A professora Rubelise da Cunha, do Instituto de Letras e Artes da FURG, foi uma das autoras convidadas a participar do livro "Cartas para o Bem Viver". A obra reúne 50 cartas, algumas escritas somente com imagens, sem palavras, e assinadas por nomes como Ailton Krenak, Sonia Guajajara e Márcia Kambeba.
Organizado por Suzane Lima Costa e Rafael Xucuru-Kariri, o livro é, como diz seu prefácio, "uma convocação especial para dizer das emergências do tempo presente, para um entendimento do que é estar pessoa singular na vida coletiva, do que é fazer da beleza conflituosa das conversações um lugar ativo de experimentos de si e de partilhas com os outros".
A carta da professora Rubelise integra a seção "O Bem Viver para viver junto" e é destinada ao ambientalista, filósofo, poeta e escritor Ailton Krenak. O convite para participar veio durante a pandemia, e ela explica que a proposta era a de uma escrita mais criativa e movimentada pelo afeto. A escolha por Krenak se deu com base em seus estudos com as literaturas indígenas. "Desde que comecei a trabalhar nessa área, nos anos 2000, Krenak sempre foi uma pessoa que me trouxe essa sabedoria que está bem além do nosso conhecimento eurocêntrico", explica. "Não o conheço pessoalmente - depois soube que ele faria parte do livro -, mas ele foi a pessoa com quem eu gostaria de conversar naquele momento, numa posição muito humilde de quem precisava aprender com ele diante do nosso contexto de mundo, e do contexto que nós vivemos para encontrar um caminho para o bem viver", completa a autora.
O livro está disponível para download gratuito neste link.
Trechos das cartas
“(...)Estamos chegando ao momento do esteio do céu. Decidi, então, escrever esta carta para falar com vocês sobre o Bem Viver, para quem acredita que cantando é possível suspender o céu, para quem acredita que o modo como vivemos e o mundo onde vivemos é recriado a toda hora(...)”
Carta de Ailton Krenak para quem quer cantar para o céu.
“(...)Na verdade, pai, eu acho que aprendi mais sobre você do que com você, porque tivemos tão pouco tempo para a gente se reconectar, que depois que você se foi, bem depois, passado os traumas e dores, eu fui me aproximando dos teus companheiros e companheiras de luta e iniciei um intenso aprendizado sobre quem foi você. (...)”
Carta de Angela Mendes para Chico Mendes, seu pai.
“(...)a grande tragédia da nossa época foi termos produzido uma sociedade na qual pessoas idosas e jovens foram arremessadas em lados opostos, divididas pela geração da meia-idade que se interpõe entre elas(...)”
Carta de Tim Ingold para uma criança que está prestes a nascer.