MEIO AMBIENTE

Cram-FURG completa 49 anos de história

Centro é responsável pela recuperação de cerca de 400 animais a cada temporada

Photograph: Cram-FURG/Divulgação

Anexado desde a década de 1970 ao Museu Oceanográfico Prof. Eliézer de C. Rios, em Rio Grande/RS, o Centro de Recuperação de Animais Marinhos comemora 49 anos nesta segunda-feira, 16.

O trabalho institucional de recuperação de animais marinhos enfermos e debilitados começou no verão de 1974. De lá para cá, as ações viraram rotina e hoje são tratados, em média, 400 animais por ano.

Hoje o Cram conta com uma infraestrutura avançada, com áreas para despetrolização de fauna, tanques para reabilitação de animais, sistemas hidráulicos adequados, água quente em abundância, medicamentos, materiais para resgate e imobilização de animais.

Para o diretor do Museu Oceanográfico, Lauro Barcellos, o sucesso do Cram-FURG só é possível graças à colaboração permanente de múltiplos setores da região. "Todo esse trabalho é realizado por entusiastas que têm grande preocupação com a vida marinha, e também com o apoio de muitos voluntários, colaboradores e empresas", afirma.

Segundo a oceanóloga e coordenadora do Centro de Recuperação, Paula Canabarro, a equipe recebe a cada ano várias espécies de animais marinhos e costeiros, e em termos de quantidade se destacam os pinguins-de-Magalhães, a tartaruga-verde e o lobo-marinho-do-sul. Entre as dezenas de outras espécies que já passaram por recuperação no local, estão albatrozes, petréis, gaivotas, orcas, golfinhos e toninhas, e às vezes animais dos banhados, como flamingos, lontras, capivaras, ratões e várias espécies de aves continentais.

Na maioria das vezes, essa grande variedade de animais é vítima da ação covarde e irresponsável do homem: baleados por armas de fogo, contaminados por óleo e outros produtos químicos jogados na natureza, ingerindo plástico sob diferentes formas, mutilados e emaranhados em redes de pesca, mutilados também pelas hélices dos barcos, alguns inclusive presos em embalagens de madeira ou plástico.

Uma nova chance de vida
Paula Canabarro conta que chegou "tímida e cheia de sonhos" como voluntária no Cram-FURG, há 20 anos, e seu entusiasmo e encantamento só aumentaram com o passar dos anos. "Não tenho dúvidas de que este lugar deu sentido à minha vida, não só profissional, mas também pessoal. Por mais que a reabilitação seja uma atividade que requer muita dedicação, estudo, técnica e esforço físico, a missão pela qual trabalhamos diariamente transcende o compromisso profissional", avalia.

A possibilidade de dar uma nova chance de vida aos animais que encalham na costa precisando de cuidados é a engrenagem que movimenta a equipe, segundo ela. "Ainda me emociono, e espero nunca deixar de me emocionar, cada vez que um animal consegue retornar ao mar, livre e saudável para continuar seu ciclo biológico: esse é o grande momento para nós. Mas mesmo quando os esforços não são suficientes para evitar o óbito de algum exemplar, tiramos a experiência como aprendizado para os próximos atendimentos. O trabalho do Cram-FURG ultrapassa as árvores do Museu Oceanográfico e nos coloca em contato com toda a comunidade rio-grandina, alunos, professores, visitantes, atores de diferentes setores da sociedade que acreditam na nossa causa e com isso também são parte dela. É na força da coletividade que o Cram-FURG se desenvolveu ao longo desses 49 anos", destaca.

"Hoje, nós estamos escrevendo um pedacinho dessa história bacana iniciada lá em 1974, pelo Lauro Barcellos e pelo professor Eliézer Rios, que já foi parte da vida de muitas pessoas e terá continuidade com as próximas gerações, porque a missão do Cram-FURG é muito maior que o nosso tempo de vida. O nosso compromisso hoje é tratar dos animais marinhos quando precisam de cuidados e compartilhar o conhecimento com os jovens que também estão vendo sentido nesse trabalho. Sobretudo, temos um dever com a mensagem que cada animal que encalha debilitado e precisando de cuidados nos traz, da atenção para a degradação do ambiente marinho e costeiro, e da esperança de novas chances para continuar a vida", finaliza a coordenadora.