Neste sábado, 21, é celebrado o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, instituído pela Lei Federal nº 11.635, de 27 de dezembro de 2007. A data foi escolhida por dois motivos: ela coincide com o Dia Mundial da Religião, e como homenagem para a fundadora do terreiro de candomblé Ilê Asé Abassá, a Iyalorixá Mãe Gilda, vítima de intolerância religiosa em 21 de janeiro de 2000.
O objetivo desta data é emitir um alerta para a população sobre os perigos da discriminação e do preconceito religioso, além de dar visibilidade à luta pelo respeito a todas as religiões. Segundo o pró-reitor de Extensão e Cultura, Daniel Prado, o dia serve como reflexão para o combate à intolerância, que deve estar capilarizado na sociedade todos os dias.
"Nosso país, felizmente, é multicultural e inter-religioso, e a espiritualidade e os conceitos de ‘sagrado’ são aspectos constitutivos da identidade brasileira", ressaltou.
Nesse sentido, para incentivar a tolerância religiosa, a FURG possui um Espaço Ecumênico, cujo objetivo é valorizar o respeito a todas as crenças, integrar saberes e desenvolver uma cultura de paz entre as religiões.
O Espaço Ecumênico localiza-se no Centro de Convivência do Campus Carreiros, e é aberto para toda a comunidade interna e externa que quiser utilizá-lo, independente da manifestação religiosa, necessitando apenas de um agendamento prévio junto à Pró-reitoria de Extensão e Cultura (Proexc).
"A universidade reflete esta pluralidade religiosa, e neste sentido, o nosso centro ecumênico, centro inter-religioso, recebe as diversas manifestações praticadas pela nossa comunidade acadêmica, e em interação com a comunidade externa, funcionando como um elo de exercício da tolerância e do respeito à diversidade", destacou o pró-reitor.
De acordo com o docente do Instituto de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis (Iceac), Márcio Bauer, a proposta do Espaço Ecumênico é muito atual, considerando a violência e os discursos de ódio ecoados na sociedade brasileira. O professor é também representante do Setor Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso da Diocese do Rio Grande (Igreja Católica).
Histórico do Espaço Ecumênico
No dia 28 de outubro de 2009, ano em que a FURG completou 40 anos, foi inaugurado o Espaço Ecumênico, em um evento com diferentes manifestações religiosas. Na ocasião, foi descerrada a placa de inauguração, que continha os dizeres: "local de fé, reflexão e inspiração para todas as pessoas que buscam crescimento espiritual e paz interior". O descerramento foi feito pelo professor João Carlos Cousin, à época reitor da FURG.
Estiveram presentes no ato mais de 50 pessoas no novo Espaço Ecumênico. A decoração e o preparo do local incluíram uma mandala no centro do espaço, com elementos da Natureza e que estão presentes em quase todas as manifestações religiosas. Uma segunda mesa abrigou os símbolos das diversas religiões presentes, desde as Igrejas Católica Romana e Luterana até a Igreja Messiânica (Joh-rei), passando pelo Kardecismo e o Budismo.
Segundo o professor Bauer, as celebrações ecumênicas sempre marcaram as comemorações dos aniversários da universidade, sendo organizadas, em sua maioria, pela professora Nilza da Fontoura. Passados 10 anos da inauguração do Espaço, uma nova celebração foi organizada para os 50 anos da universidade. Dessa vez ampliaram-se significativamente as representações religiosas, em um momento que ficou marcado na história da universidade. Os organizadores dessa celebração criaram o Grupo de Diálogo Inter-religioso da FURG.
O primeiro desafio deste grupo foi organizar uma roda de conversa na 47ª Feira do Livro da FURG. A ação foi a última atividade presencial do grupo, em função da pandemia de Covid 19, porém, o diálogo inter-religioso se reinventou e aderiu ao formato online.
Em 2021 houve um encontro virtual na Acolhida Cidadã de 2021, organizado pela Pastoral Universitária. O evento contou com depoimentos de diferentes representantes religiosos e com temáticas sobre a fé, esperança e amor. A atividade teve ampla participação dos estudantes.
Na Acolhida Cidadã de 2022 também houve a integração da Pastoral Universitária (igreja católica) e a Igreja Mundial Messiânica (Johrei) com a distribuição de Ikebanas e mensagens durante o Café Solidário no CC.
Ainda no ano passado, a Proexc, por meio do projeto Agenda Social, em parceria com o Grupo de Diálogo Inter-religioso da FURG, promoveu uma série de lives denominada "Conversas Inter-religiosas", que pode ser acessada neste link. Entre as temáticas discutidas nessas lives estão: a participação e o papel das mulheres na religião, intolerância religiosa, espiritualidade indígena e a religião de matriz africana como uma ferramenta de preservação da cultura dos povos negros.
Como denunciar a Intolerância Religiosa?
A legislação brasileira define como crime a prática, indução ou incitação ao preconceito de religião, bem como de raça, cor ou etnia pela Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, alterada pela Lei nº 9.459, de 15 de maio de 1997. A pena prevê multa e reclusão de dois a cinco anos. Como primeira medida de enfrentamento a expressões de intolerância religiosa, seja ela violenta ou dissimulada, está a tratativa penal. As vítimas podem realizar denúncia por meio de boletim de ocorrência, em qualquer unidade policial ou pelo Disque 100, serviço voltado para denunciar violações de direitos do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.