ALDEIAS INDÍGENAS DE RIO GRANDE

Aldeia Pará Rokê e a retomada de terras ancestrais

Durante a pandemia, comunidade guarani envolveu-se com a construção da casa de reza no distrito de Domingos Petroline

Foto: Gildo Gomes

Os povos originários do Brasil são diversos, plurais e reivindicam o reconhecimento de suas identidades. No Abril Indígena, o portal da FURG abre espaço para uma série de reportagens sobre as três aldeias indígenas da cidade do Rio Grande (RS).

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O material reúne informações atualizadas sobre as aldeias Y'Yrembé (Beira-mar) e Pará Rokê (Portal do Mar), ambas da etnia mbya guarani, e Goj Tahn (Mar Azul), da etnia kaingang.

Fruto de uma pesquisa liderada pela professora Letícia Cao Ponso, o trabalho busca um diálogo com a comunidade não-indígena visando a compreensão e valorização das culturas tradicionais presentes na região. Doutora em Teoria e Análise Linguística pela Universidade Federal Fluminense, com estágio-sanduíche em Moçambique, Letícia pesquisa o português de contato com línguas autóctones em contextos de descolonização linguística. Na FURG, ela atua como pesquisadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) e coordena o projeto de extensão e cultura "Revitalização e Difusão das Culturais Guarani e Kaingang do Rio Grande".

Confira abaixo o primeiro artigo da série Aldeias Indígenas de Rio Grande, que retrata a aldeia guarani Pará Rokê. Localizada no distrito de Domingos Petroline, reúne hoje 21 famílias com 80 pessoas. Nos últimos meses de pandemia, a comunidade esteve envolvida com a construção de uma casa de reza, a tradicional Opy.

Série Aldeias Indígenas de Rio Grande - Pará Rokê (Portal do Mar)

A aldeia Pará Rokê (Portal do Mar) está localizada na região do distrito de Domingos Petroline, área rural do município de Rio Grande (RS). Sua cacica, Dona Talcira Gomes, é uma liderança política feminina muito conhecida na região sul e em todo o Brasil. Ela veio para Rio Grande com sua família da aldeia da Estiva, na cidade de Viamão (RS). Durante anos, essas famílias vinham toda temporada de verão para vender artesanato na praia do Cassino. Por meio de uma ação da prefeitura da cidade de Rio Grande, em 2017, foi cedida ao grupo de indígenas mbya guarani uma área pública com as antigas instalações da extinta Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro Sul). Finalmente, em 2018 o território da Fepagro foi reivindicado como retomada pelo grupo dos guarani mbya, pois se trata de uma área, inclusive sobre um sítio arqueológico, onde viveram há muito tempo comunidades indígenas. Hoje, no total são 21 famílias com 80 pessoas.

Na aldeia, há desde 2020 um karaí (liderança espiritual) chamado Gabriel da Silva, que, segundo Gildo Gomes, estudante guarani de Direito da FURG, professor e morador da aldeia, "foi encaminhado de Cachoeira do Sul pelo Nhanderu para fazer os rezos da nossa aldeia e fortalecer nossa espiritualidade. Aqui na aldeia ele pode ter sua própria plantação de sementes tradicionais e cultivar as suas ervas medicinais. Ele veio para revigorar os nossos parentes, os nossos avós e as nossas crianças. Em sua trajetória, ele conversa muito com Nhanderu, e foram os espíritos que o mandaram para a nossa aldeia. Aqui ele terá a sua própria casa de reza, que nós construímos para nossa proteção."

A construção da Opy, a casa de reza, foi um evento muito importante para a aldeia Pará Rokê. De acordo com Gildo Gomes: "Primeiro, nós cortamos as taquaras lá na Colônia Maciel. Somente os homens colhem as taquaras no período da lua cheia, para elas durarem mais. O barro veio do Município de Candiota, com parceria da prefeitura de lá. E os mais jovens, as meninas, as mulheres, as cunhã karaí, todos pisamos no barro antes de revestirmos as paredes de taquara da casa de reza".

Durante a pandemia, a casa de reza foi fundamental para a proteção da saúde das famílias guarani. Além disso, a população da aldeia contou com a ajuda de doações de grupos de apoiadores, e também através de licitações feitas pela prefeitura para compra de alimentos. Foram recebidos itens como arroz, feijão, farinhas e produtos de higiene, além da distribuição de álcool feita pela Universidade Federal do Rio Grande. Desde 2013, o serviço municipal de saúde tem profissionais capacitados para acolher a especificidade do atendimento às populações indígenas, de dar-lhes acompanhamento integral através do Programa Municipal de Saúde Indígena, articulando à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).

Texto: Letícia Ponso (docente/ILA/Neabi-FURG), Patrícia Gomes (mestra em Educação Ambiental) e Thaísa Freitas (acadêmica de Artes Visuais). Material elaborado no âmbito do Projeto de Extensão e Cultura "Revitalização e Difusão da Cultura Guarani e Kaingang em Rio Grande", Instituto de Letras e Artes – DAC – Proexc – FURG, em parceria com o Conselho Municipal dos Povos Indígenas. 

 

Galeria

Comunidade guarani envolveu-se com a construção da casa de reza no distrito de Domingos Petroline

Foto: Gildo Gomes