ROBÓTICA

Embarcações autônomas e portos inteligentes é tema de Workshop nesta quinta-feira, 24

Evento é o primeiro no país a abordar o assunto neste formato

Foto: Hiago Reisdoerfer/Secom

Aconteceu na manhã e tarde desta quinta-feira, 24, o 1º Workshop em Embarcações Autônomas e Portos Inteligentes do Brasil. O evento é organizado pelo Centro de Ciências Computacionais (C3) da FURG, e faz parte das atividades do Robótica 2019. Na oportunidade, foram debatidas formas de implementação de novas tecnologias para a automatização de portos inteligentes. Na oportunidade, participaram dos painéis temáticos representantes de terminais do Superporto - como o Tecon Rio Grande e a Yara -, projeto Sistema de Monitoramento da Costa Brasileira (Simcosta), parque tecnológico da FURG, Marinha do Brasil, Universidade de São Paulo (USP), Petrobrás e Centro de Ciências Computacionais (C3) da universidade.

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Sobre o evento

Contando com lotação máxima do auditório João Rocha, da FURG, o Smart Seas 2019: Workshop em Embarcações Autônomas e Portos Inteligentes, foi o primeiro evento realizado no Brasil sobre o tema neste formato. Com abertura marcada para as 8h30 da manhã, as atividades iniciaram pontualmente com a composição da mesa de abertura, formada pelo vice-reitor Danilo Giroldo, pelo assessor de gestão do Parque Tecnológico da FURG (Oceantec), Artur Gibbon, e pelo Superintendente do Porto do Rio Grande, Fernando Estima. Na ocasião, as autoridades aproveitaram o momento para ressaltar a relevância de discutir o tema, bem como, o legado que este evento – aliado ao Robótica 2019 -, deixará para a universidade em termos de pesquisa e reflexão acerca de um futuro próximo.

“Estamos vivendo uma semana intensa em termos de tecnologia. Recebemos neste meio tempo estudantes de todo Brasil e também de outros países da américa latina, e por isso, temos neste momento uma efervescência de pensamentos e concepções sobre o tema em todos os cantos da universidade”, apontou o vice-reitor em sua fala. O professor aproveitou, também, para ressaltar a vocação marítima da FURG como uma das grandes motivações para a realização do evento. “Sendo a nossa matriz produtiva fortemente apoiada no setor marítimo e no setor portuário, é de extrema importância a apropriação de todo avanço tecnológico, principalmente em função de que nossa região é extremamente dependente desses modais produtivos. Assim, é nosso papel estar na vanguarda de todo esse desenvolvimento, enfrentando os muitos desafios que se apresentam ao longo desse percurso, sejam elas em termos de educação básica ou de capacitação e qualificação da mão de obra necessária para a implementação desses objetivos”, concluiu.

A discussão: Portos Inteligentes

Iniciando o painel “Portos Inteligentes”, a mestre em Oceanografia Física, Química e Geológica, Ella Soares Pereira, pesquisadora do Instituto de Oceanografia (IO) da FURG, apresentou um trabalho a respeito da implementação de uma rede de monitoramento de parâmetros meteorológicos e oceanográficos na zona costeira brasileira, buscando estabelecer padrões de variabilidade climática, tendências de longo período, para que, assim, possa modelar possíveis cenários causados por efeitos naturais e/ou antrópicos. A alternativa é uma iniciativa que envolve a automatização e implementação de soluções tecnológicas para otimizar determinados processos que fazem parte do cotidiano de modal logístico marítimo.

Na sequência, o representante do Tecon Rio Grande - empresa do grupo Wilson Sons e um dos patrocinadores do Robótica 2019 -, Giovanni Ross Phonlor, levou para a discussão o tema “Inovação e Automação em Terminal de Contêineres”. Na oportunidade, o Gerente de Sistemas trouxe para a comunidade acadêmica a polêmica discussão acerca da substituição de mão de obra humana pela automatização semi-total do terminal. “Queremos implantar uma maior automatização também no cais, eliminando o trabalho manual na atividade de descarga de contêineres”, afirmou.

O último palestrante da manhã foi o engenheiro químico Lucas Elizalde, da Yara Fertilizantes – também patrocinadora do evento -, com a apresentação “Yara 4.0: Inovação Tecnológica na operação de Fertilizantes”. Em sua fala, Lucas destacou que a grande motivação dessa transição tecnológica, na empresa, é cuidar dos colaboradores que estão inseridos no quadro operário da Yara, e, para tal, foram oferecidos cursos de atualização para todos os funcionários.

“É importante para nós estar junto a comunidade acadêmica, até porque precisamos de uma maior integração com o contexto universitário e com o contexto social. Precisamos a dar esses passos de aproximação entre a empresa e a FURG, nós já viemos de um contexto de parceria em outros formatos com o Oceantec, e a nossa presença aqui hoje é outro sinal dessa aproximação”, comenta e adiciona o palestrante “Estamos aos poucos tentando quebrar aquele sentimento humano de temer àquilo que não se conhece. É preciso que as pessoas conheçam o que são as fábricas, o que são os terminais, e nós precisamos conhecer o que é a universidade para poder casar as coisas, principalmente porque ambos podem contribuir muito para com a sociedade”.

