No dia 15 de março, o projeto de extensão PancPop do Campus FURG São Lourenço do Sul (FURG-SLS) participou da 8ª Festa da Semente Crioula e da 3ª Feira de Economia Solidária, promovida pela cooperativa camponesa Cooperbio e pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), em Seberi (RS).
Nos últimos anos, o evento se tornou a maior referência no estado e uma das mais importantes no país quando o assunto são as tradições camponesas, a produção agroecológica e a economia popular.
A presença do PancPop no evento fortaleceu o compromisso do projeto em promover a popularização das Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) junto à agricultura familiar e camponesa.
Há anos, o projeto atua em parceria com agricultores, seja nas propriedades rurais, nas feiras, junto a movimentos sociais ou em diálogo com povos e comunidades tradicionais.
Jaqueline Durigon, docente e coordenadora do PancPop, explica que o convite para participar do evento surgiu a partir da relação já estabelecida entre o projeto e o MPA.
"O MPA tem sido um dos movimentos que mais têm se apropriado da agenda das PANC, entendendo-as como alimentos dos camponeses que podem trazer diversidade alimentar e resistência aos eventos climáticos adversos. É um movimento que reconhece essa temática como fundamental para a qualidade de vida dos camponeses, para o enfrentamento das mudanças climáticas e para a busca da segurança e soberania alimentar”, destacou.
Segundo Jaqueline, essa parceria vem sendo construída ao longo do tempo e foi fortalecida com a presença do MPA no evento HortPANC, realizado em São Lourenço do Sul em abril do ano passado. Além disso, em 2024, o PancPop também esteve presente na Feira de Seberi e promoveu uma formação no Centro de Formação do MPA, em Santa Cruz, onde diversos agricultores marcaram presença.
Neste ano, além da participação na feira, o projeto foi convidado a ministrar uma atividade formativa sobre as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) para guardiões de sementes da região.
"O movimento social entendeu que, além da participação na feira, seria interessante aprofundar alguns temas e identificou as PANC como um dos temas a serem trabalhados com os camponeses que participam do movimento”, contou a professora.
O evento de formação ocorreu no dia 7 de março e contou com a participação da Embrapa Clima Temperado, que abordou a importância da agrosociobiodiversidade. O PancPop e a Cooperativa Origem Camponesa, vinculada ao MPA, trabalharam questões relacionadas às sementes crioulas, incluindo o processo para se tornar guardião dessas sementes e a possibilidade de atuar na produção junto à cooperativa.
"Foi um momento bastante interessante para congregar guardiões e guardiãs de sementes, um momento formativo pré-festa, pré-evento, que foi muito rico e proveitoso para que possamos avançar na construção dessa temática PANC junto ao movimento social", complementou Durigon.
Divulgação e troca de conhecimentos
Durante a feira, o projeto esteve presente com materiais de divulgação, incluindo folders com informações sobre as PANC, além de uma exposição com algumas espécies dessas plantas. O projeto também distribuiu sementes e ofereceu degustações de geleias feitas com PANC, proporcionando ao público a oportunidade de conhecer melhor o trabalho que é realizado.
“Foi uma forma de permitir que as pessoas reconhecessem plantas que já utilizaram no passado ou tivessem seu primeiro contato com essas espécies, reconhecendo-as como alimentos nutritivos, de grande valor cultural e socioeconômico”, pontuou Durigon.
A professora destacou ainda que o evento reuniu cerca de 2 mil pessoas, majoritariamente agricultores de diferentes regiões do estado. “Embora mais concentrado no noroeste do estado, tivemos ônibus de diversas regiões”, afirmou.
Além disso, estudantes de graduação e pós-graduação vinculados ao PancPop participaram da feira, promovendo diálogos com a comunidade, trocando informações e auxiliando na degustação e distribuição de materiais. O projeto levou sementes cultivadas em parceria com agricultores da região para integrar a tradicional troca de sementes do evento, um dos momentos mais aguardados da festa.
"É uma celebração das sementes crioulas, mas também uma forma de manutenção dessas sementes, que são preservadas pelos agricultores. O acesso a elas tem ocorrido prioritariamente em momentos de troca, sendo esse o principal espaço de acesso às sementes crioulas pelos agricultores do nosso estado. Assim, o PancPop também participou, colocando as PANC como uma opção entre as sementes disponíveis para troca", observou Jaque.
