EXTENSÃO

Projeto da FURG-SLS busca ampliar conhecimentos sobre abelhas sem ferrão

Patrimônio cultural de diversos povos, insetos polinizadores têm importante papel social e econômico

Foto: Gabriela Schmalfuss/SECOM

Com importância social, cultural e econômica, as abelhas sem ferrão têm sido tema de uma ação de extensão da FURG São Lourenço do Sul (FURG-SLS). Criado em 2023, o projeto “Abelhas sem ferrão - protegendo a biodiversidade e a produção de alimentos” é desenvolvido pela professora Ana Silvia Rolon e pelos bolsistas Bruno Miguel de Souza Medeiros e Júlia Graziela Puntel, com o objetivo ampliar os conhecimentos da comunidade acadêmica e externa à universidade acerca dos insetos polinizadores.

Para isso, já foram realizadas exposições e divulgações sobre o tema em eventos como o Seminário Regional de Desenvolvimento e Agricultura Familiar (Serdaf) e o Seja FURG; e junto à população local, na Feira Livre Municipal. Informações sobre o tema também são divulgadas nas páginas do projeto nas redes sociais Instagram e Facebook. Em 2024, a equipe pretende ofertar assistência aos agricultores interessados na meliponicultura, realizar oficinas e a promover atividades em escolas de ensino básico e ensino médio.

A importância das abelhas sem ferrão na preservação ambiental e na segurança alimentar

Coordenadora do projeto, Ana explica que abelhas sem ferrão, ou meliponídeos, constituem um grupo de insetos polinizadores de grande diversidade em ecossistemas tropicais e subtropicais. “Das cerca de 500 espécies conhecidas pelo mundo, metade dessa diversidade ocorre em ecossistemas brasileiros. Para o Rio Grande do Sul são citadas 24 espécies, das quais, três encontram-se na lista das espécies ameaçadas de extinção: Guaraipo (Melipona bicolor), Manduri (Melipona obscurior) e Mandaçaia (Melipona quadrifasciata quadrifasciata)”, cita.

A pesquisadora diz que a polinização realizada pelas abelhas sem ferrão é responsável por manter a biodiversidade vegetal e, consequentemente, a oferta de alimentos para outros organismos, inclusive o ser humano. “Ao coletar o pólen das flores para alimentar a colmeia, as abelhas sem ferrão realizam a fecundação das plantas que visitam e, com isso, garantem a troca de material genético entre as plantas, favorecendo a diversidade genética; e promovem o desenvolvimento dos frutos, os quais servem de alimento para organismos dispersores de sementes, possibilitando a regeneração e manutenção tanto das plantas quantos dos organismos que dependem direta e indiretamente da vegetação”.

Ela ressalta que o serviço ecossistêmico da polinização é imprescindível para a agricultura também, uma vez que aproximadamente 75% das plantas que constituem a alimentação humana dependem da polinização realizada pelas abelhas sem ferrão, citando alguns exemplos de cultivares como morango, abóbora, melancia, melão, goiaba, tomate e café. “Embora outros organismos possam contribuir para a polinização de espécies agrícolas, o papel das abelhas sem ferrão na polinização e incremento na produtividade agrícola, muitas vezes não realizado por outros polinizadores, deve-se à diversidade de tamanhos e formas das abelhas, o que potencializa a polinização de uma maior diversidade de flores e espécies vegetais, bem como, à constância que esses organismos visitam as flores de uma mesma espécie, assim aumentando a efetividade da polinização”.

Ana também destaca que a importância social e econômica dessas abelhas não se limita à polinização, uma vez que as abelhas sem ferrão são parte do patrimônio cultural de diversos povos, sendo conhecidas como abelhas-indígenas. “Os produtos a partir da meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão), tais como: mel, própolis, cera e enxames, complementam a renda de famílias em meio urbano e rural. Além disso, é crescente o número de meliponicultores (criadores de abelhas sem ferrão) que veem a meliponicultura como uma atividade de lazer e entretenimento, sendo por alguns considerados como animais de estimação. O interesse pelas abelhas sem ferrão como atividade recreativa resulta em parte da diversidade desses organismos e da complexa e curiosa estrutura social formada por esses organismos, além do fato de não oferecerem riscos de acidentes ou ferimentos por terem ferrão atrofiado, podendo assim serem criadas em espaços urbanos”.

A professora explica que embora tenham diversas diferenças ecológicas e em termos de organização social, as diferenças que ressaltam entre as abelhas melíferas (também conhecidas como apis, abelha-comum, abelha africana ou abelha europeia) e as abelhas sem ferrão é basicamente o ferrão. “Nas abelhas sem ferrão essa estrutura é atrofiada, assim, as estratégias de defesa resumem-se a ‘pequenos’ beliscões, enrolar-se no cabelo ou pelos, emissão de ruídos. Estratégias essas que não oferecem riscos à população humana e animais domésticos. Entretanto, cabe ressaltar que as abelhas melíferas não são nativas do Brasil e correspondem a menos de 10 espécies no mundo; já os meliponídeos são um grupo mais diversificado e diversas espécies são nativas do Brasil, assim contribuindo para o equilíbrio ambiental”.

O papel da extensão universitária

Segundo a coordenadora Ana, o projeto de extensão surgiu tanto da importância do tema no contexto da Agroecologia, quanto da necessidade de entender mais sobre as abelhas, a fim de conservar esses organismos e divulgar a sua importância para o meio ambiente e para a sustentabilidade da agricultura.

Já a sua concretização só foi possível devido ao apoio institucional via bolsas de extensão e ao interesse de discentes do curso de Agroecologia, sendo inclusive objeto de estágio e trabalho de conclusão.

Estudante do décimo semestre do curso de Agroecologia e bolsista do projeto, Bruno Miguel de Souza Medeiros desenvolve ações com abelhas sem ferrão desde 2020, quando passou a pesquisar e criá-las junto à companheira, Bianca Kernbeis, no Meliponário Kernbeis & Medeiros.

Ele diz que tem sido satisfatório participar das atividades, uma vez que já tinha interesse prévio no tema, e considera que o trabalho com os insetos é uma terapia e um aprendizado constante.

 

 

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Foto: Gabriela Schmalfuss/SECOM