PIONEIRISMO

CCMar sedia primeira reunião da Comissão Especial de Saúde Mental do RS

Rio Grande é a primeira cidade a receber uma audiência pública da iniciativa

Foto: Hiago Reisdoerfer/Secom

No início do mês de outubro, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aprovou a criação da Comissão Especial de Diagnóstico da Saúde Mental, ação proposta pelo deputado Halley Lino. Nesta última quinta-feira, 27, o Centro de Convívio dos Jovens do Mar (CCMar), em Rio Grande, sediou a primeira audiência pública, oriunda dessa iniciativa. Durante a reunião estiveram presentes representantes de diversos segmentos sociais, entre eles a reitora Suzane Gonçalves, representando a FURG.

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De acordo com a justificativa da proposta, a iniciativa visa propor estratégias públicas e coletivas para o enfrentamento da crise emocional que atinge o Estado em razão de eventos traumáticos recentes, como a pandemia de COVID-19 e a grande enchente de 2024. Com a proposta de debater o tema em esfera ampliada, para diferentes setores e espaços da sociedade, a reitora destacou em sua fala a importância da discussão da saúde mental a partir do ambiente universitário.

“Entendo que o meu papel aqui, nesse momento, parte desse espaço de fala. A questão do adoecimento e do sofrimento psicológico no ambiente universitário é um problema em nível global. Nós não estamos falando de uma situação que é localizada no Brasil, ou apenas no Estado, mas sim de uma vivenciada no mundo todo. Os índices de adoecimento mental, com relação à população universitária, não se reduzem apenas aos estudantes, mas também a todos os servidores e trabalhadores da instituição, e esses levantamentos apresentam dados elevadíssimos em diversos países como o Reino Unido, a Índia, Estados Unidos e o Canadá”, inicia Suzane.

Para o deputado, a ação é uma forma de enfrentar os desafios da atualidade por meio da construção de políticas públicas e por meio de iniciativas perenes, que possam fortalecer o sistema de saúde público para promover o acesso de forma equânime. “É preciso primeiro admitir que, nos dias de hoje, a nossa sociedade está doente e os números mostram isso. O Estado precisa tratar dessa questão com prioridade absoluta, porque não existe desenvolvimento, não existe reconstrução e não existe futuro sem cuidar da mente, das emoções e principalmente das pessoas”, aponta Halley. 

Sobre o grupo

Instalada no dia 28 de outubro, a comissão especial tem 120 dias para concluir seus trabalhos, que envolvem desde o diagnóstico de situações específicas até o diálogo e articulação com entidades públicas e privadas para a construção de projetos e propostas robustas. “É um desafio gigantesco, mas também uma oportunidade histórica para mudar a forma como tratamos a questão”, completa o deputado.

Origem da iniciativa

De acordo com o proponente, o projeto da comissão foi concebido considerando os impactos mentais deixados pela passagem dos eventos extremos que atingiram o Estado em 2023 e 2024, assim como aqueles causados pela pandemia que assolou o mundo no início da década de 2020. Essas marcas, além de sentidas na infraestrutura, no setor produtivo, na educação e na lógica organizacional da sociedade, também afetaram a vida emocional de toda uma população. Aliado a isso, o trabalho foi acelerado em razão dos episódios acontecidos na FURG em setembro deste ano, que ainda deixam profundas cicatrizes na comunidade universitária.

Na FURG, a saúde mental dos estudantes na graduação vem sendo monitorada por meio da pesquisa Sabes Grad, aplicada pelo professor do curso de Psicologia, Lauro Demenech, há mais de dez anos. A ação, fruto de suas pesquisas de mestrado e doutorado, tem como foco a saúde mental dos estudantes universitários na FURG e no Brasil. Durante a reunião, a reitora apresentou alguns dos dados mais recentes nesse âmbito, que apontam relações significativas no aumento do adoecimento mental pós-pandemia.

“Esse, para nós, é um dos dados mais alarmantes. Depois de 2021, ou seja, depois do período pandêmico, o índice de risco de suicídio praticamente não diminuiu, reduzindo de 17% para 16,2% em quatro anos, ou seja, é uma mudança insignificativa, especialmente quando a expectativa é de que esse dado sofra uma queda perceptível. Portanto, é importante ressaltar a relevância desse estudo que, para nós, enquanto gestores, nos aponta a necessidade de focarmos e pensarmos ações de saúde mental em momentos e situações diferentes”, explica Suzane.

Na FURG, uma das ações realizadas em setembro foi a instalação do Comitê Gestor de Saúde Mental, grupo responsável por conceber a Política Institucional de Saúde Mental na Universidade. “Em seguida, ampliamos essa comissão com a participação estudantil e trouxemos a inserção de representantes de diferentes áreas do conhecimento e de cursos da nossa Universidade, para que pudessem contribuir para a construção desse documento”, completa a reitora.

O trabalho do comitê iniciou a partir de um conjunto de escutas e levantamentos de dados para que fosse concebido um texto base da vindoura política, o qual será socializado e discutido nas esferas consultivas da instituição ainda em 2025. O grupo também foi responsável por produzir uma série de materiais de orientação para professores, técnicos e estudantes, considerando o cenário de posvenção, e, também, realizou a formação de mais de 300 profissionais da instituição em primeiros socorros psicológicos.

Em linhas gerais, a intenção da comissão é pensar inicialmente sobre a capacitação de equipes, criação de protocolos, acolhimento emocional e a articulação com as universidades do Rio Grande do Sul e os mecanismos de saúde públicos para suporte psicológico comunitário. Além disso, é por meio de ações como essa que se cria a possibilidade de alocação de recursos, qualificando o processo e as infraestruturas envolvidas. Em breve, outras cidades também receberão audiências públicas para tratar das especificidades das suas regiões.

 

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Rio Grande é a primeira cidade a receber uma audiência pública da iniciativa

Hiago Reisdoerfer/Secom