ACOLHIDA CIDADÃ

Semeadura de árvores nativas impulsiona preservação ambiental

Grupo semeou mais de 400 sementes de corticeira, que serão plantadas no campus Carreiros e outros locais

Foto: Luisa Costa

Uma das atividades de Acolhida Cidadã 2025 terá reflexo duradouro na vida de quem passar pelo campus Carreiros da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e na vida da comunidade em geral. A semeadura de árvores nativas envolveu em torno de 50 estudantes, entre calouros e veteranos, e agora as mais de 400 sementes de corticeira-do-banhado, semeadas em vasos durante a atividade, crescem para o posterior plantio. A espécie, que, dependendo das condições, chega a viver mais de 80 anos, poderá ser contemplada por diferentes gerações.

Quem explica como irá funcionar o processo de plantio é a técnica de laboratório, envolvida na atividade, Caroline Igansi Duarte. "As mudas resultantes desse plantio serão cultivadas no nosso viveiro até a época adequada para o plantio definitivo, que irá prioritariamente ser feito em área de preservação do Campus Carreiros. Os locais para o plantio serão indicados pela equipe do Horto e a equipe da Gestão Ambiental da universidade. São atividades de plantio que devem ser muito bem planejadas e autorizadas pelos órgãos responsáveis de Gestão Ambiental, porque envolve o plantio de uma espécie que é imune ao corte no município", afirma.

De acordo com Caroline, as mudas que não forem plantadas no campus, serão doadas à comunidade em ações de extensão, feitas em parceria com movimentos sociais, como o Movimento Rio Grande Quer Verde e a Secretaria de Município do Meio Ambiente. A atividade envolveu estudantes dos cursos de Biologia - Licenciatura e Bacharelado e Gestão Ambiental. Além da semeadura, foram realizadas trilhas em Áreas de Preservação Permanente (APPs), no campus Carreiros, e visitação aos espaços envolvidos com a ação de acolhida, como viveiros e laboratório.

A proposta foi tão atrativa, que despertou interesse de estudante de outra instituição. Gustavo Santana cursa Biologia - Bacharelado na Unifatecie, na modalidade totalmente à distância, viu a oportunidade pelo Instagram e não perdeu a chance de participar. "Pessoalmente, pra mim, esse é um desafio muito grande, porque sempre fui apaixonado por ciências biológicas desde criança, mas, com o passar do tempo, acabei indo morar sozinho muito cedo, comecei a trabalhar cedo e não tive oportunidade para fazer uma faculdade presencial. O que mais sinto falta no curso é o contato com as pessoas. A troca de conhecimento é uma sensação única e maravilhosa. Além do sentimento muito bom que fica, a gente também aprende com as pessoas. Ainda por cima, a gente cria amizade duradoura e, para a vida profissional de um biólogo, a gente acaba criando uma rede de contato muito confiável. Isso é muito bom e, com toda certeza, participar dos projetos presenciais como a trilha interpretativa e a oficina de semeadura me motiva muito a seguir com a graduação", conta.

Ele não conhecia presencialmente o Herbário da FURG, apenas pelo Instagram, e acredita que sua participação é exemplo do quanto o projeto está crescendo e alcançando mais pessoas. Quanto à experiência, considera incrível. "Não só pelo recebimento maravilhoso que eu tive do pessoal lá do Herbário e da botânica. As explicações que eles deram sobre as espécies que a gente ia encontrando pela trilha, pelo meio do caminho, era sempre muito incrível, muito criativo. Era muito agradável de se ouvir e deixou um clima muito descontraído. As pessoas gostaram mesmo de estar lá e a organização do evento foi impecável."

Para Gustavo, atividades como essa têm um significado especial. "A trilha interpretativa que a gente realizou, junto com o plantio das mudas, simboliza o nosso compromisso com a natureza. Daqui a alguns anos, a liderança do planeta não vai estar mais na mão da nossa geração passada, ela vai estar na mão da nossa geração. Já é responsabilidade nossa garantir que as próximas gerações também herdem um mundo preservado. A conscientização ambiental é fundamental para a gente poder construir um futuro onde a humanidade o planeta coexistam em harmonia", considera.


Troca de conhecimentos

Bolsista no Herbário e integrante do Centro Acadêmico (Cabio), o estudante de Biologia - Bacharelado da FURG, Marcelo Henrique Mandagará André, ressalta que a participação de Gustavo na atividade demonstra o quanto é possível contribuir com o conhecimento, não só na ação de plantio, mais na visitação ao laboratório, onde o estudante da outra instituição teve a oportunidade de utilizar pela primeira vez o microscópio. "Pra gente algo tão rotineiro, só que para as pessoas que são de outros cursos, ou que não têm a modalidade presencial, pode ser uma experiência totalmente nova."

Marcelo destaca ainda a troca de experiências com um aluno de Gestão Ambiental, que atuou na biblioteca e expôs as semelhanças entre a catalogação dos livros e a organização dos números de tombo da coleção do Herbário, fazendo sugestões. "É exatamente isso que torna as ações importantes. Não é só nós passando o conhecimento, mas sim, fazer essa troca, onde todo mundo aprende um pouco", diz.