PancPop e a articulação com movimentos sociais
A participação do PancPop nessas atividades reforça a visão do projeto sobre o papel social da Universidade. Para o projeto, a articulação com movimentos sociais e suas ações é central.
“O movimento social está muito presente no cotidiano dos agricultores e camponeses. Ter uma compreensão sóbria sobre suas demandas e estar junto deles na construção de ações estratégicas com o movimento é fundamental para que possamos ter um conjunto de ações bem focado e direcionado, que não parta simplesmente da cabeça de um pesquisador que pensa o processo sem consulta e sem envolvimento”, explica Carlos Alberto Seifert Jr. (Jajá), docente dos cursos de Agroecologia e de Gestão Ambiental.
Segundo ele, essa articulação tem se mostrado eficaz, pois o movimento tem acolhido o PancPop, incluindo sua participação não apenas nas feiras, mas também na proposição de processos formativos para agricultores e camponeses. “Isso tem sido muito gratificante para todos nós”, afirmou Jajá.
Com isso, o projeto tem se beneficiado dessa interação, criando um espaço de aprendizado mútuo. “Aprendemos muito nesses espaços com o movimento, aprendemos como eles se organizam. Também aprendemos conhecimentos técnicos e saberes populares que nos ensinam muito sobre como proceder e como lidar com as situações. É uma oportunidade de aprendizado para os estudantes envolvidos, assim como para os agricultores que estão diretamente vinculados ao projeto. A gente sempre faz questão de mobilizá-los para essas ações. Então, para eles, é um aprendizado tremendo também”, reforçou o professor.
Jajá destacou ainda que o PancPop, embora tenha começado com uma atuação local focada nas feiras, expandiu sua atuação com a articulação com o movimento social e as organizações da sociedade civil.
“Eles ampliam o PancPop para uma abordagem de caráter mais regional e estadual, e nacional. Em algum nível, a gente tem visto que as PANC têm sido pautadas em termos de políticas públicas, muito também por causa dessa parceria com o movimento social. Envolver agricultores de outras regiões, além de levar nossa experiência, que possibilita um grau de aprendizado para esses outros espaços, também nos traz muito aprendizado, não só para nós como extensionistas, pesquisadores, estudantes, técnicos, mas também para os agricultores que participam do projeto”, refletiu.
Além disso, Jajá ressaltou os momentos de troca, especialmente nas feiras, onde agricultores se encontram e compartilham experiências, mediadas pelo projeto.
“É bastante gratificante quando conversamos com esses agricultores e vemos o quanto eles se enriquecem, o quanto se enchem de esperança e de ideias para repensar seus sistemas, repensar sua produção, adaptar questões. E eu acho que o mesmo acontece com os agricultores das regiões visitadas, porque é uma troca constante”, disse Jajá.
Agenda do PancPop
Para além da participação no evento de Seberi, o PancPop segue com uma agenda intensa no primeiro semestre de 2025. Jajá mencionou várias ações previstas, incluindo processos formativos de aproximação com remanescentes quilombolas, além de outros eventos locais e regionais.
“O PancPop é muito voltado para a agroecologia, que envolve camponeses, populações tradicionais e originárias. Temos focado em um conjunto de ações, com vários processos formativos que estamos conduzindo, incluindo a aproximação com populações tradicionais”, informou Jajá.
Em junho, o PancPop também estará envolvido em eventos locais e regionais. Um deles será realizado em junho, na localidade de Prado Novo, no interior de São Lourenço do Sul.
“Vamos realizar o AgroPanc, um evento que organizávamos com certa frequência. No ano passado, não fizemos porque organizamos o evento nacional HortPanc, mas vamos fazer uma edição do AgroPanc que chamaremos de ‘Festa da Colheita’. Será um momento para realizarmos processos formativos, principalmente com agricultores, para colher essas espécies, mostrar como podemos armazená-las e utilizá-las, além de ensinar como podemos preservá-las para o próximo ciclo de cultivo. Será um dia de campo bastante prático”, finalizou o professor.