Na manhã desta última quinta-feira, 2, o Centro de Recuperação de Animais Marinhos da FURG (Cram) realizou a soltura de pinguins-de-Magalhães e lobos-marinhos-do-sul, reabilitados pela equipe, na praia do Cassino. A ação foi realizada em parceria com o Exército Brasileiro, responsável pelo transporte logístico dos animais.
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Segundo o diretor do Complexo de Museus da FURG - e um dos idealizadores do Cram -, Lauro Barcellos, a ação é recebida com grande satisfação pela equipe, uma vez que o ato é de extrema importância e coroa o trabalho realizado durante a reabilitação. “O que nós vamos realizar hoje é, na realidade, quase que uma cerimônia, uma solenidade de recondução dos animais que vocês trataram e que foram cuidados por vocês. Essas vidas foram recuperadas e salvas graças à bondade, ao trabalho, à dedicação, ao estudo e a todo o empenho que vocês têm diariamente”, discursou o gestor na ocasião.
Processo de reabilitação
Os animais foram encontrados na faixa de areia, debilitados, fracos, cansados, magros, anêmicos, hipotérmicos e desidratados. “Quando chegam na reabilitação, realizamos os atendimentos de acordo com protocolos específicos que orientam o tratamento desses animais. Esses processos contemplam atividades relacionadas à fluidoterapia, para que eles tenham a sua reposição eletrolítica; e um manejo alimentar baseado nos itens alimentares preferenciais de cada espécie, que começam de forma gradativa”, comentou Paula.
No início, os animais recebem uma alimentação com papa de pescado, e, de forma gradativa, vão recebendo o alimento sólido, com a inserção de estímulos para a alimentação de forma voluntária. “Nós fazemos uma suplementação vitamínica, nutracêutica, para que esses animais restabeleçam as suas condições de saúde”, complementou.
Além do tratamento alimentar, os animais em reabilitação também passam por um processo de terapia medicamentosa, prescrito pelas médicas veterinárias da equipe. Em seguida, suas condições sanitárias são avaliadas.
Ao chegarem no Cram - e durante todo o processo de tratamento – os animais passam por um exame físico para verificar se há presença de lesões ou fraturas. Em seguida, são realizadas avaliações de condição corporal, pesagem, parâmetros vitais, frequência respiratória, cardíaca, ausculta pulmonar e temperatura corporal. Dos animais também são coletadas amostras para exames hematológicos, bioquímicos e microbiológicos.
“Quando necessário, esses animais são submetidos também a exames diagnósticos por imagem. E esse compilado de informações, a partir da avaliação do seu estado de saúde, possibilita direcionar os tratamentos mais adequados. Isso é feito ao longo de todo o processo em que os animais estão se recuperando aqui no Cram”, completa a coordenadora.
Sobre o processo de soltura
Para que um animal reabilitado possa retornar ao seu habitat natural, é preciso que ele atenda a uma série de critérios básicos, envolvendo atividade, comportamento, condições comportamentais e, também, se os resultados dos exames se encaixam nos parâmetros normais para aquela espécie. “Feito esse processo de avaliação e verificada a possibilidade de soltura, a equipe começa a planejar esse processo respeitando condições específicas para cada espécie”, explica Paula.
Os pinguins, por exemplo, são animais gregários, ou seja, tendem a agrupar-se, e, portanto, são liberados em grupo.
Rastreabilidade
Todos os animais são liberados com uma marcação permanente. Na ocasião, os lobos foram soltos com brincos permanentes, confeccionados pela própria equipe do Cram. Os pinguins receberam um microchip. Dessa forma, é possível acompanhar esses animais pós-soltura, caso sejam reencontrados.
“O momento da soltura é um momento muito especial para toda a equipe e por isso que fizemos todo um esforço para reunir o máximo da equipe possível. É uma oportunidade muito gratificante, em que podemos ver que o trabalho deu certo e que os animais estão tendo, novamente, a chance de voltar para o mar e seguir a sua vida livre”, comentou Paula.
A soltura contou com a participação de estagiários e voluntários - estudantes da região e que acompanham as atividades do Cram durante um semestre ou mais – essenciais para o andamento do trabalho do Cram.
Segundo Barcellos, o trabalho realizado pelo Cram vem, há 51 anos, recuperando e reconduzindo animais à natureza, e, também, ensinando lições de humanidade para a comunidade. “Todos nós aprendemos com os animais a sermos mais humanos. Essa parte da nossa humanidade é fundamental porque ela se relaciona conosco e com a natureza, e a natureza humana dentro de si própria. Nós, como seres humanos, estamos devolvendo algo legal para o mundo em que nós vivemos, para o planeta, de forma que as pessoas que passam por aqui possam sair melhor do que chegaram”, explicou.
Sobre o Cram
Em 1974, o oceanólogo Lauro Barcellos deu início a um trabalho institucional de reabilitação dos animais marinhos enfermos e debilitados, encontrados ao longo da praia arenosa do Rio Grande do Sul. A ação era apoiada pelo então professor Eliézer Rios - diretor fundador do Museu Oceanográfico; seu colega Rodiney Nascimento e de médicos voluntários que ofereciam ajuda e conhecimentos para tratar as espécies resgatadas.
Em 1995, o veterinário Rodolfo Pinho da Silva e a oceanógrafa Andréa Adornes, passaram a interessar a equipe do centro, que, naquele momento, recebia apoio do Ministério do Meio Ambiente por meio do Fundo Nacional do Meio Ambiente. O suporte ajudou na construção de instalações adequadas para os trabalhos de reabilitação. Desde então, a infraestrutura cresceu e se qualificou ainda mais, contando atualmente com áreas para despetrolização de fauna, tanques para reabilitação de animais, sistemas hidráulicos adequados, água quente em abundância, medicamentos, materiais para resgate e imobilização de animais.
Com a readequação dos espaços e o investimento em equipamentos, o trabalho foi denominado como Centro de Recuperação de Animais Marinhos (Cram). "Acreditamos que além de salvar os animais, estamos educando as pessoas para uma convivência mais equilibrada com a natureza”, aponta Barcellos.
O Centro integra a estrutura organizacional da FURG, como anexo ao Museu Oceanográfico. De acordo com Lauro, a parceria é fundamental e viabiliza a ação nacional e internacional das equipes do Cram, tanto pela capacidade instalada quanto pela possibilidade de formação e capacitação dos participantes.