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PancPop faz lançamento de obra que reúne saberes populares sobre Plantas Alimentícias Não Convencionais

Projeto de extensão da FURG reúne ações desde 2017 e valoriza as PANC no território Zona Sul

Foto: Acervo PancPop

Com a crescente popularização e os estudos sobre as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC), o projeto de extensão PancPop, do Campus São Lourenço do Sul da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), lançou, no final de março, o livro Plantas Alimentícias Não Convencionais no Território Zona Sul: identificação de espécies e uso de estruturas vegetativas, a partir de um convite feito pela editoria da Embrapa Clima Temperado. 

O lançamento aconteceu durante a Expoagro Afubra, em Rio Pardo, no dia 25 de março, e embora tenha ocorrido fora do território Zona Sul, o evento mobiliza historicamente diversos municípios e agricultores da região.

“É um local que nós entendemos como importante para que acontecesse esse lançamento e para que o livro fosse apresentado a uma comunidade mais ampla, principalmente de agricultores e agricultoras que frequentam essa feira. Não é no território Zona Sul, mas esse território já se mobiliza historicamente, com ônibus saindo de vários municípios para participar. A Embrapa compõe a organização desse evento há muitos anos e fez esse convite para que fizéssemos o primeiro lançamento durante a Expoagro Afubra”, destacou Jaqueline Durigon, docente da FURG e coordenadora do projeto.

A publicação tem como objetivo divulgar os resultados das diversas atividades de pesquisa, ensino e extensão desenvolvidas pelo projeto desde sua criação, entre 2017 e 2018, reunindo as experiências acumuladas ao longo do processo de popularização das PANC no território da Zona Sul, reforçando o vínculo com o território e sua diversidade alimentar.

A obra reúne informações sobre as espécies de PANC identificadas na Zona Sul, incluindo os conhecimentos locais já existentes, os usos registrados e a comercialização dessas plantas na região. Além disso, apresenta uma revisão bibliográfica, trazendo o estado da arte sobre algumas espécies em particular.

“A gente tem essa delimitação territorial, que é um recorte proposto numa antiga forma de classificação do Governo Federal em territórios da cidadania. Esse território Zona Sul congrega 25 municípios da metade sul do estado, que têm uma convergência de aspectos históricos, culturais, econômicos e ambientais”, explicou Durigon. Segundo Jaque, é nesse território que se concentra a atuação mais profunda do projeto, especialmente nos seus cinco primeiros anos. “Atuamos fortemente na Zona Sul, por meio da extensão universitária, com ações extensionistas que foram gerando várias pesquisas relacionadas a essas atividades”, completou.

O convite para a produção do livro surgiu em um momento em que o projeto desenvolvia ações de pesquisa em parceria com a Embrapa Clima Temperado e mantinha projetos em andamento no território da Zona Sul. A partir desse diálogo, a equipe do PancPop recebeu o convite da Embrapa e iniciou a elaboração da publicação.

"A autoria do livro tem três editores técnicos: eu, pela FURG, e dois editores técnicos pesquisadores da Embrapa. Os capítulos que compõem o livro têm autoria de outros professores e egressos da FURG, tanto do curso de Educação do Campo quanto do curso de Agroecologia. É um livro que também tem um aspecto formativo muito importante, porque dá oportunidade para estudantes egressos participarem de uma obra de grande importância e exercitarem a redação e a divulgação científica, e a participação na construção de obras de referência no tema”, ressaltou Jaqueline.

Conteúdo técnico, cultural e acessível

Ao todo,  20 espécies com maior potencial de popularização, comercialização e uso no território da Zona Sul foram selecionadas, considerando suas características culturais e econômicas. O foco principal recai sobre estruturas vegetativas, ou seja, partes das plantas que não estão envolvidas na reprodução, como folhas, ramos, brotos e palmitos, além de estruturas subterrâneas como raízes, tubérculos e rizomas. A escolha dessas estruturas se deu por despertarem mais interesse nos agricultores e consumidores das feiras da região.

