O Banco de Leite Humano (BLH) do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr., da Universidade Federal do Rio Grande (HU-FURG), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), atende, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), gestantes a partir da 36ª semana de gestação e mães que estejam amamentando. A nutricionista e coordenadora do BLH do HU-FURG, Grace Santos, destaca a importância da doação de leite humano, que é pasteurizado e usado para atender as prescrições dos bebês, especialmente os prematuros, internados na UTI Neonatal. “Na época de frio, há uma queda significativa na doação de leite e na captação de doadoras. Isso afeta diretamente o atendimento da UTI Neonatal do HU-FURG, onde temos bebês prematuros e, muitas vezes, até bebês a termo (nascidos no tempo certo) internados. Esses bebês dependem do leite humano doado, que é um alimento vivo, rico em nutrientes e anticorpos, essencial para o desenvolvimento e recuperação deles”, pondera a nutricionista.
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O que leva à diminuição da produção de leite entre mães com bebês internados?
Muitas vezes, essas mães estão afastadas dos seus filhos, vivenciam um estresse muito grande e têm o psicológico abalado. Isso impacta diretamente na produção de leite. Por isso, a doação é tão necessária. O leite doado é pasteurizado e usado conforme prescrição médica, sendo importante para garantir a nutrição e a imunidade desses recém-nascidos.
Como funciona a coleta do leite doado? A doadora precisa ir até o Hospital?
Não. A equipe multiprofissional do BLH vai até a casa da doadora. Levamos os frascos esterilizados, orientamos sobre a extração, o armazenamento e depois fazemos a coleta. Tudo isso de forma gratuita e com acompanhamento pelo SUS. O leite doado é um “ouro branco”. Ele reduz o tempo de internação dos bebês e traz esperança para as famílias.
Quantos litros são doados por mês? E quanto seria o ideal?
Atualmente, captamos entre 50 e 65 litros de leite por mês. Mas o ideal seria chegar a 100 litros. Isso permitiria atender todos os bebês internados. Hoje, o consumo diário varia entre 1,5 e 2 litros por dia. Com a queda nas doações, nossos estoques estão baixos. Temos leite para, no máximo, uma semana.
Toda mulher que amamenta pode doar leite humano?
Sim, toda mulher saudável, que esteja amamentando e não faça uso de medicamentos que impeçam a amamentação, pode doar. A mulher precisa apresentar o cartão de pré-natal e exames recentes. Se necessário, realizamos exames adicionais no HU, sem custo. É importante lembrar que o Banco de Leite do HU-FURG também orienta e acolhe essas mulheres, mesmo que elas não possam doar naquele momento.
Há restrições específicas? Por exemplo, uma mulher que fuma ou consome bebidas alcoólicas pode doar?
Há algumas restrições, sim. Fumantes, por exemplo, não podem ultrapassar 10 cigarros por dia. E mesmo assim, fazemos uma avaliação rigorosa. O leite é sensível a odores e
contaminantes, como nicotina, álcool, perfumes fortes e produtos de limpeza. Quando o leite chega ao BLH, ele passa por várias etapas antes da pasteurização, inclusive a análise sensorial. Se houver alguma não conformidade, voltamos a orientar a doadora.
E se a mulher estiver gripada, por exemplo?
Se ela estiver doente, dependendo do caso, não poderá doar naquele momento. Mas, às vezes, detectamos condições como anemia e conseguimos ajudar com orientações
nutricionais. A doação de leite é uma porta de entrada para cuidados com a própria saúde da mulher. A amamentação também ajuda na recuperação do corpo, emagrecimento e até no controle de doenças crônicas.
Doar leite pode fazer falta para o próprio filho?
Essa é uma preocupação frequente, mas não há motivo para medo. O corpo funciona como uma fábrica: quanto mais leite é retirado, mais ele produz. A extração deve ser feita após a mamada do bebê, garantindo que ele seja sempre prioridade. E é importante dizer: só pode doar quem está amamentando. Já tivemos casos de mães querendo doar leite e oferecer fórmula ao próprio filho, e isso não é indicado.
O Banco de Leite do HU-FURG oferece outros serviços além da coleta e pasteurização?
