Na última sexta-feira, 12, a FURG São Lourenço do Sul (FURG-SLS) realizou o 5º Mutirão e Remada Ambiental para conservação das águas em São Lourenço do Sul. A coleta foi realizada na região do trapiche da Praia da Barrinha e contou com a participação de docentes, estudantes e comunidade local.
Em aproximadamente 40 metros de trajeto e quatro horas de trabalho, foram recolhidos 500kg de material não passível de reciclagem e 40kg de material encaminhado para reciclagem. Entre os objetos coletados estavam quadros de bicicleta, pneus, peças de eletrodomésticos, garrafas de vidro, restos de redes, cordas, arames, e grande volume de plástico, como sacolas, copos e embalagens diversas.
Com o 5º mutirão, a equipe totaliza 2.300 toneladas de resíduos recolhidos desde 2022. Atualmente formalizado como um projeto de extensão, as ações do grupo tiveram início a partir da necessidade de conservação das áreas do município e a gestão de seus resíduos sólidos, principalmente o descarte inadequado às margens dos Arroios São Lourenço e Carahá e da orla da Laguna dos Patos.
Coordenadora da iniciativa e professora da FURG, Patrícia Lovatto diz que o material coletado, além de impactar a paisagem, também afeta diretamente a fauna local, compromete a atividade pesqueira, contamina a água, acarreta doenças significativas para a saúde pública e contribui para os alagamentos.
“Sabemos que nossa ação não resolve o problema, mas parados e paradas diante dessa triste realidade nós não vamos ficar. Precisamos urgentemente de um olhar atento e comprometido das autoridades. A Laguna dos Patos clama por socorro e é o nosso papel como universidade chamar a atenção da população para a urgência da conservação dos ambientes aquáticos. Seguiremos! E mesmo que sejamos poucos, se a nossa ação for capaz de mudar a paisagem e minimizar o impacto do descaso sobre a vida da Laguna, o nosso propósito com a nossa consciência e desejo de mudança estará cumprido”, enfatiza a docente.
A ação contou com o apoio da Cooperativa dos Catadores de Material Reciclável de São Lourenço do Sul (Coopeforte/Asser), que recolheu o material passível de reciclagem; da empresa lourenciana Juninho Caiaques, de Juninho Dornelles, responsável por viabilizar os caiaques em todos os mutirões; da Secretaria Municipal de Planejamento e Meio Ambiente (Seplama), que disponibilizou sacos, luvas e equipamentos para a coleta do lixo, e recolheu o montante não passível de reciclagem; e da professora Daniela Lessa, da Escola Municipal de Educação Infantil Turma do Puff, que realizou a apresentação e divulgação de material didático para a Educação Ambiental com réplicas de diferentes espécies de animais que habitam a região.
O público que passava pela orla teve a oportunidade de conferir as réplicas dos animais na exposição “Fauna da Laguna dos Patos”. A ação também contou com fotos registradas especialmente no entorno do trapiche, capturadas por Ricardo Lau, Ronaldo Augusto Silva Gomes, Patrícia Lovatto, Marcelo Bianchi, Gilberto Koslowski Schwalm e Juninho Dornelles.
Percepções dos participantes
O grande volume de lixo em um espaço tão curto foi algo que chocou os participantes do mutirão, como é o caso da professora Daniela. “Fiquei assustada com a quantidade de lixo que foi retirado. Muita coisa inclusive não deu para retirar porque os plásticos já se craquelaram, já se misturaram e vão virar microplásticos que vão afetar a vida da gente igual. Mas eu fiquei muito impressionada, fiquei impactada mesmo”. Segundo ela, o mutirão chama atenção para a responsabilidade de todas as pessoas perante os resíduos gerados. “É uma ação importante, mas é uma ação que não precisava acontecer se as pessoas fossem conscientes. É uma ação que tem que mover a gente. Se a gente quer mudar o mundo, se a gente quer que as coisas mudem, então a gente tem que ir, mudar também, tem que se mexer”.
Juninho, que retira o seu sustento do turismo e do lazer nas águas lourencianas, enfatiza a importância da consciência ambiental e da parceria com a universidade. “É muito lixo. Se todo mundo pegasse, se juntasse e fizesse isso, São Lourenço não estaria desse jeito. Mas eu só tenho a agradecer por fazer parte dessa turma. É uma turma muito legal, sabe, eles trazem uma luz, um carinho, uma coisa tão boa pra gente. E sempre que eu puder fazer parte, enquanto estiver com os caiaques aqui, pode ter certeza que vou”.
A quantidade de resíduos encontrada também impactou o bolsista do projeto, Clodoaldo Freitas, que é pescador artesanal e estudante de Educação do Campo. “De todas as outras limpezas anteriores, essa foi a que nós encontramos a maior quantidade de lixo na praia. Isso foi devido às águas cheias nos últimos meses, em razão de chuvas que trouxeram muitos dejetos, garrafas pet, e sacolinhas para as encostas. O nível encheu, a Lagoa abaixou e ficou toda essa sujeira na orla da praia. Não podemos também deixar de ressaltar o descarte ilegal de materiais realizados pela própria população”.
Para Clodoaldo, é importante que pessoas da comunidade se engajem cada vez mais com o projeto. Se vê pouco a participação da sociedade, infelizmente, numa ação tão legal como essa. Todo mundo acha bacana, muitos nos elogiam pela ação, mas participar, meter a mão mesmo, são poucos. Infelizmente essa é a cultura da nossa sociedade”. Segundo ele, é muito gratificante contribuir com a iniciativa. “Comentamos muito nos mutirões que nós estamos enxugando gelo, mas um animal que não se engasgue com a sacola plástica já é uma vitória para nós”, diz.
O bolsista relata que a equipe pretende realizar novas ações de intervenção. Entre elas, a colocação de porta-bitucas na orla da praia e a confecção de camisetas, visando levantar fundos para as atividades.