Nota do Diretor do Complexo de Museus e Centros Associados da FURG, sobre o falecimento do Leão-Marinho “Ipirelo”

Photograph: Divulgação

Quando o nosso querido Ipirelo chegou ao Museu Oceanográfico, em 1993, a intenção não era a de mantê-lo em cativeiro, porém, devido ao infausto acontecimento de seu desgarre de sua mãe e subsequente intoxicação por hidrocarbonetos, do qual padeceu por semanas, este animal selvagem não foi capaz de se adaptar novamente ao ambiente natural. Devido a esta contingência, iniciou-se sua vida no Cram: 27 anos de muitas alegrias.

Apesar do infortúnio do Ipirelo em sua vida selvagem, sua trajetória no Cram proporcionou-lhe uma vida repleta de carinho, respeito, dignidade e extremoso cuidado. Neste momento de grande dor e sofrimento a nós, profissionais e comunidade, que perdemos este ente querido, preciso lembrar que nosso amigo estava idoso. Para um leão-marinho, mais de 27 anos consistem em considerável longevidade. Neste tempo, ele foi alimentado com abundância e qualidade, tratado pelos melhores médicos e dentro do melhor viveiro que pode ser oferecido. Nesta hora em que todos lamentamos, com razão, a partida deste personagem célebre e querido por todos, é mister pensarmos que o Ipirelo tem um duplo legado: Os dados científicos coletados no decurso de tantos anos, algo raro por tratar-se de uma espécie selvagem. O monitoramento e o estudo sistemático registrado pelos excelentes profissionais do Cram são preciosos. Além disso, o legado, talvez maior, do Ipirelo, se trata de sua atuação como animador cultural, educador e até mesmo terapeuta. Quantas pessoas encontraram paz interior e encantamento na sua interação com o Ipirelo, sempre exibido e faceiro, mostrando-se a todos no seu tanque.

Em suma, Ipirelo tem um legado de Educação Ambiental, tendo sido um co-educador, que causou espanto, curiosidade e emoções em milhares de pessoas que o visitaram. Quantas crianças sorriram ao olhar o Ipirelo! Foi também um símbolo do ativismo ambiental, um potente divulgador da causa pela conservação da biodiversidade. Então, apesar de sua vida ter iniciado com um evento lúgubre, sua presença no museu acalentou todos que o visitavam para acessar ao belo, direito inalienável de todo ser humano, ao contemplar o imponente leão dos oceanos e o esplendor de sua juba molhada, em poses que renderam fotos memoráveis. Ipirelo foi protagonista de uma fantástica ressignificação, para se tornar um símbolo do Museu Oceanográfico, da cidade do Rio Grande e da luta coletiva pela proteção à Vida.

Ipirelo viveu muito bem e descansou após alguns meses de enfermidade devido à extrema-idade que alcançou. Deixará a tristeza da saudade, este mal sem remédio, mas deixa, também, a ternura de um animal que a todos encantou, educou e mobilizou. Nossa sensação, ladeada pela grande tristeza, é a de dever cumprido e gratidão a este ser que tantos cativou e que sempre será um símbolo de nosso sempiterno compromisso em cuidar da Natureza.

Meu especial agradecimento à equipe de técnicos e voluntários, que cuidou com imenso denodo e respeito do Ipirelo ao longo de sua vida e, em especial aos amigos que doam o peixe para alimentarmos os animais que cuidamos no CRAM, especialmente para o IPIRELO, que se alimentou com 20 Kg de peixe diariamente, aqui os destaco : Sr. Jerry; Sr. Sandro - SP da Cunha; Sr. Sidnei - SM Felippe; Pescal; Sr. Milton Cardoso; Torquato Pontes Pescado; e muitos outros amigos que ajudam a manter o trabalho de reabilitação de animais marinhos que chegam no Cram.

Também muito agradecemos a Superintendência do Porto do Rio Grande (SUPRG), Ibama, Patram, Petrobras, MPF, Polícia Federal, RBS, Jornal Agora, TV Mar e Práticos da Barra do Rio Grande.

Dr. Lauro Barcellos