Com o tema História e ambiente: olhares sobre o regional, iniciou nesta segunda-feira, 26, a 15ª Semana Acadêmica de História da Universidade Federal do Rio Grande FURG. O evento, promovido pelo Centro Acadêmico de História Angelina Golçalves, conta com 140 inscritos de Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre. Na conferência de abertura pela manhã, o prof. dr. Marcos Fábio Montysuma (UFSC) abordou o tema Trajetórias interpretativas da História Ambiental, apresentando uma perspectiva de história ambiental voltada à dimensão de cultura e memória, relativa aos usos dos espaços chamados de natureza, a partir de Simon Schama.
Num segundo momento da abordagem, contou um pouco da experiência de lutas ambientais, durante dois anos em Rio Branco-Acre, no início da década de 80, quando atuou com Chico Mendes. Hoje consigo me emocionar menos. Antes eu falava e chorava. São companheiros dos quais lembro os nomes, as expressões, o timbre da voz. Alguns já faleceram de causas naturais, outros assassinados como no caso do Chico, outros fugiram para não serem assassinados, como meu compadre Pedro Rocha, conta Montysuma.
Para ele, eventos como esse são uma oportunidade de transmitir aos acadêmicos a história do país (importância pedagógica), a história dos seringueiros (importância política) e uma oportunidade de sistematizar o conhecimento que não está só dentro da chamada cultura popular. Pois só entra para a história o que está registrado, se não entra para o esquecimento, completa.
Sobre o antigo conflito entre seringueiros e fazendeiros, acredita que cada momento histórico se esgota em si. Os seringueiros encontraram a solução, de tomar a terra. Hoje são senhores da terra e novos desafios são impostos, como a exploração da pecuária dentro da reserva extrativista. A transformação de seringueiros em fazendeiros ocorre, segundo Montysuma, porque ser fazendeiro dá status e porque o boi representa a possibilidade de renda concreta e se transporta sozinho numa área carente de estradas. Quando vemos essa dinâmica, percebemos que essa exploração é danosa, porque exige expansão do campo, que exige a destruição da floresta, destaca.
Outro desafio apontado pelo pesquisador é o corte seletivo de madeira, cuja responsabilidade do transporte que poderia ser dificultado pela falta de estradas - é das madeireiras. Pouca gente hoje faz corte de borracha, pelo pouco valor que recebe, afirma. Além da baixa rentabilidade, as exigências da indústria são outro fator que dificulta a manutenção da cultura de extração da borracha. Na fábrica voltada à produção de preservativos, por exemplo, os critérios técnicos são rígidos na recepção do leite da borracha e nem todos os seringueiros se prepararam, fizeram cursos para isso, afirma.
A 15ª Semana Acadêmica de História termina na terça-feira, 27. Integra a programação a 1ª Jornada Gaúcha de História Ambiental, promovida pelo curso de História Bacharelado ênfase em Patrimônio socioambiental. A programação completa está disponível no site http://cahis.no.comunidades.net .