O domingo de 2 de julho entardeceu mais colorido em Santa Vitória do Palmar. Pessoas com distintas identidades de gênero e expressões da sexualidade estiveram reunidas no ginásio poliesportivo da Praça Getúlio Vargas celebrando a 1ª Parada da Diversidade do município. Protagonizado por estudantes do curso de Eventos da FURG – e com o apoio do poder público local e de coletivos da região, o evento deu visibilidade à luta por direitos da comunidade LGBTQIAP+ e promoveu o orgulho às diferenças através de diversas atrações artísticas.
As apresentações dos DJs Rodrigo e Loredrag, dos cantores Diego Caniza e Betina Moura e da companhia de dança Kimbra garantiram o tom festivo da atividade, que também contou com discursos de políticos locais e das presidentes da Associação de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros de Rio Grande (ALGBT), Fabiula Weickamp, e do Coletivo Binacional DIVAS, Michard Techera. A estrutura do evento ainda disponibilizou ao público área de recreação infantil e espaço para alimentação.
À frente da organização da Parada, o acadêmico Iago Lacerda, caracterizado como a drag queen Zúria, conduziu as atividades do dia. Em sua fala de abertura, ressaltou a importância do trabalho em coletividade e enfatizou que o respeito à diversidade consiste na compreensão de que todas as pessoas são iguais e, ao mesmo tempo, no reconhecimento das singularidades e diferenças que constituem cada ser humano.
“O nosso encontro é marcado pela luta diária contra o preconceito e a intolerância, que necessita ser debatido não apenas pela comunidade LGBTQIAP+, mas por todas as pessoas que desejam uma sociedade mais justa, menos violenta e menos desigual. [...]. Hoje é um dia de celebração do orgulho. Aqui não cabe o medo, a intolerância, o ódio e o armário, mas sim o respeito a todas as formas de ser, amar e existir”, discursou o estudante.
Idealizada a partir do desejo pessoal do citado acadêmico, líder do coletivo Xica Manicongo (nome em referência a primeira travesti negra do país), a Parada contou com o suporte pedagógico da FURG-SVP, que acolheu a demanda como uma atividade de ensino do curso de Tecnologia em Eventos. Segundo a professora e diretora em exercício do campus, Darciele Menezes, a universidade busca, constantemente, fomentar a autonomia discente, incentivando os alunos a exercerem seu papel social junto à comunidade.
“Ver, hoje, os nossos alunos fazendo a diferença no extremo sul com um evento que promove uma agenda, muitas vezes, silenciada ou esquecida é muito gratificante. Isso, de fato, é o papel do professor, que é o de incentivar e dar apoio para o melhor desenvolvimento das atividades. E nossos alunos têm essa potência. Eles conseguem sair da FURG e mostrar seu processo de formação, contribuindo, de forma muito rica, com uma comunidade que ainda carece desse tipo de debate”, avalia a gestora.
Representando o poder executivo, o procurador geral do município, André Nicoletti, descreveu como “um marco histórico” a realização da primeira parada da diversidade em Santa Vitória do Palmar. De acordo com o jurista, a prefeitura tem buscado construir políticas públicas de inclusão em diálogo com a comunidade LGBTQIAP+ local. “Hoje, estamos aqui, enquanto poder público, abrindo as portas da prefeitura para que possamos fazer políticas públicas eficientes para a comunidade LGBT, que tanto vivencia violências em seu cotidiano. Que tenhamos, cada vez mais, uma cidade inclusiva, onde todos possam participar e ter a liberdade de conquistar os seus direitos”, destaca o procurador.
O amor não tem fronteiras
A Primeira Parada da Diversidade de Santa Vitória do Palmar contou com o apoio e a presença de importantes agentes de movimentos LGBTQIAP+ da região. Em constante diálogo por meio das mídias sociais, a Associação de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros de Rio Grande (ALGBT) e o Coletivo Binacional DIVAS articularam a vinda ao município para somar esforços na luta por igualdade de direitos e oportunidades.
Na compreensão da presidente da ALGBT, FabiulaWeickamp, a parada livre é um momento festivo, mas também de sensibilização social acerca das múltiplas formas de amar. “Hoje ainda existe muito preconceito, mas as pessoas estão aprendendo a respeitar que não é errado dois homens se beijarem, não é errado duas meninas se beijarem, uma travesti beijar seu namorado, um homem trans beijar sua namorada. Nós trabalhamos para diminuir ao máximo o preconceito”.
Para o presidente do Coletivo Binacional DIVAS, Michard Techera, a participação no evento fortalece os laços criados com a FURG e com a comunidade vitoriense – iniciados na 1ª Marcha Binacional de la Diversidad, ocorrida nas cidades de Chuy, Chuí e Santa Vitória do Palmar em setembro do ano passado. O ativista uruguaio destaca a importância da amizade e intercâmbio de ideias entre os dois países na construção de uma sociedade mais justa para as gerações futuras.