TECNOLOGIA

Estudantes do C3 apresentam solução industrial para a empresa Denso do Brasil

Projeto iniciou em 2022 e foi desenvolvido por uma equipe de 14 estudantes

Photograph: Hiago Reisdoerfer/Secom

Na manhã da última quinta-feira, 3, estudantes de graduação dos cursos de Engenharia Mecânica Empresarial, Engenharia de Computação, Engenharia de Automação e Sistemas de Informação apresentaram os resultados parciais de um projeto de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação para solucionar uma demanda real do setor industrial. Na oportunidade, representantes da filial brasileira da empresa japonesa Denso – subsidiária da gigante japonesa Toyota - estiveram no prédio do Centro de Ciências Computacionais (C3), no campus Carreiros, para conferir o trabalho.

O grupo de estudantes, que utiliza do framework ‘Digital Twin’ para desenvolver suas atividades, tinha como objetivo desenvolver um sistema capaz de aumentar o grau de rastreabilidade, possibilitando a identificação, o registro e o controle dos complexos processos de uma célula de produção do rotor da embreagem magnética de um compressor de ar condicionado automotivo. Nesse sentido, os discentes conseguiram pensar uma estrutura automatizada e inteligente que elimina variáveis e concede muito mais confiabilidade à produção.

De acordo com o professor e coordenador do projeto, Marcelo Pias, o produto obtido pelo grupo é uma solução que responde à demanda da modernização para a indústria brasileira, já contextualizada no novo programa do Governo Federal da Nova Indústria Brasileira (NIB). “Este projeto foi financiado por meio de uma iniciativa do Governo Federal chamada de Rota 2030 Finep, cujo foco está no desenvolvimento do setor automobilístico nacional, e da manufatura de autopeças para as montadoras de veículos implantadas no país”, detalhou Pias.

O protótipo criado pelos estudantes possibilita a criação de um banco de dados para armazenamento das informações coletadas em tempo real, integrando diferentes processos de fabricação por meio da comunicação entre equipamentos e sensores. A solução entrega, ainda, a inspeção inteligente baseada em tecnologia cognitiva e uma plataforma de gerenciamento compartilhada para o acompanhamento e análise dos resultados.

Ao todo, o projeto contou com a participação de 14 estudantes, oriundos tanto da graduação quanto da pós-graduação, sob monitoria dos professores do C3: Eder Mateus Nunes Gonçalves, Eduardo Nunes Borges, Luciano Maciel Ribeiro, Marcelo de Gomensoro Malheiros, Nelson Lopes Duarte Filho, Vinicius Menezes de Oliveira e Marcelo Rita Pias.

Ainda segundo Pias, a impressão dos representantes da Denso com a apresentação foi extremamente positiva. “Eles gostaram muito dos resultados e de ver a qualidade do protótipo final desenvolvido. Tivemos uma discussão bem a fundo sobre os resultados do processo de inspeção de qualidade; eles ficaram bem satisfeitos também com os ativos de propriedades intelectuais gerados, e pelo processo atual de finalização de escrita de uma patente e dois registros de desenho industrial. Esses depósitos de pedido de proteção contam com o auxílio da mentoria do Instituto Nacional da Propriedade Intelectual, fruto de uma parceria entre a FURG e o órgão”, completou.

Experiências dos estudantes

Victor Coch era aluno do programa de mestrado em Computação do C3 em 2022; ano em que foram realizadas as primeiras atividades do projeto. “Participei dessa ação por quase dois anos e meio, e, durante todo esse período, tivemos a oportunidade de colocar em prática, testar e ajustar ideias voltadas para o desenvolvimento de uma tecnologia capaz de executar inspeção de módulos. Esse processo criativo acaba sendo bastante interativo, então a partir dos nossos encontros surgiam muitas ideias que foram posteriormente avaliadas e analisadas do ponto de vista da viabilidade de implementação. Nossa ideia inicial foi sendo transformada com o tempo, até culminar no protótipo apresentado”, explicou o então mestrando sobre a sua experiência.

Para o estudante do curso de Engenharia de Automação, Bruno Domingues de Oliveira, trabalhar em uma solução real da indústria foi “uma ótima forma de sair da teoria e colocar em prática os conteúdos aprendidos, além de possibilitar o aprendizado de muitas outras coisas que não são abordadas em sala de aula. Poder estar em contato com representantes da indústria e entender melhor como funcionam os processos de automação industrial é uma experiência que me motiva e me inspira a trabalhar na área”, detalhou.

Também estudante de Engenharia de Automação, Rafaella Quaresma Lourenço, destaca que foi a partir deste projeto que teve a oportunidade de realizar atividades práticas de engenharia que raramente tinha a oportunidade de pôr em prática durante as aulas teóricas. “Consegui aproveitar muito as oportunidades de solucionar um problema real da indústria para aprimorar minhas habilidades técnicas e ainda tive a chance colocar em prática as habilidades sociais que eu já tinha naturalmente. Durante o projeto, cresci como futura engenheira de controle e automação, aprendendo a manusear com mais propriedade circuitos elétricos e eletrônicos, além de soldagem e a lógica de programação. Por se tratar de uma questão real, tudo era pensado de forma condizente com a realidade do problema, o que aflorou mais ainda minha criatividade nata”, explicou a discente.

