Celebrado anualmente em 25 de outubro, o Dia da Democracia no Brasil lembra a morte do jornalista Vladimir Herzog, ocorrida sob tortura nas dependências do Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) em 1975, em São Paulo.
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A FURG, aderindo à iniciativa da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), se une na Luta pela Democracia Brasileira. O objetivo é alertar a sociedade, e em especial a comunidade acadêmica, sobre os valores inarredáveis da democracia, além de expressar o repúdio à ditadura, à tortura e à censura.
Entre as ações em andamento na universidade, está o projeto "Memórias fraturadas da ditadura em romances da literatura brasileira contemporânea”, coordenado pela professora Luciana Coronel, que envolve alunos da graduação e da pós-graduação do Instituto de Letras e Artes (ILA). A pesquisa científica, que analisa os romances que abordam o tema da ditadura militar, selecionou obras literárias onde são divulgadas as pessoas desaparecidas nesse período. Em março, vários cartazes da pesquisa foram espalhados pelo campus Carreiros, com o objetivo de ampliar a memória da ditadura junto às pessoas que circulam pelo ambiente universitário.
"O projeto nasceu de uma consciência dos riscos que a nossa democracia, tão frágil, vem correndo", explica a coordenadora. A inspiração, segundo ela, veio da Tese 6 do ensaio Sobre o Conceito de História (1940), de Walter Benjamin, que diz: "articular historicamente o passado não significa conhecê-lo como de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de perigo".
"As jornadas de 2013, o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, a iniciativa concreta do 8 de Janeiro, toda uma série de desajustes que nos fizeram passar nos últimos anos nos deram uma consciência muito lúcida de que o embate a favor da democracia precisa ser travado. Então criamos uma espécie de trincheira para promover o imaginário democrático. A literatura e as artes em geral cumprem uma função extraordinária dentro desse projeto de defesa da democracia", contextualiza a professora Luciana, ao lembrar que, no século 21, já estão cadastrados mais de 85 romances brasileiros com essa temática.
"Temos a nítida consciência do quanto os pactos democráticos do nosso país são frágeis, o quanto não tivemos justiça de transição, o quanto não fizemos devidamente o processo de memória, verdade e justiça em relação aos crimes cometidos pela ditadura, de quanto a Lei da Anistia - que é uma conquista da sociedade brasileira, pois permitiu a volta daqueles que eram perseguidos - foi interpretada no sentido de acobertar os crimes dos torturadores. Então toda essa mobilização é uma mobilização da cultura, para que (a ditadura) nunca mais aconteça, e para que a gente não esqueça do que aconteceu", afirma a docente.
Segundo ela, os extremismos foram derrotados no sentido eleitoral, mas seguem vivos no espectro político. "É preciso trilhar esse caminho do cotidiano em sala de aula e no conjunto da nossa inserção cultural para limpar o terreno dessas ameaças, e permitir que o passado passe, e que alcancemos um presente mais limpo e tenhamos a chance de um futuro mais inclusivo e libertário para o conjunto da população brasileira", considera a professora.
Conflitos e diferenças
Para Cristiano Engelke, professor do curso de Direito, o ato de celebrar o 25 de outubro "caracteriza a democracia como oposição à ditadura, e também como um espaço para a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, que era o que Herzog simbolizava; o seu assassinato representa justamente exterminar essas possibilidades". O professor também reforça a importância de praticar a democracia como um espaço de liberdade, da diversidade, da pluralidade e do respeito. "Ao mesmo tempo (a democracia) é um espaço de conflitos, de diferenças que vão conviver dentro dela. O princípio fundamental da democracia é o da igualdade, o de que todos e todas estão em igualdade de condições - ou pelo menos deveriam estar, se a democracia alcançasse a sua plenitude", analisa Engelke.
"É preciso pensar a democracia como uma forma de organização da nossa vida em todos os espaços - na família, na escola, universidade, no nosso bairro e cidade, nos espaços religiosos, recreativos. Não tem outra forma de reforçarmos e aprendermos a democracia que não seja na sua prática", finaliza o professor.