“O rap, também como música popular brasileira, muda a periferia de uma ideia de violência e pobreza para uma ideia de cultura e potência” - e é a partir deste tema que a oficina do MC rio-grandino André Dizéro discutiu a produção de arte e literatura periférica. Intitulada “Cultura e Potência - um estudo sobre o livro: ‘Sobrevivendo no Inferno’ dos Racionais MCs”, a oficina fez uma leitura coletiva da principal obra do maior grupo de rap do Brasil, publicada em livro em 2018 como uma extensão e um aprofundamento da composição do grupo paulistano. A atividade foi realizada no sábado, 8, no Espaço Literário da 47ª Feira do Livro da FURG.
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Composto por Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue e KL Jay, foi “Sobrevivendo no Inferno” (1997) que transformou os Racionais de um fenômeno localizado dentro da cena de rap da época em uma das mais populares e importantes bandas do Brasil. O disco alcançou a marca de 1,5 milhão de cópias vendidas, tornando-se o mais bem-sucedido álbum do gênero no país – e colocando o rap no centro do cenário musical brasileiro. “Eu quis trazer esse olhar dos Racionais, como eles ressignificaram essa ideia e apresentar um pouco da periferia como produtora cultural. A oficina também passa por várias obras de arte de vários artistas periféricos aqui da região, e faz uma proposta de uma atividade prática onde as pessoas tragam um pouco do seu local de origem através de versos”, afirma o rapper e bacharel em Artes Visuais pela FURG, André Dizéro.
Envolvido com hip-hop desde 2007, o artista fala da importância de trazer a realidade periférica e ocupar espaços como a feira, trazendo o rap não só como música, mas como literatura. “Cada vez existem mais referências bibliográficas de uma cultura mais voltada à cultura periférica e da cultura hip-hop. Com isso, a gente pode trabalhar um pouco mais a leitura. Desde os anos 90 a gente tem uma carência de produção literal de rap e isso está mudando através dos tempos. Um exemplo é o livro dos Racionais ser leitura obrigatória para o vestibular da Unicamp. Eu acho que é muito importante trabalhar esse tipo de produção dentro de uma feira onde a gente abre o caminho e mostra outras possibilidades de leitura”, avalia Dizéro.
O rapper mantém outros projetos de oficina e musicais e foi contemplado com recursos do Programa Municipal de Incentivo e Fomento à Arte e à Cultura (Procultura), da Prefeitura Municipal do Rio Grande, para a atividade Minicurso de Capacitação para Oficineiros de Hip-Hop: Metodologia, Didática e Conteúdos. O projeto tem como finalidade a realização de um minicurso para capacitar os artistas do movimento cultural hip-hop, da cidade do Rio Grande, para atuarem como educadores/oficineiros em espaços de ensino formal e não-formal, incentivando a produção e fruição artística e cultural em áreas periféricas do município, com maior vulnerabilidade social.