TOMBAMENTO

Após organização da FURG e Prefeitura, boto da Lagoa dos Patos é declarado Patrimônio Cultural Natural

Ação foi movida pelo Ecomega/FURG e pela Secretaria de Município do Meio Ambiente

O Laboratório de Ecologia e Conservação da Megafauna Marinha da FURG (Ecomega) e a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA), com o apoio de outras instituições, encaminharam à Câmara dos Vereadores do Rio Grande uma solicitação para declarar o Boto-de-Lahille como Patrimônio Cultural Natural do Município. A solicitação foi aprovada em forma de Lei e sancionada pelo prefeito municipal, Fábio Branco, na última quarta-feira, 8.

De acordo com o material enviado à Câmara de Vereadores, a valorização do boto da Lagoa dos Patos – de nome científico Tursiops gephyreus -, como patrimônio da cidade é uma estratégia para promover a conservação da espécie e agregar valor ao território municipal. Segundo o pró-reitor de pesquisa e pós-graduação, Eduardo Secchi, a fundamentação da proposta concentrou-se na relevância ecológica e cultural do boto para a região, bem como da importância do estuário da Lagoa dos Patos e costa marinha adjacente para as atividades vitais da espécie, incluindo reprodução, alimentação, socialização e descanso.

“O boto, por sua vez, fornece serviços ecossistêmicos essenciais, como manutenção do equilíbrio do ambiente e serviços culturais e estéticos de grande valor para os cidadãos e cidadãs locais como também para o desenvolvimento de atividades de turismo ecológico, as quais pode trazer divisas para o município, especialmente se articuladas com outras iniciativas de mesma natureza. Esta fundamentação é baseada em décadas de estudos sistemáticos, os quais só foram possíveis com apoio de instituições e programas como YAQU PACHA, Portos RS, Whitley Found For Nature e PELD-ELPA”, destacou Eduardo.

Sobre a Espécie

Os botos da Lagoa dos Patos possuem características genéticas, morfológicas e comportamentais que os diferenciam do golfinho-nariz-de-garrafa comum (Tursiops truncatus). Os botos em questão são adaptados aos ambientes costeiros desde a Patagônia Argentina até o litoral de Santa Catarina; uma das características marcantes desta espécie é a sua relação positiva com a pesca artesanal. Para isso, o boto desenvolveu uma estratégia de alimentação que é única no mundo e ocorre somente no sul do Brasil, conhecida como ‘pesca cooperativa’.

“Os botos ajudam os pescadores artesanais de tarrafa na captura de tainhas, ao encurralar os peixes e sinalizar aos pescadores para que arremessem suas redes”, explicou o secretário municipal de meio ambiente, Pedro Fruet - que também é egresso do Programa de Pós-graduação em Oceanografia Biológica da FURG.

Segundo informações da equipe do Ecomega e Museu Oceanográfico da universidade, estima-se que existam apenas 600 botos da espécie no mundo todo, motivo pelo qual são considerados como ameaçados de extinção pela União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN) e como “em perigo” pela Lista Nacional das Espécies Ameaçadas no Brasil. A Maior população de botos encontra-se no estuário da Lagoa dos Patos e nas áreas costeiras adjacentes como a Praia do Mar Grosso, em São José do Norte; e a Praia do Cassino, em Rio Grande. O estuário é o local onde as águas doces da Lagoa dos Patos e salgadas do Oceano Atlântico se encontram, proporcionando um ambiente com diversidade e abundância de alimento.

Aproximadamente 160 botos utilizam estas águas, com aproximadamente 90 indivíduos compondo a população residente na área o ano todo. A região é utilizada predominantemente por botos fêmeas, em razão de ser um ambiente protegido e rico em alimento, proporcionando condições ideais para o nascimento e criação dos filhotes.

A reprodução ocorre na primavera e no verão, entre outubro e março. As fêmeas iniciam o ciclo reprodutivo entre oito e dez anos, e dão à luz a um filhote de aproximadamente um metro de comprimento, a cada três anos, em média. A população estudada pelos pesquisadores da FURG produz anualmente sete filhotes, e é considerada uma população estável, pois a taxa de nascimento é compensada pela mortalidade natural, por enfermidades e envelhecimento. Entretanto, este equilibro pode ser comprometido pela mortalidade não-natural; aquela causada por atividade humana, como, por exemplo, enredamento acidental em redes de pesca e poluição ambiental.