Estudantes e docentes da FURG São Lourenço do Sul (FURG-SLS) estiveram em Pelotas, no dia 1º de dezembro, participando do 17º Dia de Campo sobre Agroecologia e Produção Orgânica promovido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa Clima Temperado.
Além de discussões e homenagens, o Dia de Campo expôs quatro estações temáticas e promoveu a 1ª Feira da Agroecologia. O encontro aconteceu na Estação Experimental Cascata, espaço da Embrapa voltado exclusivamente para a construção científica de base agroecológica. Segundo a organização, estima-se que 900 pessoas circularam pelo evento, que foi marcado pela presencialidade, após duas edições realizadas no modelo remoto em função da pandemia de Covid-19.
A estudante de Agroecologia da FURG-SLS, Aline Mello, considera que participar desta edição foi importante para que ela e os demais colegas tivessem contato com a área experimental da Embrapa, vendo na prática como ocorrem vários dos conceitos que são trabalhados em sala de aula, principalmente em relação ao consórcio de espécies feito em uma agrofloresta e formas de manejo de hortaliças, sugerindo que em próximas edições sejam trazidos mais exemplos de trabalhos voltados à criação animal agroecológica.
Ela também afirma que a Feira da Agroecologia foi o ponto alto do Dia de Campo, pois conseguiu congregar diferentes atores do território da zona Sul, com representantes de comunidades tradicionais e movimentos sociais, por exemplo.
As Panc no fortalecimento da Agroecologia
O projeto de extensão Pancpop da FURG-SLS foi convidado pela Embrapa a integrar a 1ª Feira da Agroecologia, junto de outros expositores institucionais, organizações da sociedade civil, movimentos sociais, cooperativas e famílias agricultoras de várias regiões do Rio Grande do Sul. Ao todo, a iniciativa contou com 45 bancas de expositores..
A coordenadora do Pancpop, Jaqueline Durigon, destaca que a banca do projeto agregou várias pessoas, como bolsistas, voluntários, estudantes de diversos cursos da FURG, agricultores parceiros e pessoas da comunidade, que foram ao evento no transporte viabilizado pelo curso de Educação do Campo.
Além de compartilhar informações e promover degustações gratuitas de receitas com o uso de Plantas Alimentícias Não Convencionais (Panc), a equipe aproveitou a oportunidade para expor espécies, divulgar trabalhos realizados, entregar materiais impressos e apresentar o campus e os cursos oferecidos pela FURG em São Lourenço do Sul.
Voluntária do Pancpop, a estudante de Agroecologia Rafaela Pinheiro Olixewski conta que entre os preparos levados, estavam bolos de erva-mate e de maria-pretinha, docinhos de bougainville e de erva-mate, além de várias geleias. “Foi muito incrível, muitas pessoas foram e conheceram, foi muito legal a interação, a gente ficou na banca praticamente o dia inteiro. As pessoas estavam bem dispostas a provar, a ver. Queriam saber das receitas, das coisas que a gente tinha levado”.
O Pancpop também comercializou alguns produtos de agricultores e estudantes parceiros, e aproveitou a ocasião para realizar a venda de produtos de identidade visual do projeto, como canecas e camisetas. O valor arrecadado servirá como caixa para promoção de oficinas com famílias agricultoras.
A partir de relatos dos visitantes, Jaqueline acredita que a banca Pancpop tenha sido uma das mais movimentadas da Feira, o que para ela representa o interesse na temática das Panc por pessoas que discutem e fazem a Agroecologia. “As pessoas que estavam lá se surpreenderam, ainda que sejam pessoas que já caminham na Agroecologia há muito tempo, muitas espécies, preparos e informações que a gente levou eram novidades ainda dentro do público acostumado com a diversidade alimentar”, ressalta.
Ela comenta que as Panc compõem um grupo de plantas que não são comumente consumidas no cotidiano alimentar das pessoas, e que mesmo não estando inseridas nos grandes circuitos de comercialização, têm uma grande importância tanto do ponto de vista da conservação da cultura alimentar brasileira, quanto do ponto de vista de diversificação alimentar da dieta e da autonomia dos agricultores e agricultoras. “Porque as Panc são espécies nutritivas, espécies de fácil manejo, resilientes, e que são inseridas também na cultura desses agricultores e das populações tradicionais”, explica.
Para a professora, oportunizar espaço para que as bolsistas e os estudantes dialogassem com os presentes também foi importante, se empoderando de informações sobre as Panc.“Isso promoveu uma grande rede de diálogo, de discussões, de contatos, de trocas de informações e de ampliação da divulgação das Panc. Foi um momento muito importante para o projeto Pancpop, onde ele pode interagir com diversos atores que estavam presentes naquele evento e também trazer as Panc cada vez mais para o debate”, salienta.
Assim, Jaqueline avalia que a participação do Pancpop no evento foi bastante positiva, firmando o espaço das Panc nas discussões sobre Agroecologia. “Pensando que a Agroecologia vem como uma ciência, um movimento e uma prática que valoriza os saberes populares, que valoriza os alimentos locais e os alimentos da biodiversidade e promove a autonomia dos agricultores e agricultoras, a gente pode dizer que as Panc e a agroecologia caminham juntas”.
Interlocução de saberes
Egresso do curso de Agroecologia da FURG-SLS, Eric Weller de Almeida atualmente cursa mestrado em Sistemas de Produção Agrícola Familiar na Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e é orientado pelo pesquisador da Embrapa, Ernestino de Souza Gomes. Vinculado a uma equipe da Unidade Clima Temperado que trabalha com restauração ecológica, manejo da vegetação nativa e sistemas agroflorestais, ele participou ativamente na construção do Dia de Campo, junto com pesquisadores de outras áreas, como hortaliças e fruticultura.
“A gente se dedica muito porque é o dia em que a Embrapa Clima Temperado abre as portas para agricultores e agricultoras, para as universidades, para as instituições de extensão rural e para a comunidade como um todo para mostrar no que trabalhamos ao longo do ano”, conta. Na oportunidade, Eric e outros envolvidos montaram, em três meses, um sistema agroflorestal em uma área de 25x25m², contendo mais de 60 espécies vegetais de diferentes tempos de ciclo de crescimento, para mostrar na prática a viabilidade da produção agroecológica.
Considerando que a Embrapa é uma empresa de pesquisa, o mestrando destaca a importância da parceria realizada pela estatal com as universidades, incluindo a FURG, e com instituições de extensão rural, como o Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (Capa) e a Emater/RS-Ascar, a fim de manter um fluxo informacional eficiente, capaz de transmitir a outros atores sociais aspectos relevantes sobre as tecnologias desenvolvidas por seus pesquisadores e pesquisadoras. Uma maneira de cumprir com essa tarefa seria a partir do Dia de Campo que, em sua concepção, é capaz de proporcionar um lugar de trocas horizontalizadas de saberes entre todos os envolvidos.
Para Eric, a interlocução entre o campus da FURG-SLS e a Embrapa ocorre não só por meio do curso de Agroecologia, mas também a partir das outras formações oferecidas pela universidade, como Educação do Campo, Gestão Ambiental e Gestão de Cooperativas. “Todo o arcabouço que o campus São Lourenço do Sul traz eu acho que eu dialoga diretamente com a proposta da Embrapa. Eu acredito que existam ajustes a serem feitos entre as propostas, a gente nem sempre vai concordar com tudo, mas é um diálogo fundamental que fortalece ambos os lados. Ainda que seja uma parceria que já é sólida, já acontece, mas é sempre possível melhorar e expandir”.
