SAÚDE

Hospital Universitário e Escola de Engenharia da FURG iniciam parceria para desenvolver tecnologias assistivas aos pacientes do SUS

Ação conjunta entre Terapia Ocupacional e curso de Engenharia Mecânica prevê soluções personalizadas para reabilitação de pacientes internados

Foto: Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh
 
 Como a engenharia pode auxiliar no cuidado com pacientes hospitalizados? Essa pergunta começou a ganhar respostas a partir de uma aproximação entre a Escola de Engenharia (EE) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e o Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr. (HU-FURG), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). A parceria envolve a Terapia Ocupacional do HU-Furg e o Laboratório de Protótipos do curso de Engenharia Mecânica e visa a desenvolver de tecnologias assistivas voltadas à reabilitação e ao cuidado de pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
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O primeiro passo dessa colaboração ocorreu no dia 26 de junho, durante uma palestra na FURG com o tema “Terapia Ocupacional e o uso da Tecnologia Assistiva no processo de reabilitação”. A atividade foi promovida pelo projeto Desafio Criativo, que há cinco anos reúne estudantes da Engenharia Mecânica para propor soluções para pessoas com deficiência, neurodivergentes, pacientes crônicos ou em recuperação. A presença das terapeutas ocupacionais do HU-FURG permitiu apresentar demandas reais do Hospital, despertando o interesse dos alunos em transformar os desafios clínicos em projetos tecnológicos.
Essa articulação entre Universidade e HU valoriza a atuação da equipe multiprofissional e fortalece o cuidado centrado no paciente, com impactos diretos na qualidade da assistência prestada no SUS. Segundo a chefe da Unidade Multiprofissional do HU-FURG, Graziana Nunes, “A parceria entre a saúde e a engenharia é um pilar fundamental para fortalecer o cuidado centrado no paciente por permitir ir além das soluções prontas e mergulhar nas necessidades reais e diárias de cada indivíduo”. Ela explicou como essa colaboração funciona na prática:
  • Identificação precisa das necessidades: “Como profissionais da saúde, estamos na linha de frente, vivenciando os desafios que os pacientes enfrentam, seja na mobilidade, na comunicação ou na realização de atividades básicas. Enxergamos as dificuldades de forma íntima. A engenharia, por sua vez, entra com a capacidade técnica e a criatividade para transformar essas observações clínicas em soluções tangíveis”.
  • Desenvolvimento de soluções personalizadas e inovadoras: “Muitas vezes, os dispositivos disponíveis no mercado não atendem plenamente às particularidades de um paciente ou às especificidades do nosso ambiente hospitalar. A engenharia nos capacita a cocriar desde órteses adaptadas, equipamentos de auxílio à locomoção mais ergonômicos, até sistemas de comunicação que facilitam a interação. Isso significa que estamos projetando não para o paciente, mas com o paciente, colocando suas preferências, conforto e autonomia no centro do processo de design”.
  • Melhora direta na qualidade de vida e autonomia: “Um dispositivo bem projetado e customizado pode fazer uma diferença enorme na vida do paciente, aumentando sua independência, reduzindo a dor, facilitando a reabilitação e, consequentemente, melhorando sua autoestima e engajamento no tratamento. Não é somente sobre função, mas sobre dignidade e humanização do cuidado”.
  • Otimização de recursos e tempo: “Ao ter a capacidade de desenvolver soluções internamente, podemos otimizar o uso de recursos, reduzir custos e acelerar o acesso a dispositivos essenciais. Isso libera tempo para que a equipe de saúde se concentre ainda mais no cuidado direto, sabendo que as ferramentas de apoio estão sendo desenvolvidas de forma inteligente e eficiente”.
Para Graziana, “Essa interprofissionalidade quebra silos e permite construir pontes onde antes havia lacunas, resultando em um cuidado que é verdadeiramente mais individualizado, eficaz e humano”. Além disso, é importante salientar que as chamadas tecnologias assistivas são recursos, equipamentos, produtos ou sistemas que contribuem para a funcionalidade de pessoas com limitações motoras, cognitivas, sensoriais ou múltiplas. Elas podem incluir desde adaptações simples até dispositivos mais complexos, sendo importantes para a promoção da independência, autonomia e da participação social.
 