Sim, oferecemos consultorias gratuitas para gestantes a partir da 36ª semana e também para mulheres com dificuldades na amamentação, como fissuras, mastite e leite empedrado. Nosso objetivo é garantir que mãe e bebê estejam saudáveis e que a amamentação aconteça de forma plena. Um bebê bem amamentado tem menos risco de obesidade, diabetes e problemas cardiovasculares no futuro.
Mulheres que fizeram cirurgia plástica nos seios podem doar?
Depende do tipo de cirurgia. Algumas intervenções podem afetar a produção de leite, mas isso é avaliado caso a caso. O importante é que a mulher esteja conseguindo amamentar com eficiência. E mesmo quem consegue tirar só um pouquinho pode doar. Cada gota importa. Um bebê prematuro pode iniciar a alimentação com apenas 0,2 ml. Em 10 dias, 100 ml podem nutrir um bebê de 600 gramas por mais de uma semana.
Quantos bebês estão internados hoje na UTI Neonatal?
Temos atualmente 16 crianças internadas. Desses, dois são considerados prematuros extremos, com menos de 1 quilo. Temos bebês entre 400 e 800 gramas, até outros com mais de 2 quilos. Os menores exigem mais cuidado, e o leite humano é fundamental para aumentar suas chances de recuperação.
Como o hospital acolhe as mães após o parto? Elas podem acompanhar os bebês?
As mães permanecem internadas conforme a necessidade clínica, geralmente até 72 horas. Nosso município tem poucos leitos obstétricos, então precisamos liberar espaço. Para mães de fora, oferecemos uma sala de apoio ao aleitamento com estrutura básica até conseguirem vaga na Casa Vida, que acolhe essas famílias. Além disso, o HU-FURG é Hospital Amigo da Criança, assim, os pais têm acesso 24 horas à UTI Neonatal, o que ajuda muito no vínculo com o bebê e na produção de leite.
O suporte emocional também é uma preocupação do Banco de Leite?
Com certeza. Temos equipe multidisciplinar com enfermeiras, técnicos, fonoaudiólogas, psicólogos e assistentes sociais. Às vezes, um evento triste na UTI afeta todas as mães, ou seja, a solidariedade entre elas é muito forte. Elas criam redes de apoio espontâneas, e nós também oferecemos esse acolhimento. Nosso papel é cuidar sem julgar, entender o que está por trás de cada dificuldade e oferecer suporte.
E se a mulher não teve o bebê no HU, ela também pode procurar o Banco de Leite?
Sim! Atendemos mulheres de toda a região. Recebemos mães do HU, da Santa Casa, do Hospital Monporto e até de municípios vizinhos, como Pelotas. Inclusive, temos dois postos de coleta em Pelotas: no HE-UFPel e no HU da Católica. Nesses casos, a coleta é feita no hospital. Aqui no HU-FURG, vamos até a casa da doadora.
Qual o recado que você deixa às mulheres que podem doar leite humano?
A gente sabe que temos muitos partos por mês, só no HU-FURG são cerca de 120. Mas temos, em média, apenas 20 doadoras no município. Isso é menos de 20% das mulheres que poderiam doar. Então, nosso apelo é esse: cada gota importa. Seja 10 ml ou 1 litro. O leite humano salva vidas. E, além de tudo, doar é um gesto de amor.
Como ser doadora de leite humano O leite materno reduz riscos de doenças, protege contra infecções e fortalece o vínculo entre mãe e filho. Para os bebês hospitalizados, ele pode ser decisivo para a recuperação. Toda mulher que está amamentando, é saudável e não usa medicamentos que impeçam a amamentação, pode doar leite humano.
Para se tornar doadora:
- Entre em contato com o Banco de Leite do HU-FURG pelo WhatsApp: (53) 3233-8880, ou até mesmo pelas redes sociais, como Instagram (@blh_hufurg e @hufurg_ebserh);
- Horário de atendimento externo: segunda a sexta-feira, 24 horas por dia, inclusive
feriados;
- Fins de semana: atendimento exclusivo para demandas internas. A equipe do BHL orienta cada passo, explica os cuidados com a coleta e fornece os materiais necessários. O leite doado é pasteurizado e fornecido aos bebês internados na UTI Neonatal do HU-FURG.