Gabriel Rocha de Souza, estudante do quarto ano de Engenharia de Automação, elenca sua participação como transformadora. “Vejo um Gabriel antes e outro depois do projeto; principalmente no que diz respeito ao profissional engenheiro que quero ser. Tratando-se das áreas da engenharia que me interessei, assim como soft skills que pude treinar e aprender, neste projeto tive diversas trocas de conhecimento com pessoas muito renomadas na área e isso me ajudou a ter não só confiança na escolha do meu curso, mas também no meu próprio profissionalismo. Tenho muito orgulho dos trabalhos que realizei aqui, e foi essa confiança que me ajudou a conseguir outras oportunidades, e, inclusive, me ajudou também com as notas e avaliações acadêmicas na Universidade”, celebrou o bolsista.

Desafios: aproximação com a Denso do Brasil

Sobre as dificuldades ao longo do desenvolvimento do projeto, Victor aponta que este tipo de atividade é um grande desafio para os estudantes, uma vez que não envolve apenas conhecimento e aplicação prática, mas também muita criatividade para contornar os problemas que surgem durante as etapas de validação e viabilidade. Por isso, complementar ao auxílio oferecido pela equipe docente que acompanhava os estudantes, outro fator importante para o grupo foi o contato junto aos representantes da Denso do Brasil.

“Inicialmente, nosso contato com a Denso era relativamente esporádico, por meio de reuniões semestrais e alinhamentos pontuais feitos com os professores. Depois foram organizadas visitas; eu mesmo visitei uma das instalações da empresa, em Curitiba, e eventualmente acabamos conhecendo a planta deles, o que nos ajudou a ter uma ideia melhor dos seus procedimentos. Aqui estamos falando de uma empresa que vem do Japão, e, portanto, esses regramentos são muito específicos, especialmente no controle de qualidade. Esses detalhes fazem a diferença, sabíamos que não poderíamos só entregar o resultado esperado, mas também implementar a visão da empresa no nosso projeto também”, contou Victor.  

A solução desenvolvida pelo grupo envolve uma série de conhecimentos aplicados em torno de módulos, sensores, circuitos eletrônicos, metodologias de teste e validação, modelagem mecânica, fabricação de peças por meio de impressoras 3D e operação de maquinário, para citar algumas das complexidades do trabalho realizado pelos discentes. “Essa foi uma experiência muito enriquecedora, não só pra mim, mas com certeza para todos que participaram do projeto. Isso se reflete também nos professores, pois era perceptível o orgulho que eles sentiam do trabalho que estávamos fazendo. Eles sempre estiveram ao nosso lado nos acompanhando e direcionando. Foi uma grande jornada”, concluiu Victor.

Incentivo ao setor automobilístico

Criado para atender e desenvolver o setor automotivo no país, o programa Rota 2030, do Governo Federal, nasce a partir dos severos desafios que o ramo enfrenta no Brasil, seja em função do contexto automotivo mundial, que sinaliza profundas mudanças – seja na concepção dos veículos atualmente e na forma de usá-los, ou ainda na forma de produzi-los. Assim, o programa Rota 2030 se propõe a ampliar a inserção global da indústria automotiva brasileira, por meio da exportação de veículos e autopeças. Neste contexto é que está inserido o projeto, cujo cerne em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação alinha-se ao esforço nacional por meio do desenvolvimento tecnológico para a cadeia em questão.

Segundo Pias, implementar esta solução para um parceiro industrial com uma empresa do porte da Denso do Brasil – e por extensão do porte da Toyota Japão - traz bastante relevância ao trabalho. “Cabe salientar o impacto que esse tipo de projeto tem no setor industrial pois os conceitos abordados já são da nova Indústria 5.0, que visa eficiência de processos, porém traz novamente o usuário para o "loop", ao invés de removê-lo, como aconteceu na Indústria 4.0. Além disso, a Indústria 5.0 preocupa-se com o meio ambiente, desta forma entendendo o impacto do processo de manufatura à sustentabilidade do nosso Planeta", explicou o professor.

Próximos passos

Findado o desenvolvimento do projeto, após os últimos ajustes no protótipo, o grupo iniciará o processo de transferência de tecnologia para a Denso Brasil. Nesta etapa, a equipe viajará até a fábrica da empresa, em Curitiba, para entregar a plataforma de medição desenvolvida, além de performar o que é chamado de “Handover”, que inclui a entrega do software e hardware desenvolvidos, bem como a realização de treinamentos com a equipe técnica da fábrica.

Ainda segundo Pias, durante a reunião realizada na última quinta-feira, 3, os representantes da Denso anunciaram a doação definitiva do Robô de Serviço que foi utilizado no projeto. “A Denso Robotics, braço da Denso, é um dos maiores fabricantes deste tipo de robôs para o mercado asiático. Essa notícia foi muito bem recebida pelos estudantes e professores envolvidos”, apontou o coordenador.

O robô - além de servir de plataforma para novos projetos de Pesquisa e Desenvolvimento - será utilizado para auxiliar na preparação de cursos técnicos na área de inteligência artificial, em parceria com a NVIDIA, junto à área de robôs de serviços e automação para a indústria de manufatura. Esses cursos serão oferecidos em parceria com o iTec/FURG, que é hoje um dos cases de sucesso na FURG de interação com a indústria brasileira por meio de dezenas de projetos em desenvolvimento.

“Os cursos serão oferecidos para nossa comunidade interna, e em algum momento, pretendemos oferecer também para a comunidade externa. A Denso ofereceu inclusive uma parceria fornecendo material de apoio para nos ajudar com este tipo de iniciativa de cursos e treinamentos. Essa parceria pode continuar rendendo ainda mais frutos no futuro próximo”, concluiu Pias.

 

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Projeto iniciou em 2022 e foi desenvolvido por uma equipe de 14 estudantes

Hiago Reisdoerfer/Secom