19 DE ABRIL

Direitos das mulheres indígenas e valorização da cultura foram tema de abertura de Abril Indígena 2021

Evento foi realizado de forma online e contou com a presença do reitor da FURG e de lideranças

Nesta segunda-feira, 19 de abril, o Coletivo Indígena da FURG promoveu a abertura do Abril Indígena 2021 “Nossa voz: pelo direito ao território e à vida”. Com uma programação totalmente online, o evento foi dividido em mesas de debate que acontecem no canal da FURG no YouTube, sempre às 15h.

Mesa “Mulheres Indígenas”

Com o tema “Mulheres Indígenas: direitos, Lei Maria da Penha e os desafios”, a primeira mesa do encontro contou com a participação da Cacica Kaingangue Dona Ângela Inácio, da aldeia indígena Pedra Lisa, de Angélica Kaingangue, assistente social, pesquisadora e mestranda no Programa de Pós-graduação Política Social e Serviço Social (UFRGS), e de Jane Morais, graduanda em Direito na FURG e liderança do Coletivo de Mulheres Indígenas Xondarias. A mediação foi realizada por Jaqueline Tedesco, estudante de Direito e membro do Coletivo de Mulheres Indígenas Xondarias. A coordenadora geral da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (Umiab), Telma Taurepang, não conseguiu participar do evento.

A mesa teve início com uma breve apresentação de cada participante. Ao ressaltar a importância do momento proporcionado, Dona Ângela contou um pouco de sua história e de como é necessário coragem para as mulheres indígenas: “Em 2009, eu e uma turma de mulheres queríamos voltar para nossa casa. Tivemos muito problemas para conseguir a retomada pois os homens (e as lideranças masculinas) nos enxergavam como uma ameaça. Apenas em 2014 que conseguimos nosso espaço, um novo território”. Apesar de toda dificuldade enfrentada, a cacica enfatiza: “Vale a pena lutar, façam a diferença. Ser mulher, mãe, liderança e esposa é lindo. Esse mundo é nosso!”.

Para Angélica Kaingangue, “a luta segue mesmo na pandemia, no online. Estamos nos reconectando para dar forças umas às outras”. A assistente social falou sobre as experiências e vivências como mulheres indígenas. “Além de sermos geradoras de vida, somos guardiãs da sabedoria. Estamos ligadas aos nossos territórios e nossa luta sempre será sobre isso. Quando se violenta uma mulher indígena, se viola nossa terra e vice-versa”, salientou. Angélica também abordou a Lei Maria da Penha e de como ela não abrange a existência da mulher indígena: “Nessa atualidade que estamos, precisamos pensar os direitos da mulher indígena. Precisamos pensar como as políticas públicas não veem o outro lado da história”, disse.

A graduanda em Direito Jane Morais iniciou sua fala dizendo que as mulheres indígenas já nascem lutando. Jane contou sua história com a universidade e a discriminação que sofreu. “Como Dona Ângela disse, não queremos andar atrás nem na frente dos homens, queremos andar ao lado deles. Essa foi uma das minhas motivações para trabalhar com essas questões dentro da universidade. Apesar da Lei Maria da Penha nos incluir, a mulher indígena é abandonada pelas lideranças, pelo Estado e não tem apoio. Eu, Jane, guarani, indígena estudante de Direito, não podia mais ver tantas atrocidades e ficar calada, seria covardia da minha parte”, falou. Além disso, Jane falou da importância da união das mulheres indígenas para conversar com as lideranças masculinas: “para aquelas mulheres que não têm coragem, desejo que tenham porque, apesar de estarmos longe uma da outra, nossa conexão não vai nos abandonar”

Ao final, as convidadas falaram sobre como a pandemia tem afetado o cotidiano delas. Dona Ângela contou sobre os casos de Covid-19 e da vacinação em sua comunidade; Angélica falou do seu trabalho como assistente social e da luta pela vida dos indígenas; e Jane abordou a vida acadêmica e o acesso às plataformas digitais para estudos.

Jaqueline Tedesco, mediadora, encerrou a mesa falando sobre o respeito à história indígena do Brasil e da importância de fazer isso durante o ano inteiro, não apenas no dia 19 de abril. “Não é só nesse mês que merecemos ser notados e isso pode ser em todos os contextos: dentro da universidade, ajudando na pandemia com divulgação de trabalhos pelas redes sociais. Estamos na luta. Vamos resistir e existir por muito tempo”, disse.

Abertura

Antes da mesa “Mulheres Indígenas: direitos, Lei Maria da Penha e os desafios”, foi realizada a cerimônia de abertura do Abril Indígena 2021, que teve a participação do reitor da FURG, Danilo Giroldo, e do indígena graduando em Direito na universidade, Jocemar Cadete.

O reitor manifestou sua satisfação em participar de um evento protagonizado e pensado pelo Coletivo Indígena da FURG, que, segundo ele, vem desempenhando seu papel com qualidade e eficiência, tanto lutando pelos direitos dos povos indígenas como cumprindo um importante papel pedagógico dentro da universidade. “Esse mês é mais que comemorativo, é para reconhecer o tamanho da dívida que esse país tem para com os povos indígenas. É para que a gente se lembre disso e que todos os passos que dermos possamos reconhecer e compor junto aos povos indígenas, somando em suas lutas”, apontou.

Segundo Giroldo, a FURG – já há bastante tempo -, desenvolve ações para dirimir a distância social dos povos indígenas no que tange à educação superior, desde o ingresso até o processo dialógico junto com as lideranças e as comunidades, e também com as unidades acadêmicas. “Temos muitas pautas a ser desenvolvidas nesses quatro anos de gestão. É nossa prioridade valorizar cada vez mais a cultura e a diversidade dentro da FURG. E mesmo com os enormes desafios orçamentários que dificultarão muito nossos desejos e ações, estamos comprometidos e vamos lutar para desempenhar o nosso papel”, reafirma o reitor.

Ainda durante sua fala de abertura, o gestor ressaltou a importância de reconhecer o momento histórico e delicado que vivemos atualmente, o que impacta diretamente em diversas questões relativas às atividades acadêmicas e administrativas da instituição. “Vivemos um momento de resistência, e os avanços que se constituírem nesse cenário são importantes. Precisamos avançar muito mais, mas precisamos entender que estamos juntos, para lutar por essas pautas, mas em um momento muito complexo: sanitário, econômico e político no país”, destaca Giroldo.

Por fim, o reitor reiterou o compromisso da gestão com a pauta da diversidade cultural, falando especificamente dos indígenas na FURG. “Vamos encontrar, em conjunto, as melhores formas de valorizar e dar o espaço para reconhecer os povos indígenas dentro da universidade. Ao mesmo tempo, é também nosso dever e responsabilidade promover espaço e inclusão. É preciso que a universidade pública represente o povo brasileiro em toda sua diversidade”, concluiu.

O indígena estudante Jocemar Cadete agradeceu a participação do reitor e da equipe se empenhou para realização do evento, principalmente o Coletivo Indígena da FURG. “O tema que escolhemos não é somente um título, mas sim uma forma para falar dos temas latentes relacionados aos povos indígenas no Brasil. O coletivo, com apoio da FURG, traz ao público as lutas e a realidade dos povos indígenas nesse momento”, disse.