Alusivo à prevenção do suicídio desde 2015 por iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV) o mês de setembro chega ao seu fim nesta quarta-feira, 30. Na FURG, com o distanciamento social, uma série de adaptações nas atividades programadas para o ano letivo precisaram ser feitas, afetando também as iniciativas voltadas para o tema da saúde mental na universidade. De acordo com Ingrid Donald, coordenadora da Coordenação de Bem Viver Universitário (CBVU), neste setembro amarelo, ações em caráter virtual e atendimentos psicológicos online representaram uma parcela das mudanças que 2020 trouxe para a instituição.
Colégio eleitoral organizou listas tríplices para provimento dos cargos administrativos da Universidade
Divulgado segundo chamamento de aprovados no Processo Seletivo Simplificado 2024/2
Divulgada abertura das inscrições para o Processo Seletivo Próprio 2025/1
Saúde mental na pandemia
Segundo Lauro Demenech, psicólogo clínico do Centro de Atendimento Psicológico (CAP) da FURG, em função do isolamento social, o que já era complicado se intensifica. “Temos estudos que apontam a população universitária - como um todo - como um grupo de risco para sofrimentos psicológicos como: ansiedade, transtorno de humor e o próprio suicídio, foco de prevenção durante o Setembro Amarelo”, alerta e completa: “Isso se dá em função de aspectos como a pressão acadêmica, necessidade de prazos, competitividade, estresse e falta de sono, por exemplo, fatores que prejudicam a saúde mental do estudante”.
Para o psicólogo, a expectativa quanto a esse cenário, durante a pandemia, pode ser negativa, especialmente caso não seja feito nada a respeito. “Dentro desse quadro, problemas já existentes se intensificam, e, pessoas que não sofriam com fatores relacionados à saúde mental podem vir a desenvolver algum quadro”, reconhece Lauro. Segundo ele, o motivo deste impacto está no que chama de perdas objetivas e subjetivas, que explica: “A perda de entes queridos, de trabalho ou até a redução de renda representam perdas objetivas; e, projetos de vida que precisam ser adiados ou até mesmo definitivamente cancelados em função de prazos, por exemplo, são perdas subjetivas. Essas situações atípicas ou repentinas podem e estão ocorrendo durante a pandemia, desencadeando sofrimentos psicológicos”.
Prevenção: como identificar e ajudar
De acordo com Lauro, existe uma série de recomendações que servem para identificar e fornecer os primeiros cuidados que podem ser oferecidos por qualquer pessoa frente a uma situação de prevenção ao suicídio. A primeira delas é voltada tanto para quem sofre quanto para quem pode ajudar: “o estudante deve entender que ele não está sozinho, e, que pessoas que nunca sentiram dificuldades podem eventualmente encontrar alguma barreira, principalmente neste momento em que tudo é muito novo e estamos enfrentando situações que nunca vivemos antes”, elucida o psicólogo. Outra recomendação reside em desenvolver comunidades e procurar manter contato com amigos e familiares. “Seja por meio de videochamadas ou jogos online, é preciso encontrar formas de socializar de uma maneira responsável e segura”, pondera.
No que tange à ajuda, segundo Lauro, quando um estudante percebe em um colega um determinado isolamento atípico, ou nota que esta pessoa fala sobre o futuro com falta de esperança, existe aí um sinal de alerta. “Apenas perceber esse comportamento e perguntar para essa pessoa se ela está bem pode ser um importante canal de abertura para que ela informe que está sofrendo e procure ajuda”.
Ainda conforme Lauro, para o psicólogo, essa primeira escuta pode ser “pesada” para a pessoa que se propõe a ajudar, mas é importante que ela entenda que não é responsável por fazer um atendimento, mas sim ajudar a conectar a pessoa com quem possa fazê-lo. “Setembro Amarelo é um sinal de conscientização, momento em que falamos sobre o tema e, por mais que a tendência seja falar menos com o fim do período alusivo, tenho convicção que saúde mental está bastante em voga, melhor do que em tempos atrás, facilitando a abertura para falar sobre saúde e sofrimento”, analisa.
Atendimento psicológico para estudantes: presença online
De acordo com Lauro, várias adaptações precisaram ocorrer nas atividades voltadas para o tratamento e prevenção de sofrimentos psicológicos não apenas na universidade, mas no contexto global vivenciado em função da pandemia. “O atendimento online vinha em um debate de anos, sobre sua validade e os formatos que poderiam ser feitos. A pandemia acelerou esse debate, e, atualmente, o Conselho de Psicologia tem todo um direcionamento de como isso pode ser feito e, nesse momento, é uma prática inclusive recomendada”, explica o profissional.
Atualmente, o CAP oferece atendimentos em diferentes modalidades remotas como videochamadas, telefonemas, mensagens instantâneas e carta estruturada.
Ainda em temos de atendimentos oferecidos, a FURG, por meio da Coordenação de Bem Viver Universitário (CBVU), oferta atendimento psiquiátrico semanal, para estudantes residentes nas unidades CEU – Casa do Estudante Universitário, com horário marcado e em caráter presencial, conforme as devidas orientações sanitárias.
