Recentemente, a estudante do curso de Gestão Ambiental da FURG São Lourenço do Sul (FURG-SLS), Andriélle Mourão Soares, recebeu a notícia de que teve um projeto cultural aprovado em um dos editais da Lei Paulo Gustavo (Lei Complementar nº 195/2022) em São Lourenço do Sul. A legislação busca incentivar e reaquecer o setor cultural, a partir do direcionamento de recursos do Governo Federal para artistas, produtores e organizadores culturais dos municípios brasileiros.
“Raízes Culturais: Entrelaçando Cores e Literatura nas Comunidades Quilombolas” foi construído em conjunto com parceiros da comunidade quilombola do Boqueirão, localizada na zona rural de São Lourenço do Sul, e inscrito no edital sob o nome da presidente da associação, Patrícia Blank Berwaldt.
O projeto será realizado ao longo de 2024 e consiste na realização de oficinas de leitura para crianças pertencentes aos cinco quilombos do município. Nos encontros, também serão realizadas atividades como pintura, ilustração e teatro de fantoches, com o objetivo de despertar a expressão artística dos participantes. Ao final, os desenhos elaborados serão preservados e enviados para cada uma das comunidades, buscando a continuidade da ação.
“Através das ilustrações, cada criança poderá celebrar e compartilhar suas próprias experiências vividas em suas comunidades. Esse projeto é uma forma de preservar e fortalecer os laços quilombolas, além de despertar a criatividade. Estamos cultivando líderes e defensores de suas próprias comunidades”, explica a discente.
A ideia para a proposta surgiu após Andriélle ter cursado a disciplina de Avaliação e Elaboração de Projetos Ambientais (que em breve, passará a se chamar Elaboração e Avaliação de Projetos Socioambientais). Ministrada pela professora Karina Attisano, a matéria aborda formas de captação de recursos e identificação de oportunidades, especialmente em editais socioambientais já existentes.
Ao longo do semestre, são trabalhados aspectos como: delimitação do tema; elaboração de objetivo geral e específicos; estabelecimento de metas; descrição da metodologia; construção de plano de contrapartida; criação de cronograma de execução orçamentária, e redação de introdução, justificativa e formulação dos indicadores. Os projetos elaborados nessa disciplina também estão sendo sistematizados para integrarem o banco de dados do curso, o qual será utilizado para ações de extensão.
“Durante o meu período na disciplina de Avaliação e Elaboração de Projetos Ambientais sempre me mantive interessada em dar continuidade a isso, elaborando projetos para quem sabe pensar na possibilidade de concorrer de fato em editais. Foi dessa forma que ocorreu, pouco tempo depois, graças aos ensinamentos em sala de aula e ao estímulo que tive da docente Karina Attisano durante e após a disciplina. Foi possível aplicar esses conhecimentos na minha comunidade, o Quilombo Boqueirão, e assim pela primeira vez elaborar um projeto para concorrer de fato a um edital para a captação de recursos”, conta a estudante.
A professora acredita que a partir da disciplina, Andriélle obteve sustentação na busca de um edital que pudesse angariar recursos para um projeto construído junto à sua comunidade. Karina afirma ainda que o processo de curricularização da extensão é fundamental para estimular que estudantes desenvolvam atividades e projetos para além da sala de aula.
A partir de 2024, todos os cursos de graduação do Brasil deverão ter no mínimo 10% da sua grade curricular direcionada à extensão universitária. A alteração curricular atende a Resolução n°7, de 1 de dezembro de 2018 do Ministério da Educação (MEC), a qual estabelece as Diretrizes para a Extensão na Educação Superior Brasileira.
Apesar da exigência valer apenas no próximo ano, o curso de Gestão Ambiental já realizou testes para ampliação da extensão em algumas disciplinas ainda em 2023. “Com essa exigência do MEC de 10% da grade curricular ser extensão, então já se obriga, dentro da própria grade curricular, ou seja, das disciplinas, a se trabalhar além dos muros da universidade. E no nosso curso de Gestão ambiental algumas disciplinas se tornaram 100% extensionistas, como por exemplo essa disciplina de projetos”, explica a professora.
Segundo a normativa federal, a “Extensão na Educação Superior Brasileira é a atividade que se integra à matriz curricular e à organização da pesquisa, constituindo-se em processo interdisciplinar, político educacional, cultural, científico, tecnológico, que promove a interação transformadora entre as instituições de ensino superior e os outros setores da sociedade, por meio da produção e da aplicação do conhecimento, em articulação permanente com o ensino e a pesquisa”.
Para a professora Karina, as atividades extensionistas integradas à matriz curricular dos cursos de graduação do Brasil podem “incentivar a atuação da comunidade acadêmica na contribuição ao enfrentamento das questões da sociedade brasileira, fortalecendo a formação integral do estudante através do estímulo de seu desenvolvimento como cidadão crítico, responsável e protagonista”.