Integração entre ensino e cuidado em saúde
 
No dia 8 de julho, os estudantes realizaram uma visita técnica às UTIs Pediátrica e Adulto e à Unidade de Clínica Médica (UCM), onde observaram de perto o ambiente hospitalar. A visita marcou o início da fase prática da parceria, com a construção de propostas voltadas à realidade dos pacientes do SUS.
Para as terapeutas ocupacionais, Eliane Caldas da Silva e Ana Cristina Santos Da Silva Bertasi, “A troca foi extremamente enriquecedora. Os alunos saíram motivados e cheios de ideias para desenvolver projetos que possam atender às reais demandas dos profissionais da saúde e, principalmente, dos pacientes. A expectativa é de que esse encontro seja o início de futuras colaborações interdisciplinares, com impacto direto na melhoria da qualidade de vida e da assistência hospitalar. Visto que esta abordagem personalizada potencializa os resultados do tratamento, contribuindo para um cuidado mais humano, eficaz e inovador”.
Para Graziana, a parceria com a Engenharia Mecânica é estratégica para qualificar a assistência aos pacientes do SUS em diversas frentes:
  • - Acesso à inovação e tecnologia: “Como um hospital universitário que atende exclusivamente usuários do SUS, temos a responsabilidade de oferecer o melhor cuidado possível. Essa iniciativa nos permite trazer inovação tecnológica de forma acessível para a realidade do sistema público de saúde. Isso possibilita aos nossos pacientes, ao invés de depender da compra de produtos caros e muitas vezes genéricos, terem acesso a dispositivos criados na própria FURG, além de possibilitar aos alunos a oportunidade de ter este contato direto com o usuário dos seus produtos”.
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  • - Soluções efetivas e sustentáveis: “Um dos grandes desafios do SUS é a gestão de recursos. Ao desenvolvermos dispositivos e adaptações com a engenharia, temos a chance de criar soluções que são não apenas eficazes, mas também mais econômicas e adaptadas à nossa realidade orçamentária. Isso significa que podemos oferecer um nível de cuidado de alta qualidade para um número maior de pacientes, de forma sustentável, evitando a dependência de aquisições externas que podem ser onerosas ou demoradas”.
  • - Melhora contínua de processos e desfechos clínicos: “A engenharia traz uma mentalidade de otimização de processos e design thinking. Essa abordagem é aplicada ao desenvolvimento de dispositivos que não só beneficiam o paciente, mas também otimizam a rotina da equipe de saúde, tornando os procedimentos mais seguros, rápidos e eficientes. Isso se traduz diretamente em melhores desfechos clínicos, menor tempo de internação e uma experiência mais positiva para o usuário do SUS”.

 

  • - Formação de profissionais do futuro: “Sendo um hospital universitário, temos um papel crucial na formação de novas gerações. Essa colaboração não é apenas sobre produtos, mas sobre a criação de uma cultura de interdisciplinaridade e inovação. Estamos capacitando futuros profissionais de saúde e engenharia a pensarem de forma integrada, a resolverem problemas complexos e a desenvolverem empatia para as necessidades do paciente. Isso eleva o padrão de formação e, consequentemente, a qualidade da assistência que será prestada no futuro”.
  • - Impacto social e reconhecimento: “Ao demonstrar a capacidade de gerar soluções inovadoras e de alto impacto social, o HU-Furg reforça seu papel de excelência e referência no cuidado à saúde pública. Isso não apenas atrai talentos, mas também pode abrir portas para novas parcerias e investimentos, qualificando ainda mais a assistência oferecida à comunidade atendida pelo SUS”.
 
Graziana completou que “Essa iniciativa é um claro exemplo de como a interdisciplinaridade pode transformar desafios em oportunidades, elevando a qualidade do cuidado e a vida dos nossos pacientes do SUS”. Para o professor do Laboratório de Protótipos, Lauro Roberto Witt da Silva, “Ao longo dos últimos anos, temos desenvolvido projetos conceituais para atender demandas na área de saúde. Assim, treinando os engenheiros mecânicos para a atuação comprometidos com a saúde e a cidadania”.

 

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Coordenadoria de Comunicação Social do HU-FURG/Ebserh