CAP: adaptação para atendimento remoto
Como principal sistema de tratamento psicológico ligado à universidade, o Centro de Atendimento Psicológico precisou passar por adaptações para que pudesse operar em caráter virtual e temporário durante o isolamento social. Segundo Lauro, em um primeiro momento foi idealizado um projeto de extensão, apenas com psicólogos formados – voluntários -, dispostos a realizar atendimentos para a comunidade em geral, mas mais especificamente para pessoas afetadas diretamente pela covid-19. “Entendemos que estagiários que começariam na clínica não teriam uma boa experiência caso nós, supervisores, não tivéssemos uma noção de como se daria esse funcionamento digital”, afirma. “Esse projeto já está acontecendo há alguns meses, e conta com cerca de 30 profissionais”.
A segunda etapa dessa adaptação consistiu na devida retomada das atividades, com o centro voltando a operar junto com a volta às aulas online, na metade de setembro. Na ocasião, os estudantes do curso de psicologia voltaram a ocupar suas posições como terapeutas na clínica, voltando a atender casos encaminhados.
Como funciona o CAP?
Arquitetado para fornecer formação profissional e prática para estudantes do curso de psicologia da FURG, o CAP conta com o apoio de psicólogos que fornecem o suporte técnico aos estudantes, garantindo a qualidade do ensino e dos atendimentos no centro, realizados quase integralmente pelos discentes. “Eu e outras três colegas psicólogas cuidamos de tudo que é necessário para que a clínica funcione, incluindo o referenciamento com toda rede de saúde e educação do município. Dessa forma os casos que precisam de atendimento podem acessar a clínica, chegando nos alunos”, afirma Lauro.
O CAP conta também com o atendimento dos próprios psicólogos, principalmente para que o serviço não fique superlotado, garantindo e assegurando condições ideais para que os discentes possam desenvolver suas capacidades em condições favoráveis de aprendizado.
Quanto aos atendimentos oferecidos pelo centro, a clínica só recebe casos por meio de encaminhamento. De acordo com Lauro, por ser uma clínica escola, a demanda de serviço é controlada, uma vez que, em média, participam do CAP de 30 a 40 discentes terapeutas por ano, atendendo de três a cinco pacientes cada. Com base nesse cálculo, é feito um dimensionamento do número de atendimentos disponíveis.
A instrução para quem busca atendimento pelo centro é acionar uma via de encaminhamento, como a Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (Prae), que realiza uma primeira triagem para, posteriormente, encaminhar o aluno para o melhor tratamento conforme a sua necessidade.
Atendimento online para servidores
Como parte da comunidade acadêmica, os servidores da universidade também têm acesso ao acolhimento psicossocial remoto fornecido pela instituição, de uma forma diferente. Segundo a assistente social da Diretoria de Atenção à Saúde (DAS) da FURG, Jéssica Silva de Ávila, os servidores que necessitarem de auxílio psicológico deverão procurar o acolhimento psicossocial, ação em caráter permanente que compreende esse extrato técnico da instituição. “Percebemos, em função do trabalho remoto, que ficamos sem um canal direto com os servidores, diferente de quando estávamos trabalhando presencialmente, E assim chegamos nessa iniciativa”, afirma Jéssica.
O atendimento funciona por meio de um formulário via google, em que o servidor se cadastra e responde uma série de perguntas básicas, as quais informarão para a equipe responsável quais os próximos passos na triagem e atendimento daquela pessoa. O trabalho é desenvolvido pela equipe psicossocial da Pró-reitoria de Gestão de Pessoas (Progep), e é formada por uma assistente social e uma psicóloga da DAS, juntamente com as duas psicólogas da Coordenação de Psicologia Organizacional da FURG. “Essa ação não é uma terapia ou atendimento psicológico imediato, mas sim um momento para acolher a demanda e fazer o devido encaminhamento”, explica Jéssica.
A equipe psicossocial realiza, também, um processo de capacitação em saúde mental, responsável pela organização e realização de duas webconferências no mês de setembro. Em Julho, a equipe lançou uma pesquisa sobre saúde mental para os servidores da universidade, com a finalidade de compor um relatório para pautar suas ações de maneira direcionada e eficiente.
Engajamento online: lives
Além do atendimento remoto, a universidade promoveu durante o mês de setembro uma série de transmissões ao vivo por meio de plataformas digitais. “Estamos trazendo psicólogos dos diversos campi da universidade para essas lives, que acontecem com determinada frequência, contando também com a participação de alunos e professores. Estamos contentes com o resultado”, expõe a coordenadora da Coordenação de Bem Viver Universitário, Ingrid Donald.
Para Ingrid, o grande desafio dessa adaptação virtual das atividades consiste na distância. “Nosso trabalho é realizado com base na interação. Na proximidade, e estarmos distantes fisicamente, nesse momento, é o que não estamos acostumados a fazer”, explica.