Essa decisão também leva em conta aspectos culturais locais, já que a Zona Sul é tradicionalmente reconhecida pela produção de tubérculos, como batata e aipim, e pelo cultivo de hortaliças folhosas. “Então, optamos por focar, nesse primeiro momento, nessas estruturas vegetativas que estão mais ligadas às características culturais desse território”, afirmou Durigon.

Cada uma das espécies é apresentada com uma descrição botânica detalhada, pensada para facilitar o reconhecimento em campo. Também são abordadas informações sobre a origem da planta, se é nativa ou exótica, os ambientes onde costuma ser encontrada e quais partes podem ser utilizadas na alimentação.

Além disso, são apresentados os benefícios nutricionais e nutracêuticos dessa espécie, orientações sobre o preparo, tanto na forma crua quanto na forma cozida. Cada espécie conta com uma receita, e ao final de cada capítulo há informações relevantes extraídas da bibliografia e da literatura, mostrando como essa planta é trabalhada, vista e utilizada em outras partes do mundo. “E também de informações sobre seus multipropósitos, além dos propósitos alimentícios, outros propósitos que elas podem ter”, completou Jaque.

Outro diferencial da publicação é o cuidado com a linguagem e a valorização das diferentes formas de nomear as plantas. Além dos nomes científicos e populares em português, o livro inclui os nomes em inglês, espanhol e, de forma inédita, em pomerano, idioma tradicionalmente falado em diversos municípios da Zona Sul, como São Lourenço do Sul, Canguçu e Morro Redondo.

“É uma forma de popularizar as PANC em uma língua tradicional, muito comum aqui na região, nas feiras e entre os agricultores e agricultoras. É fazer essa popularização na língua dos camponeses e camponesas da região”, concluiu a coordenadora.

Reconhecimento da obra em 2024

Antes do lançamento, a obra foi apresentada à comunidade de São Lourenço do Sul durante o 7° HortPANC, integrado à 1ª Feira de Plantas Alimentícias Não Convencionais, em abril de 2024. O evento, considerado o maior do país voltado às Plantas Alimentícias Não Convencionais, foi palco do primeiro reconhecimento público da publicação.

“Foi o primeiro momento de reconhecimento dessa obra e de publicização da existência dela. Isso é bastante importante porque, embora já existam algumas obras impressas, a maioria está na forma de e-book, em mídias digitais, em relação às PANC. Mas existem poucas publicações impressas sobre o tema que tragam toda uma bagagem teórica e de experiência de ação junto às comunidades tradicionais, aos agricultores e agricultoras, aos camponeses e camponesas”, observou Jaque.

Ainda conforme Jaqueline, a obra representa um passo importante na consolidação do movimento em torno das PANC. “É uma obra que vem para acrescentar mais um passo nesse processo de popularização das PANC, de amadurecimento do movimento PANC no Brasil, e de aproximação cada vez maior com ações concretas nos territórios. O PancPop trabalha assim: faz pesquisa a partir da ação extensionista, e esse livro traz um pouco das experiências de processos participativos com os agricultores e agricultoras, e que geram transformações sociais no campo, nas cidades e nas feiras aqui do município”, destacou.

Após o lançamento em Rio Pardo, o projeto prevê um evento especial de lançamento em São Lourenço do Sul, que será marcado por uma celebração e pela distribuição dos exemplares do livro aos agricultores da região.

“Porque é um livro que foi escrito para ser distribuído e para estar na banca da feira, na casa dos agricultores. Foi pensado em uma linguagem acessível, mas com um arcabouço teórico e experiências concretas que possam subsidiar o agricultor e a agricultora a inserir as PANC nos seus sistemas de produção, nas suas feiras. E também para trazer embasamento teórico que qualifique cada vez mais esse processo de popularização”, reforçou a coordenadora.

Faça o download da obra abaixo:

Plantas Alimentícias Não Convencionais no Território Zona Sul: identificação de espécies e uso de estruturas vegetativas

 

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