CONSCIENTIZAÇÃO

2º Mutirão de Limpeza da FURG-SLS no Arroio São Lourenço recolhe 500kg de resíduos

Divididos em dois grupos, um por terra e um por água, participantes recolheram materiais descartados irregularmente no leito e nas margens do local

Na manhã do último sábado, 10, a FURG São Lourenço do Sul (FURG-SLS) realizou o 2º Mutirão de Limpeza e Remada Ambiental no Arroio São Lourenço. A atividade foi promovida pelo curso de Educação do Campo, e contou com a participação de doze pessoas, entre estudantes da universidade, egressos do campus lourenciano e pessoas da comunidade.

Divididos em dois grupos - um por terra e um por água – os participantes recolheram materiais descartados irregularmente no leito e nas margens do Arroio São Lourenço. Ao todo, foram coletados cerca de 500 kg de resíduos, sendo que 100 kg foram separados e direcionados à Cooperativa dos Catadores de Material Reciclável de São Lourenço do Sul (Coopeforte/Asser) e o restante, que não era passível de reciclagem, recolhido pela Secretaria Municipal de Planejamento e Meio Ambiente (Seplama). Já os caiaques foram disponibilizados pela empresa lourenciana Juninho Caiaques.

Impacto de ações de preservação ambiental

O 1º Mutirão e Remada Ambiental no Arroio São Lourenço promovido pelo curso de Educação do Campo aconteceu em setembro, integrando as atividades da Acolhida Cidadã. Na oportunidade, em trecho de 1km, em região próxima à curva, foram recolhidos cerca de 800 kg de materiais descartados irregularmente.

Presente nos dois mutirões como uma das responsáveis por coordenar a equipe que atuou por terra, a acadêmica de Educação do Campo Carina Rush diz que desta vez o grupo decidiu alterar o ponto de partida, iniciando o trajeto próximo à ponte que dá acesso à estrada que leva ao Camping Municipal.

Carina conta que no sábado, quando chegaram à altura de onde havia sido realizada a primeira coleta, foi surpreendente a diminuição na quantidade de resíduos. “A quantidade de resíduos descartados à beira do arroio, no entorno e nas suas águas era muito, muito menor. O que, a nosso ver, cabe uma avaliação positiva de que o primeiro mutirão já deu grande resultado, porque em questão de menos de dois meses nós não encontramos mais tantos resíduos nessas proximidades onde nós havíamos feito a coleta”, explica.

A estudante também destaca o reconhecimento que os participantes receberam de pessoas que transitavam pelo local durante a ação. “Contamos com apoio e com aplauso das pessoas da comunidade que prestavam atenção no trabalho que estava sendo feito e saudavam a ação, ficando muito agradecidos”, afirma.

A coordenadora do curso de Educação do Campo, Patrícia Lovatto, igualmente ressalta o apoio recebido pela comunidade. “Alguns pescadores vieram falar conosco contando que sempre se preocupam em retirar os resíduos que encontram, e que o mutirão é uma atividade que deve acontecer com maior frequência e envolver mais pessoas pela importância da mesma, tanto para sensibilizar as pessoas e o poder público, como também para buscar atenuar essa questão do resíduo sólido nas águas”.

A professora também frisa o apoio recebido pelo Seplama nesta edição da atividade. Diferentemente do primeiro mutirão, a universidade acionou o órgão público, que viabilizou o caminhão do município para coleta no local no final da manhã de sábado, recolhendo materiais que não eram passíveis de reciclagem, como pedaços de ferro e isopor, lonas plásticas e pneus. “Com os demais materiais, a separação foi feita ali mesmo, na beira do arroio, e os materiais passíveis de reciclagem foram entregues no mesmo dia à cooperativa de catadores e catadoras Cooperforte/Asser”, explica.

Segundo ela, a ideia é realizar novos mutirões, bem como ampliar as ações de conscientização ambiental na cidade. Conforme relata Patrícia, o grupo percebeu a necessidade de instalação de placas em alguns locais estratégicos do município, apontando cuidados necessários sobre descarte correto de bitucas de cigarro, ou lembretes sobre a responsabilidade por seus resíduos a quem faz acampamentos e/ou pescarias próximo ao arroio, por exemplo.


