O Campus FURG São Lourenço do Sul (FURG-SLS) foi sede da primeira Oficina de Tambores nesta quinta-feira, 4. A Universidade é parceira do projeto Tamborada, idealizado pelo costureiro Kako Xavier e coordenado pelo vice-tesoureiro Markão Nunes, que já desenvolve atividades nas cidades de Rio Grande e Pelotas.
A proposta envolve rodas de conversa, oficinas práticas e vivências nos módulos de canto, dança, percussão, construção e composição, com o objetivo de recontar a história dos tambores do Rio Grande do Sul, reunindo pessoas de diferentes idades, gêneros e etnias em torno da reconstrução cultural.
Durante o encontro, que envolveu mais de 40 participantes, foram apresentados os tambores artesanais tambor de sopapo, tambor praieiro e tambor de candombe, cada um com sua própria identidade e sonoridade. Os participantes interagiram com os instrumentos, experimentaram exercícios de voz e integraram a musicalidade do tambor a outras expressões artísticas.
O tambor de sopapo, tradicional do sul do Brasil, carrega uma história ancestral ligada à mão negra escravizada e era tocado nas senzalas. É um tambor que representa os saberes que atravessaram gerações e resistem até hoje. Já o tambor praieiro surgiu em 2017, utilizando latas de zinco galvanizado vindas dos telhados do Quilombo do Morro Alto. Foi criado para contar a história do pescador e da relação com o vento, o povo e a pesca do camarão. O tambor de candombe, por sua vez, é uma referência ao carnaval afro-uruguaio e à sua marcação rítmica. Chamado também de tambor de mão, tem proximidade com o batuque e foi lembrado por Kako como um elemento autêntico da cultura gaúcha.
Além do aspecto musical, a oficina tem um caráter terapêutico e inclusivo para toda a comunidade. O grupo, composto por cinco integrantes, busca um espaço físico na área urbana do município que possa servir como sede do projeto, um lugar onde todos se sintam acolhidos e parte da iniciativa. “Onde todos nós possamos nos sentir em casa”, resumiu Kako. A proposta é construir um ambiente de troca e pertencimento, onde diferentes expressões culturais possam coexistir e dialogar.
Nas próximas oficinas, os participantes também aprenderão a construir tambores, fortalecendo a conexão com os instrumentos e com suas histórias.
A oficina integra um projeto aberto a todo o público, dentro e fora do território da FURG, e ao longo do ano estará presente também em escolas e em outros espaços da Universidade, misturando história, geografia e artes, através da proposta de abordar a ancestralidade dos tambores de forma leve, positiva e acessível.
Durante a atividade, Kako pediu ajuda aos participantes para criar uma música dedicada a São Lourenço do Sul, registrando em melodia e verso a história do município, buscando envolver a comunidade e fortalecer os laços locais.
A oficina ainda incluiu momentos de exercícios para o uso da voz, treino corporal, ensaio de refrões, gritos de guerra e atividades para superar a timidez e o medo de se expor. Segundo Kako, “o tambor fala mais alto e a união é de amor”. Ao final, todos compartilharam um cafezinho para encerrar o encontro.
Markão aproveitou a oportunidade para falar sobre a força do momento e afirmou estar deslumbrado com o pessoal que cooperou, destacando que a presença de todas as pessoas foi única “Ter um artista nacional, o Kako, ter professores e alunos que estão aprendendo com esses professores, e todo mundo para aprender uma cultura... Foi mágico”, relatou.
Quanto às próximas oficinas, Markão diz que, se forem iguais ou melhores que a primeira, o projeto já estará cumprido, pois a diversidade da comunidade estava lá.
“A comunidade lourenciana estava presente. Cada um representou uma comunidade ali. Minha expectativa é que, em 2026, tenhamos um bloco tremendo no carnaval, formado por lourencianos, negros, quilombolas, alemães, pomeranos, formado pela comunidade lourenciana. Que seja um bloco popular, que não precise de esforço ou custo alto para participar, porque ele vai ser popular. Trazer o povo direto para a passarela do samba. Minha expectativa é que a comunidade nos acolha", falou.
Por fim, Eduardo Antunes Dias, docente da FURG e colaborador do projeto, celebrou a primeira oficina, compartilhando a alegria de ver o prédio 1 cheio de pessoas.
“Foi muito gratificante, uma grande alegria ver ex-estudantes nossos que foram assistir, a mistura de pessoas e, principalmente, estudantes e ex-estudantes quilombolas prestigiando esse início de oficinas do projeto, que busca promover a cultura afro local por meio da música e dos tambores", finalizou.
Com mais atividades previstas ao longo do ano, a Tamborada segue seu propósito de ampliar o alcance da cultura percussiva e fortalecer sua presença na região, promovendo um espaço de aprendizado, expressão e conexão entre os participantes. Em breve, o local e a data da próxima oficina serão divulgados.