Recentemente, a confirmação de um caso de gripe aviária em galinhas de criação no município de Montenegro, e em cisnes e patos no Zoológico de Sapucaia do Sul, ambos os locais situados na região metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, reacendeu os debates sobre a doença no país. Causada por um vírus do tipo Influenza A, a gripe aviária de alta patogenicidade já vem ganhando atenção internacional nas últimas décadas, impulsionada por surtos que afetaram criações comerciais, aves silvestres e, em casos isolados, até seres humanos.
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“A doença está circulando há alguns anos na América do Norte, onde o problema é bem grande, inclusive chegou a afetar o gado bovino, o que gerou por consequência o abate de milhões de aves. Na América do Sul, voltou-se a identificar cepas de alta patogenicidade há uns dois anos; mais especificamente no Brasil, tivemos a primeira detecção do vírus por volta de 2022, sendo o Taim um dos locais com registro em cisnes-do-pescoço-preto, com um alto registro também ao longo da costa. Na ocasião várias espécies de aves marinhas foram afetadas e até mesmo leões-marinhos”, detalha o professor.
Diferenças no comportamento do vírus
Como mencionado anteriormente, embora seja tratado como um significativo problema sanitário, a gripe aviária apresenta comportamentos distintos dependendo do nível de patogenicidade. De um lado, os vírus de baixa patogenicidade (LPAI – Low-Pathogenicity Avian Influenza) costumam provocar infecções brandas, muitas vezes assintomáticas. Nas aves, os sinais são sutis e se apresentam, normalmente, por meio de uma leve queda na produção de ovos, penas arrepiadas e discreta apatia. Essa característica faz com que o vírus circule de forma silenciosa, e, embora o impacto prático seja pequeno, essa versão do patógeno pode sofrer mutações e se transformar em uma variante muito mais agressiva.
É justamente nesse ponto que surge o alerta para o vírus de alta patogenicidade (HPAI). Nesta condição o vírus passa a provocar impactos mais devastadores, com mortalidade que, em criações comerciais, pode ultrapassar 90%. Os sintomas nas aves são aparentes, como o inchaço na cabeça, hemorragias internas, dificuldade respiratória, e, por vezes, morte súbita. Ao atingir o sistema nervoso, causa movimentos involuntários do pescoço e cabeça, muitas vezes nadando ou rodando em círculos. O impacto econômico é severo, com a necessidade de abate sanitário de milhares de aves e restrições comerciais impostas por países importadores.
Além dos impactos para a agroindústria, a variante de alta patogenicidade também acende alertas na área de saúde pública. Ainda que a transmissão para humanos seja rara, ela pode afetar especialmente trabalhadores expostos a aves infectadas, com subtipos como o H5N1 sendo responsáveis por casos fatais em diferentes países. O Ministério da Agricultura e Pecuária - MAPA ressaltou, em recente nota, que o consumo de carne e ovos é segura.
Neste sentido, o principal desafio global reside na detecção precoce dos focos da gripe de alta patogenicidade, buscando evitar a disseminação do vírus para formas mais letais. Medidas como monitoramento de aves migratórias, controle rigoroso nas granjas e protocolos de biossegurança são ferramentas essenciais para frear o avanço da doença. Na FURG, o Laboratório de Aves Aquáticas e Tartarugas Marinhas, liderado pelo professor Bugoni, embora não pesquise diretamente a doença, acaba, por vezes, lidando com espécies e amostras suspeitas.
“A gente não pesquisa especificamente o vírus da gripe, especialmente em razão de não termos um laboratório na FURG com o nível de biossegurança necessário para analisar esse material, mas sempre mandamos as amostras, com ou sem suspeitas, para a USP, que conta com um laboratório parceiro habilitado. Com isso podemos ter uma ideia mais clara sobre a contaminação das amostras, protegendo a equipe e, por consequência, alterando quando preciso a maneira de lidar com a amostra”, aponta o professor.
No entanto, ainda que o grupo não consiga estudar diretamente o vírus, o alto volume de pesquisas com diferentes espécies de aves, como pinguins, cisnes, tachãs e biguás, por exemplo, em regiões como o Taim, estuário da Lagoa dos Patos e até mesmo Antártida, faz com que os pesquisadores estejam alertas em caso de aparição do patógeno. “A natureza do nosso trabalho nos coloca em um papel de vigilância constante. Mesmo que a gente não tenha, na prática, estrutura dedicada para investigar o vírus em si, o simples fato de estarmos atentos aos sinais e características das aves que chegam até nós, nos permite acionar de forma rápida os órgãos de segurança sanitária, em caso de alguma suspeita. É uma contribuição indireta, mas extremamente importante dentro desse sistema de alerta precoce que ajuda a proteger tanto a fauna quanto a saúde pública”, explica o professor.
Sobre o caso em Montenegro
De acordo com a agência britânica de notícias, Reuters, o primeiro caso confirmado de gripe aviária (H5N1) no Brasil aconteceu neste mês de maio, em uma granja comercial situada na cidade de Montenegro, no Rio Grande do Sul. O caso acionou um trade ban – prática de comércio internacional que cessa temporariamente operações de um gênero específico entre países – e, também, uma série de ações internas para a contenção do vírus, como a destruição de aproximadamente dois mil ovos produzidos pela granja, além do abate preventivo morte de cerca de 15 mil aves.
O Ministério da Agricultura do Brasil e a Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul criaram uma força-tarefa na cidade para evitar a propagação do vírus, com ações envolvendo o monitoramento de 524 propriedades em um raio de 10 quilômetros da granja. Além disso, foram instaladas sete barreiras de desinfecção na área, realizando a lavagem preventiva de veículos que trafegam pelo local.
Na última terça-feira, 20, o Ministério da Saúde emitiu uma nota descartando o caso suspeito de Influenza Aviária em um trabalhador da granja. O teste foi conduzido pela Fiocruz, em um laboratório de referência para este tipo de análise. Até o momento de publicação desta notícia não há outros casos suspeitos ou em investigação em humanos no país.