INOVAÇÃO

Filme que substitui plástico é produzido a partir de sementes de chia em pesquisa da FURG

Inventos com potencial ambiental são desenvolvidos no Laboratório de Tecnologia de Alimentos

Photograph: Divulgação. Arte: Natália Lavall
Uma jovem mulher aparece sorrindo. Na foto, um selo, na parte inferior, com o desenho do perfil de quatro mulheres e o texto: Mulheres na FURG

Muitos produtos de nosso cotidiano são feitos com plástico: desde componentes eletrônicos a artigos decorativos. Mas além do produto em si, muitas vezes o plástico é apenas a embalagem que protege alimentos ou produtos de higiene, por exemplo. Se a embalagem plástica é rapidamente descartada pelo cidadão, na natureza, contudo, levará séculos para se decompor. De acordo com o manual de educação do Consumo Sustentável, editado em 2005 pelo Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Educação e Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, são mais de 400 anos para a degradação dos resíduos plásticos. Isso quer dizer que a embalagem de bala que alguém abriu há pouco, ficará por mais pelo menos mais 12 ou 13 gerações presente em nosso planeta.

E se as embalagens fossem feitas por outros materiais? Esse questionamento, movido pela preocupação ambiental, motivou a pesquisadora Vilásia Guimarães Martins, do Laboratório de Tecnologia de Alimentos da FURG, a desenvolver um sachê solúvel. Ao invés de acondicionar uma fração de produto em plástico, o sachê é feito a base de chia e dilui completamente em água. Pode ser usado, por exemplo, para acondicionar café solúvel, achocolatado, leite ou suco em pó, chás, entre outras possíveis aplicações.
A pesquisa busca não apenas solução para a questão do impacto ambiental dos produtos plásticos, mas leva em conta também a necessidade de produtos de preparo rápido, que fazem parte dos modos de viver contemporâneos. Por isso, é focada em produtos de preparo instantâneo.

O desenvolvimento do sachê solúvel contou com a participação de outros pesquisadores e teve sua patente depositada em 2018. Também no ano passado, o trabalho do laboratório foi premiado no México, em uma conferência internacional sobre chia, recebendo o segundo lugar pelo estudo de aplicação da semente a filmes que substituem o filme plástico.

Há outras experiências do laboratório envolvendo materiais orgânicos para a produção de filmes. “Sempre, desde que eu comecei a trabalhar com pesquisa eu trabalho com resíduo. Comecei a trabalhar com resíduo de pescado, e depois eu fui para a parte das embalagens, mas também trabalhando com resíduos das indústrias de alimentos”, conta Vilásia.

Resíduos de pescado viram hidrogel

Na pesquisa com resíduos de pescado, produto de grande disponibilidade em Rio Grande, com atividade pesqueira, Vilásia desenvolveu outra invenção com grande potencial ambiental: um hidrogel.

Da pele, vísceras e escamas de peixes é extraída a proteína que, modificada em laboratório, passa a absorver mais água. Assim, se transforma em um hidrogel, que pode ter diferentes aplicações. Uma delas é disponibilizar água para plantas. Adiciona-se água ao gel, que fica hidratado. A planta absorve a água conforme sua demanda e o processo pode ser repetido inúmeras vezes. Quando o gel desidrata, basta adicionar água para ele se reidratar.

Mas a pesquisadora menciona ainda outra possibilidade: o uso do hidrogel em fraldas descartáveis. “Hoje é utilizado nas fraldas um polímero sintético, que não é biodegradável - ele degrada, mas demora muito tempo, séculos – então [com o uso do hidrogel] as fraldas não ficariam acumulando em nossos aterros sanitários”. Como o produto é orgânico, sua decomposição é muito mais rápida.

Tecnologia disponível para consumo

O que falta para que os produtos – ambos com patente depositada – estejam disponíveis no mercado e sejam comercializados? A professora Vilásia conta que eles estão prontos para terem sua escala de produção ampliada, porém falta principalmente o interesse da indústria. “Os produtos vão ser um pouco mais caros que os polímeros sintéticos já utilizados. Só que aí tem uma resistência por parte da indústria e também acho que um pouco da população. É difícil conseguir fazer a pessoa entender que ela vai pagar um pouco mais caro pelo mesmo produto.Tem o apelo ambiental, mas as pessoas não têm muito ainda essa consciência. Então é também uma questão de educação, de consciência, e aí sim quem sabe a gente consiga colocar essas tecnologias no mercado”, avalia.

No último final de semana, 15 e 16, a experiência foi compartilhada pela professora durante a 15ª Feira de Inovação Tecnológica da FURG, no Partage Shopping, em Rio Grande. Os sachês e filmes, exibidos no estande da Escola de Química e Alimentos da FURG chamaram a atenção do público presente. “A gente estava com os sachês no estande, e as pessoas quando olhavam elas perguntavam: e o que está faltando para ir ao mercado? Então, eu vejo que é mais uma questão de interesse da indústria. Claro, a gente teria que fazer alguns ajustes, mas eu acho que é super possível. E eu espero que em breve, porque eu gostaria muito de ver isso no mercado”, conclui.

Mulheres na FURG

Lançado no ano de cinquentenário da universidade, o Selo Mulheres na FURG objetiva dar visibilidade para os fazeres e vivências das mulheres que constituem a instituição. O projeto mostra diversas facetas da atuação da universidade através da trajetória das mulheres na pesquisa, na extensão, no ensino, na atuação técnica, cultural e social. 

 

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Uma jovem mulher aparece sorrindo. Na foto, um selo, na parte inferior, com o desenho do perfil de quatro mulheres e o texto: Mulheres na FURG

Professora Vilásia Martins é coordenadora do curso de Engenharia de Alimentos da FURG

Foto: Divulgação. Arte: Natália Lavall