Águas como depósito de lixo

Patrícia diz que os participantes foram surpreendidos com a quantidade de pontos de despejo de esgoto doméstico dentro do arroio, e cita que entre os principais materiais encontrados ao longo do trajeto estavam latas de refrigerante e cerveja e garrafas de plástico do tipo PET, que acredita serem provenientes de quem pesca ou acampa em locais próximos, além de grande quantidade de isopor.

Já o estudante de Agroecologia Ronaldo Augusto Silva cita a presença de animais mortos atirados nas águas, como cães e gatos, quilos de comida gordurosa de restaurante, vasilhames de alumínio que embalam marmitas e colchões, entre outros. Inspirado pelo momento, ele inclusive fez uma poesia (disponível ao fim do texto) para incentivar a preservação do Arroio São Lourenço.

Integrando a equipe que participou do mutirão por água, Ronaldo comenta que é notório o descaso de algumas pessoas com o descarte de resíduos sólidos às margens do Arroio São Lourenço e deduz que isso se dá de forma indiscriminada ao longo de todo o trajeto, seja num gesto aleatório ou vicioso. “Importante frisar que este volume se acentuou bastante à margem direita do nosso percurso, sentido desemboque do arroio, justamente na Alameda Mano Serpa em alguns pontos que margeiam o arroio, indicando que nestes locais são mais visíveis este gesto de depositar lixo”.

O estudante considera que o movimento da universidade e do curso de Educação do Campo é de suma importância para o município de São Lourenço do Sul por chamar a atenção da comunidade para preservar os mananciais locais, e comenta sobre a necessidade de campanhas e projetos pensados em conjunto a partir de possíveis parcerias entre a FURG e a Prefeitura de São Lourenço do Sul. “O Arroio São Lourenço é de importância social, econômica e sobretudo ambiental”, salienta.

 

Poesia sobre o Arroio São Lourenço
Ronaldo Augusto

Por meandros, valha-me São Lourenço!
Quanto descaso, ainda que moribundo em seu leito de quase morte
exalasse o cheiro dos corpos estranhos na água desovados, esgotos, escrotos, abjetos descartes humanos, sei que resguardas a vida que ainda respira com dificuldade.
Recolho estarrecido e indignado
o sem serventia, o que perdeu o uso, o que tornou-se lixo e desrespeitosamente violam assim o sagrado código das águas.
Embora o incauto poluidor, senhor dos absurdos, envenena sua própria vida e vai beber na fonte de sua ignorância ao ter que se tratar dos males que gerou para si, que precisa descontaminar a água que poluiu.
Resíduo que se entranha e que a mata ciliar emaranha entre galhos e cipós, quer te proteger!
Visceral é a ânsia de vomitar este indigesto ato desumano…
Compreendo todos os arroios e rios que regurgitam todo lixo depositado em suas entranhas.
Vou suplicar pela vida em sua forma mais pura e cristalina: Não poluam o Arroio São Lourenço!
Suas águas abastecem o município, alguns estaleiros lançam através dele suas embarcações, pescadores escoam sua produção, escunas que promovem a atração turística local com passeios temáticos pela lagoa aportam às suas margens, e tantas outras atividades esportivas como passeios de caiaques ao longo do seu curso até a barragem, pedalinhos para as crianças, a marina dos barcos.
Houve em 2021, Papai Noel a bordo de uma escuna, com show de músicas típicas de natal na entrada do canal do Arroio São Lourenço…
Se tudo isso não sensibiliza as pessoas da importância do Arroio, ainda há a riquíssima fauna silvestre que dele depende. Alugue um caiaque ao amanhecer e saia em expedição por volta das seis horas da manhã…
Em suaves e sincronizadas remadas para que ouças o canto dos pássaros, veja a solene elegância de uma garça branca pousada num galho contrapondo um fundo verde de mata ciliar, como uma bandeira branca pedindo paz aos homens de boa vontade…
Talvez com um pouco mais de sorte, algumas ariranhas se permitam ver
Percebes a dádiva da natureza?
Quando for atirar seu lixo às margens ou dentro do Arroio, reflita seu gesto, distraído, aparentemente inocente, mas carregado de uma pesada carga sobre o meio ambiente e diretamente sobre sua vida.

 

 

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Divididos em dois grupos, um por terra e um por água, participantes recolheram materiais descartados irregularmente no leito e nas margens do local

Foto: Divulgação