Ainda de acordo com o engenheiro da Yara, um dos maiores desafios relacionados à atualização tecnológica da empresa não está na aquisição e operacionalidade do maquinário, mas sim ajudar nossas equipes e colaboradores a fazer essa transição. “Nós temos colegas, e eu me incluo nisso, que sempre trabalharam em uma fábrica com tecnologia da década de 80. No momento em que são implantadas tecnologias de 2019, isso demanda uma mudança de conhecimento técnico e até mesmo de atitude. Então, quando falamos nesse desafio, falamos em adaptar e ensinar as pessoas a fazer essa mudança. Nós entendemos que as pessoas são a base da empresa, e jamais devemos esquecer isso”.

Embarcações Autônomas

No período da tarde, o foco do evento repousou sobre embarcações autônomas. O tema envolve a discussão ao redor de navios e barcos não-tripulados, a serem utilizados por terminais logísticos como uma alternativa de segurança social e ambiental, uma vez que esses veículos são projetos para minimizar e até neutralizar emissões.

O primeiro navio autônomo do mundo foi lançado pela Yara Fertilizantes, em 2018. Chamado de “Yara Birkeland” e, inicialmente, tem como missão a entrega de fertilizantes ao longo de uma rota de 37 milhas ao sul da Noruega. Embora o veículo nem se compare – em termos de tamanho – às gigantes embarcações que cruzam os mares atualmente, estes navios não-tripulados são compactos, contando com uma capacidade para 100 a 150 contêineres.

Neste segundo painel, participaram da atividade representantes da Marinha do Brasil, os quais apresentaram o tema sob uma perspectiva mais voltada para as questões legais deste tipo de navegação. Em um segundo momento, também estiveram presentes pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), que apresentaram as embarcações autônomas sob a ótica da pesquisa e da implementação prática de conceitos obtidos através de inúmeros estudos realizados neste campo do desenvolvimento logístico.

Para o professor Marcelo Pias, do C3, a inovação está ligada aos níveis de maturidade de tecnologia, e parte dos problemas que se apresentam em termos de implementação e operacionalidade dessas novas ferramentas podem ser resolvidos por meio dos resultados obtidos por meio de estudos e pesquisas realizadas pelas universidades e seus pesquisadores. “Boa parte dos problemas colocados hoje pelas empresas são problemas que a gente, enquanto universidade, pode resolver dentro da escala de maturidade tecnológica. As startups, por exemplo, transformam softwares, interfaces, e devolvem para o mercado um produto otimizado. É a conexão entre o mercado e a universidade, enquanto potencial de desenvolvimento, que promove o aprimoramento tecnológico”, destaca.

O evento contou também com a presença de um engenheiro naval da Petrobrás, que conversou com os presentes acerca de regulamentações internacionais e Navios Autônomos. Sobre isso, Marcelo comenta sobre a participação da FURG junto à Organização Internacional Marítima (IMO), a qual fica responsável por regulamentar as normas necessárias para veículos e navegações em alto mar. “A FURG foi convidada, junto com representantes da Marinha do Brasil, para participar de uma delegação permanente a fim de debater diversas questões sobre o tema, mas, mais essencialmente, cabe a nós a discussão a respeito de questões de segurança das embarcações autônomas”, destaca o professor.

Universidade, sociedade e mercado – um legado para o futuro

Marcelo ficou responsável, ainda, pela realização de uma mesa-redonda sobre o tema, ao fim da tarde. Para ele, a FURG ocupa uma posição de protagonismo no que tange questões marítimas, uma vez que parte de sua estrutura e direcionamento está em consonância com sua vocação, voltada para o estudo dos ecossistemas costeiros e oceânicos. Ainda na oportunidade, o professor coloca a universidade à disposição como um alicerce dessa transformação. “Nós, enquanto ferramenta de apoio nesse processo, podemos observar a intensidade dos problemas que as empresas tem, e assim, analisar e avaliar o nível de maturidade tecnológica que esses problemas demandam. Com isso, vemos de que forma a FURG pode contribuir e o que os alunos da universidade – possivelmente àqueles ligados ao Oceantec - podem fazer para entregar a solução e o melhoramento desses processos”, concluiu.

A 17ª edição da Robótica é composta pelas competições mais indicadas em termos de análise a avaliação de resultados, bem como, integra importantes congressos científicos da América Latina acerca do tema. Anualmente, o evento é realizado em um país da América Latina, reunindo vários sub-eventos na intenção de incentivar a pesquisa e o desenvolvimento na área de robótica. Em 2019, ocorre pela primeira vez no Rio Grande do Sul, e dessa forma, deixa uma marca importante na cidade e na região, uma espécie de legado que já se mostra presente.

Para Marcelo, “O maior legado que vai ficar, primeiramente do Robótica, é que a FURG – mesmo que já trabalhando nesse tema há alguns anos - agora, após o evento, a motivação e a projeção desses estudos ganham outras proporções”, aponta e completa: “O que fica é o incentivo e a certeza de que esse ponto vai continuar brilhando e aparecendo cada vez maior no radar não só da FURG, mas de outras instituições da cidade e da região.

 

Galeria

Imagem mostra três homens, sendo um deles em pé e em posse do microfone, atrás de uma bancada

Evento reuniu especialistas, professores e comunidade acadêmica para debater sobre portos inteligentes e embarcações autônomas

Hiago Reisdoerfer/Secom