Há lugares em que o cuidado se traduz em coragem. Onde cada gesto de acolhimento é também um ato de enfrentamento contra a violência e o silêncio. O Centro de Referência em Atendimento Infantojuvenil (Crai Rio Grande), que funciona no Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr., da Universidade Federal do Rio Grande (HU-FURG), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), é um desses espaços. No dia 23 de outubro, às 15h, o Centro será homenageado com um Voto de Louvor da Câmara Municipal de Vereadores do Rio Grande, em reconhecimento ao compromisso, dedicação e excelência do serviço prestado à comunidade e à região.
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Em dois anos e meio, o Crai Rio Grande realizou 547 acolhimentos de vítimas de violência sexual e 2,7 mil atendimentos multiprofissionais. São números que representam histórias de dor, mas também de reconstrução: cada uma delas acompanhada por uma equipe formada por médicos, enfermeiras, psicólogos e assistentes sociais, em parceria com a Polícia Civil, o Instituto-Geral de Perícias (IGP) e o Posto Médico Legal (PML).
Segundo a chefe da Unidade de Saúde da Mulher do HU-FURG e coordenadora do Crai Rio Grande, Tânia Fonseca, “Com o início das atividades e o trabalho ativo do Crai Rio Grande, houve aumento de 250% no número de registros de ocorrência policial de casos de violência sexual infantojuvenil e de 300% nas notificações no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Esses dados são fundamentais para a criação de políticas públicas voltadas a essa população de vítimas”.
O Crai Rio Grande funciona no HU-FURG desde março de 2023 e atende crianças e adolescentes de até 18 anos incompletos dos municípios de Rio Grande, São José do Norte, Santa Vitória do Palmar e Chuí. São disponibilizados: acolhimento psicológico e social, avaliação médica, coleta de exames laboratoriais e realização de perícia física e psíquica. Após o atendimento inicial, um relatório do caso é encaminhado para o Ministério Público Estadual, Polícia Civil e Conselho Tutelar. A vítima também é direcionada para acompanhamento psicoterápico na rede de saúde do município de origem.
Uma rede de proteção e esperança
O Crai Rio Grande é fruto de uma parceria entre o Ministério Público Estadual, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, a Prefeitura de Rio Grande e o HU-FURG/Ebserh, com base na Lei nº 13.431/2017, conhecida como Lei da Escuta Protegida. A legislação assegura o direito ao atendimento humanizado e à escuta qualificada, evitando a revitimização e fortalecendo o sistema de garantia de direitos.
A violência sexual contra crianças e adolescentes, segundo Tânia, é um problema silencioso e devastador. “Cerca de 90% dos casos ocorrem dentro do próprio lar, praticados por familiares ou pessoas próximas. A faixa etária mais atingida é entre 10 e 14 anos, tanto entre meninas quanto meninos. Isso reforça a importância de ouvir, acolher e proteger nossas crianças e adolescentes”, afirmou Tânia.
O desafio vai além do atendimento imediato. Muitas vítimas enfrentam vulnerabilidades sociais e dificuldades de acesso ao acompanhamento psicológico na rede pública. “Muitas famílias não conseguem custear o transporte para as consultas, o que acaba protelando o início do cuidado e o tratamento. É fundamental garantir dispositivos de saúde mental que assegurem o acompanhamento psicoterápico de todos os casos, para reduzir as sequelas que podem durar por toda a vida”, pontuou Tânia.
Os desafios enfrentados pela equipe incluem, também, a limitação de horários do Posto Médico Legal e a escassez de peritos para as avaliações psíquicas. Ainda assim, o grupo segue mobilizado em torno de um propósito comum: romper o ciclo da violência e oferecer às vítimas uma nova perspectiva de futuro.
Atendimento humanizado e integrado
O atendimento no Crai Rio Grande integra saúde e segurança pública em um mesmo espaço, oferecendo acolhimento psicológico e social, avaliação médica, coleta de exames, perícias físicas e psíquicas. Após cada caso, relatórios detalhados são encaminhados ao Ministério Público Estadual, à Polícia Civil, ao Conselho Tutelar e à rede de saúde do município de origem da vítima, assegurando continuidade ao cuidado e responsabilização dos agressores.
Para Tânia, o trabalho é também um compromisso: “O Crai Rio Grande é, acima de tudo, um ato de cuidado, compromisso e esperança — uma rede que se fortalece a cada atendimento, protegendo o presente e o futuro de nossas crianças e adolescentes”.
Romper o silêncio é proteger
Casos suspeitos ou confirmados de violência sexual podem ser denunciados em diferentes canais: Disque 100, Brigada Militar, Polícia Civil e Conselho Tutelar. Também é possível procurar atendimento no HU-FURG em situações de urgência.
A identificação de situações de violência sexual acontece, na maioria das vezes, em escolas, unidades de saúde, delegacias, Ministério Público ou por meio de denúncias anônimas. O importante é que qualquer pessoa que suspeite ou saiba de um caso faça a comunicação às autoridades competentes.
Como agir e denunciar
- Escute e acolha: se a criança ou adolescente relatar violência, dê atenção e leve a sério.
- Não investigue por conta própria: a apuração deve ser feita por órgãos competentes.
- Denuncie: Disque 100 (anônimo e gratuito, 24h), Conselho Tutelar, Polícia Civil ou Brigada Militar.
- Proteção e responsabilização: a denúncia chega ao Ministério Público e à Polícia, garantindo que a vítima seja atendida e o agressor responsabilizado.
Como procurar atendimento
-Atendimentos agendados no Crai Rio Grande: de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h, pelo e-mail crai.hufurg@ebserh.gov.br ou pelo telefone/WhatsApp (53) 3233-0264.
-Casos urgentes: devem ser direcionados ao Serviço de Pronto Atendimento (SPA) do HU-Furg, com entrada pela Rua Visconde de Paranaguá, sem necessidade de agendamento.
Denunciar é proteger. Ao denunciar, cada pessoa contribui para garantir que crianças e adolescentes recebam o cuidado do Sistema Único de Saúde (SUS) e tenham a oportunidade de crescer em segurança.