criação de alternativas sustentáveis para diversificar e fortalecer a renda das famílias pescadoras de São Lourenço do Sul. Seu trabalho busca gerar mais estabilidade econômica, valorizar saberes tradicionais e contribuir para a preservação da cultura da pesca artesanal, impactando diretamente a qualidade de vida da comunidade.
Desafios e legado para novas gerações
Sua trajetória também carrega um papel inspirador para outros jovens de comunidades tradicionais que pensam em seguir o ensino superior e a pesquisa acadêmica. Ao refletir sobre esse caminho, Clodoaldo alerta para os desafios enfrentados pela categoria.
“Os dias de abundância na pesca ficaram para trás, e hoje sobreviver só da pesca virou quase um sonho distante. Vejo pescadores pedindo para que seus filhos estudem e sigam outros caminhos, porque sabem que a vida no mar está cada vez mais difícil. E assim, a profissão que carrega nossa história, nossa cultura e nosso jeito de viver vai desaparecendo silenciosamente, e ninguém parece perceber o vazio que isso vai deixar”, destacou.
Apesar das dificuldades que envolvem a pesca artesanal na atualidade, Clodoaldo acredita que o futuro da tradição pode ser preservado por meio da educação e da pesquisa. Para ele, buscar conhecimento acadêmico é uma maneira de abrir caminhos e garantir a continuidade desse modo de vida.
“Isso acontece buscando conhecimento acadêmico para criar novas alternativas de renda além do extrativismo, como a piscicultura e a carcinicultura. Estudar abre portas para novas formas de viver do mar, que ajudam a preservar nosso modo de vida. A FURG é um lugar que acolhe, com professores dedicados e cursos que fazem a diferença, e o melhor, é pública. Então, não deixem nossa classe entrar em extinção. O futuro da nossa tradição está nas nossas mãos”, conclui.