Ciência

Egresso de Educação do Campo transforma tradição pesqueira em ciência e inspiração comunitária

Clodoaldo, formado na FURG-SLS, desenvolve pesquisas alternativas sustentáveis voltadas às famílias pescadoras de São Lourenço do Sul

Em São Lourenço do Sul, a Universidade Federal do Rio Grande (FURG) tem se aproximado de diferentes comunidades do território, promovendo acesso à educação superior e fortalecendo vínculos com modos de vida tradicionais.

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Entre as histórias que refletem essa relação está a de Clodoaldo de Freitas Vargas, 51 anos, pescador artesanal e egresso da Licenciatura em Educação do Campo (LEdoC), atualmente mestrando em Aquicultura no Campus Carreiros, em Rio Grande, na linha de pesquisa do Projeto Camarão, que transforma sua vivência na pesca em inspiração para a pesquisa acadêmica, fortalecendo a cultura pesqueira e as famílias que vivem desse ofício.

Até chegar ao mestrado, o pesquisador percorreu um caminho que começou com a decisão de buscar formação acadêmica na LEdoC, motivado por um contato direto com a Universidade.

“Quando o professor Eduardo Dias levou seus alunos à minha casa em duas ocasiões para conhecer meu sistema de criação de peixes e cultivo de hortaliças por aquaponia”, recorda.

Nesse momento, Clodoaldo percebeu a necessidade de buscar formação para realizar o sonho de se capacitar em criação de peixes.

Ele lembra que a escolha pelo curso de graduação ocorreu por acaso, mas logo se revelou a decisão certa, pois dialogava com o conhecimento empírico que acumulava ao longo dos anos como pescador artesanal.

Formação e descoberta do caminho acadêmico

Durante o curso, Clodoaldo destaca que o maior aprendizado foi o incentivo dos professores à pesquisa sobre a pesca artesanal e outros povos tradicionais, despertando nele um sentimento de pertencimento, reforçando os laços com seus ancestrais e com a comunidade de pescadores à qual pertence.

A aproximação com a pesquisa acadêmica aconteceu ainda na graduação, em uma disciplina ministrada pela docente Patrícia Lovatto, quando Clodoaldo conheceu a Estação Marinha de Aquicultura (EMA) da FURG em Rio Grande, experiência que descreve como decisiva, pois ao entrar em contato com o universo de estudos sobre organismos aquáticos sentiu que havia encontrado seu caminho.

“Naquele dia, nasceu em mim um sonho: fazer o mestrado no EMA e me tornar um pesquisador, contribuindo com a ciência e com a classe dos pescadores artesanais”, relata.

Hoje, Clodoaldo desenvolve pesquisas voltadas à criação de alternativas sustentáveis para diversificar e fortalecer a renda das famílias pescadoras de São Lourenço do Sul. Seu trabalho busca gerar mais estabilidade econômica, valorizar saberes tradicionais e contribuir para a preservação da cultura da pesca artesanal, impactando diretamente a qualidade de vida da comunidade.

Desafios e legado para novas gerações

Sua trajetória também carrega um papel inspirador para outros jovens de comunidades tradicionais que pensam em seguir o ensino superior e a pesquisa acadêmica. Ao refletir sobre esse caminho, Clodoaldo alerta para os desafios enfrentados pela categoria.

“Os dias de abundância na pesca ficaram para trás, e hoje sobreviver só da pesca virou quase um sonho distante. Vejo pescadores pedindo para que seus filhos estudem e sigam outros caminhos, porque sabem que a vida no mar está cada vez mais difícil. E assim, a profissão que carrega nossa história, nossa cultura e nosso jeito de viver vai desaparecendo silenciosamente, e ninguém parece perceber o vazio que isso vai deixar”, destacou.

Apesar das dificuldades que envolvem a pesca artesanal na atualidade, Clodoaldo acredita que o futuro da tradição pode ser preservado por meio da educação e da pesquisa. Para ele, buscar conhecimento acadêmico é uma maneira de abrir caminhos e garantir a continuidade desse modo de vida.

“Isso acontece buscando conhecimento acadêmico para criar novas alternativas de renda além do extrativismo, como a piscicultura e a carcinicultura. Estudar abre portas para novas formas de viver do mar, que ajudam a preservar nosso modo de vida. A FURG é um lugar que acolhe, com professores dedicados e cursos que fazem a diferença, e o melhor, é pública. Então, não deixem nossa classe entrar em extinção. O futuro da nossa tradição está nas nossas mãos”, conclui.

 

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Clodoaldo, formado na FURG-SLS, desenvolve pesquisas alternativas sustentáveis voltadas às famílias pescadoras de São Lourenço do Sul