Conforme Marcelo, o melhor de ações como essa é justamente poder compartilhar conhecimentos com os calouros e veteranos dos três cursos, além de observar o primeiro contato e o entusiasmo dos calouros com as atividades de conservação feitas na universidade, tanto na trilha, como no plantio e na apresentação do Herbário. Ele enfatiza o quanto a curiosidade e o encanto dos participantes podem ser despertados, a partir das explicações, como na relação de mutualismo entre a figueira e a vespa do figo, apresentada durante a trilha pela técnica Caroline. "É algo que está bem perto da gente, mas muitas vezes acaba passando despercebido. Um processo bem complexo que acontece todo momento durante a floração do figo."

A expectativa é de que os participantes continuem apoiando as ações de conservação ambiental. "Sempre aparecem novas oportunidades e a gente está sempre postando no Instagram todas essas ações que são abertas para a comunidade e para os alunos em si. Pelo interesse deles nessa primeira experiência, acredito que eles estarão junto nas próximas ações."

Mestrando em Biologia de Ambientes Aquáticos Continentais, Daniel Burd Villanova guiou a trilha e conversou com os novos estudantes, pedindo apoio para a manutenção desse trabalho de cuidado com áreas verdes do Campus Carreiros. Formado em Ciências Biológicas - Licenciatura pela FURG, ele atuou de forma voluntária, por dois anos, no monitoramento do plantio de espécies nativas na área de preservação do Lago Polegar, enquanto cursava a especialização em Diversidade Vegetal na universidade e segue acompanhando os trabalhos.

Sobre a experiência voluntária e o contato com os calouros a cada atividade, como as oficinas de semeadura, conta que não trocaria por nada. "Um crescimento pessoal, que não é estimável o valor. Chego até quase a me emocionar falando isso. É com imenso prazer tudo o que faço e acredito que todo mundo nesse laboratório que está engajado nessas oficinas faz com todo o prazer também. Sempre ao final das oficinas, a gente vê que foi um trabalho importante, ao ver os alunos novos chegaram e terem esse ânimo, verem os resultados, das nossas plantas crescendo, tantas que morreram, quantas que sobreviveram... Isso é muito incrível. Então não troco essa experiência que tive sem bolsa por nada. Agora estou em outra área, porém, continuo sempre vinculado a isso e espero que, futuramente, com outros alunos, fique em boas mãos esse plantio", afirma.

Para Daniel, muita informação que não é de conhecimento popular desperta interesse em grande parte dos alunos, o que estimula a realização das ações. "O brilho nos olhos deles enquanto estão nos acompanhando durante esse processo... Isso de certa forma nos dá um ânimo para continuar adiante, ver como as pessoas novas chegam com interesses, com sede de aprendizado. Temos muito a compartilhar. A ciência não pode ficar apenas no meio acadêmico, mas sempre passar informação e convidar pessoas novas para vir nos auxiliar e auxiliar a natureza, a FURG, sensibilizar pessoas novas a respeito do nosso ecossistema, a necessidade de cuidar dele e cuidar da forma correta", considera.

Além dos projetos envolvidos, Daniel destaca que as ações de plantio também são vinculadas ao trabalho de doutorado de Ana Roschildt, orientada pelo professor Junior Borella e co-orientada pela técnica Caroline.

A ação de acolhida foi realizada no final de março e organizada pela equipe de dois projetos do Instituto de Ciências Biológicas (ICB/FURG): Herbário da Universidade do Rio Grande (HURG): Coleções botânicas como ferramenta na conexão Escola x Comunidade x Universidade e O Futuro das Nossas Florestas: Ações Para Proteção das Florestas Ciliares e Paludosas da Região Sul do Brasil. Além do ICB, com o Viveiro de Espécies da Flora Nativa, Laboratório de Florística e Herbário, a atividade também envolveu o Centro Acadêmico de Ciências Biológicas (Cabio) e o Diretório Acadêmico de Gestão Ambiental (Daga), parceiros na divulgação da atividade e acolhida aos novos estudantes.

 

Corticeira-do-banhado

A corticeira-do-banhado (Erythrina crista-galli) é uma espécie de leguminosa nativa no Brasil e nas regiões próximas como Uruguai, Paraguai e Argentina. É também conhecida como sananduva (do tupi) e crista de galo, entre outras. Fornece abrigo para plantas e alimento para pássaros e insetos, principalmente as abelhas. De pequeno porte, é característica de ambientes alagados e indicada para solos alagadiços ou úmidos.

É muito utilizada em paisagismo, de forma ornamental. Na Argentina e no Uruguai, sua flor avermelhada se tornou flor nacional e símbolo. As mudas atingem porte adequado para plantio cerca de 6 meses após a semeadura. Saiba mais aqui.

Ouça a reportagem especial para a FURG FM no link abaixo. 

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Galeria

Estudantes no jardim didático e experimental

Luisa Costa