METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS

FURG une teoria e prática em trabalho de extensão rural com comunidade quilombola de SLS

Projeto, vinculado a disciplina do curso de Agroecologia, é realizado há cinco anos com famílias agricultoras do Quilombo Coxilha Negra

O desafio de estabelecer um diálogo de conhecimentos, em uma prática coerente com a teoria aprendida em sala de aula, é o que tem movimentado os estudantes do 7º semestre do curso de Agroecologia, vinculados à disciplina de Metodologias Participativas na Extensão Rural, a realizarem um trabalho em conjunto com a comunidade quilombola Coxilha Negra, localizada no 6º distrito de São Lourenço do Sul.

A cadeira é ministrada pela professora e vice-diretora do campus, Carmem Pacheco Porto. A partir de uma parceria firmada com o quilombo há cinco anos, a docente explica que a disciplina consiste no desenvolvimento de um planejamento participativo, com a aplicação de métodos que respeitem uma dinâmica horizontal e o envolvimento da comunidade durante todo o processo.

Assim, a cada novo semestre os estudantes escutam as demandas dos moradores da comunidade e buscam por soluções com viés agroecológico em sintonia com os trabalhadores, a partir do Diagnóstico Rural Participativo (DRP). Para este ciclo, estão previstos seis encontros presenciais, sendo que todo trabalho é acompanhado por docentes e técnicos da FURG-SLS.

Mesmo no período em que a universidade se encontrava em ensino remoto - entre 2020 e 2021, por conta da pandemia da covid-19 - o projeto seguiu acontecendo, com o monitoramento e o assessoramento da comunidade sendo realizado de forma virtual.

Entre ações já realizadas, estão incremento dos pomares, organização de estufa, melhoria dos sistemas de cultivo de hortaliças e fortalecimento da criação de galinhas para a produção de ovos coloniais.

A partir da demanda trazida pelos moradores, nesta edição da disciplina o foco dos estudantes tem sido em podas e manejo dos pomares de citros, bananeiras, videiras e demais espécies, com o auxílio do técnico em agropecuária da FURG-SLS, Antônio Echeverria.

Impactos para a comunidade

Giane Ferreira é uma das lideranças quilombolas do Coxilha Negra. Ela conta que o projeto desenvolvido na comunidade foi muito importante para as pessoas do território. “Quando a FURG começou a vir, a gente começou a se integrar mais com as pessoas, a conversar, a brincar, a trabalhar junto”, afirma.

Giane cita o fato de que sua filha e outras pessoas da comunidade ingressaram no ensino superior como exemplo dos frutos trazidos pela aproximação do quilombo com os alunos e os professores da universidade. “Eu vou agradecer sempre por tudo que proporcionou para a minha família. Não só para a minha família, mas para os colegas, para os amigos, para os vizinhos… Eles ingressaram na FURG, quiseram continuar os estudos que muitos que já tinham parado, foi um incentivo”.

A agricultora também conta que, com o projeto, os moradores passaram a reconhecer os seus direitos e novas lideranças dentro da comunidade foram se formando. “Muita coisa a gente não fazia, a gente não sabia”, relata.

Diálogo de saberes

Na avaliação da professora Carmem, o resultado mais importante alcançado pela equipe até hoje foi ter trazido estímulo às famílias da comunidade a se organizarem em torno de seus problemas, prioridades e demandas, valorizando suas potencialidades e suas capacidades de movimentação coletiva.

A docente explica que uma situação frequente que ocorre no quilombo é a migração dos moradores. “Por vezes, se deslocam para a realização de ações de sua vida cotidiana, como o trabalho como diaristas em propriedades próximas. Ou migram para a área urbana do município em busca de melhores condições de vida, para estudar, trabalhar, entre outros”, relata.

Dessa forma, para Carmem, “o trabalho desenvolvido em conjunto com universidade é capaz de promover espaços para que as famílias possam compreender suas próprias dinâmicas e estratégias de sobrevivência e reprodução social, contribuindo para o fortalecimento dos seus ativos e atenuação de questões que desejam resolver”.

Já para os estudantes, segundo a visão da docente, o DRP promove a possibilidade de entrelaçamento de teorias, experiências e conhecimentos interdisciplinares, por meio da interação e do diálogo. “Ademais, revela aos estudantes os inúmeros desafios que o espaço rural enfrenta nos dias atuais, sendo uma oportunidade para o aprofundamento teórico, bem como aquisição de experiência para os futuros profissionais”, salienta Carmem.

A estudante Thielle Pinho, matriculada atualmente na disciplina, complementa, afirmando que a oportunidade dos alunos e alunas construírem atividades junto das famílias, em um território quilombola, é uma possibilidade de troca de saberes entre a instituição de ensino e a comunidade.

Thielle destaca que a proposta só se efetiva pela permissão dos moradores em receberem os alunos e professores da universidade. “Faz alguns anos que o Quilombo Coxilha Negra acolhe a FURG e essa relação é muito importante para nós estudantes, sobretudo da Agroecologia, para conhecer e aprender a história dos nossos povos tradicionais locais” entende.

Darwin Aranda, estudante na primeira turma do projeto e atualmente doutorando em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), concorda, explicando que aplicação do DRP dentro da Agroecologia implicou na ruptura da relação assimétrica entre o saber acadêmico e o conhecimento local. “Nós não levamos uma solução pronta para a comunidade e isso foi deixado claro desde o início de nossos encontros”, afirma.

Ele conta que para além do diagnóstico, foram elaboradas algumas sugestões para fortalecer a comunidade e as famílias, levando em consideração as características socioeconômicas de cada núcleo e, o mais importante, segundo ele, com propostas que os próprios moradores sugeriram e desejavam trabalhar.

Darwin também entende que o trabalho que é realizado até hoje junto ao Coxilha Negra é o ponto de partida para futuras ações de pesquisa ou de extensão na universidade. “Sem esse diagnóstico, seria difícil ou até impossível trabalhar com essas comunidades. Além disso, também acredito que o simples fato de a universidade dar voz e ouvir essas pessoas valoriza a quem por muito tempo passou por situações de exclusão e invisibilidade”.

 

Este material foi produzido de acordo com as normas disciplinadas pela Instrução Normativa nº 1, de 11 de abril de 2018, bem como se ancora e respeita os demais materiais publicados até o momento no que tange o regramento para a comunicação pública dos órgãos federais durante o período de defeso eleitoral, compreendido de 2 de julho a 2 de outubro, podendo ser prorrogado até o dia 30 do mesmo mês em caso de segundo turno.

 

 

Galería

Projeto, vinculado a disciplina do curso de Agroecologia, é realizado há cinco anos com famílias agricultoras do Quilombo Coxilha Negra

Foto: Divulgação