A FURG São Lourenço do Sul (FURG-SLS) participou na última quinta-feira, 19, do Encontro de Pescadoras das Lagoas Mirim, Mangueira, Patos e Peixe. O evento aconteceu no Salão Paroquial da Igreja Nossa Senhora dos Navegantes de São Lourenço do Sul.
Promovido em conjunto pelo Instituto De Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RS/Ascar), pelo Governo do Estado, pelo Círculo de Referência em Agroecologia Sociobiodiversidade Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (AsSsAN/Ufrgs) e pela colônia de pescadores/as Z8, o encontro contou com a presença de pescadoras das colônias Z1 (Rio Grande); Z2 (São José do Norte); Z3 (Pelotas), Z11 (Tavares e Mostardas) e Z43 (Tapes).
Também apoiaram o evento representantes do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP), do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) e da Cooperativa Mista de Pequenos Agricultores da Região Sul (Coopar). No dia da realização, a atividade contou com a presença de autoridades do poder executivo e legislativo.
Segundo a assistente técnica regional da Emater/RS, Regina Medeiros, o evento foi organizado em alusão ao mês da mulher, celebrado em março, visando valorizar a força e o protagonismo das pescadoras nas suas comunidades.
Em palestras, foram abordados temas de interesse da classe, como a falta de reconhecimento ao trabalho das pescadoras, o papel delas na defesa de territórios e as políticas públicas voltadas à pesca artesanal. A programação teve sequência com relatos de experiências e oficinas.
A pesquisadora Fabiane Fonseca, integrante Laboratório Interdisciplinar Mapeamento em Ambiente, Resistência, Sociedade e Solidariedade (Maréss) da FURG foi uma das palestrantes, abordando o tema "Filhos(as) da pesca artesanal na universidade e a defesa dos territórios tradicionais de pesca".
Natural da comunidade-território tradicional pesqueira da Barra de Pelotas, ela acessou a universidade em 2013 e desde então busca trazer a temática da pesca artesanal para a sua formação. “A fala buscou demonstrar que os filhos da pesca têm o direito ao estudo, e que acessar a universidade pode ser um instrumento para a defesa dos nossos territórios a partir da produção de dados científicos que dialoguem com as nossas demandas. Destaquei também a importância de cobrarmos que os pesquisadores que se inserem em nossos territórios em busca de dados realizem o retorno dos resultados para as comunidades”.
Na oportunidade, Fabiane salientou que algumas ameaças têm atingido os territórios pesqueiros no extremo sul do Brasil, como os projetos para instalação de parques eólicos na Lagoa dos Patos, e ressaltou a importância da mobilização para a defesa dos direitos territoriais das comunidades. Além de impactarem a cadeia produtiva da pesca de maneira geral, essas ameaças atingem mais fortemente as pescadoras, por estarem desprotegidas legalmente.
Para a pesquisadora, a desigualdade de gênero está muito presente no contexto da pesca no que se refere à garantia de direitos, onde mulheres pescadoras enfrentam dificuldades para acessar o seguro defeso - benefício social que garante renda ao trabalhador ou trabalhadora no período em que não pode exercer a atividade pesqueira -, ou tirar a carteirinha de pesca.
“O próprio processo burocrático dificulta o acesso dessas mulheres à sua regularização enquanto pescadoras, isso é um ponto. Um segundo ponto é que o trabalho da mulher pescadora, majoritariamente aqui na nossa região, é realizado em terra, não é realizado na água. Então isso por si só já faz com que essas mulheres sejam desvalorizadas, sejam invisibilizadas enquanto pescadores e sejam frequentemente postas como ajudantes do marido, ajudantes do pai, do irmão, enfim, daquele sujeito pescador que vai ao mar. A própria noção do que é ser pescador, do que é ser pescadora, é um objeto de promoção de desigualdade aqui na nossa região”, enfatizou Fabiane.
Também presente na atividade, o diretor do campus da FURG-SLS, Eduardo Vogelmann parabenizou a organização sobre a temática. “A Emater-RS/Ascar está de parabéns por trazer e organizar um evento voltado ao público feminino, uma vez que em sua maioria as mulheres não estão nas embarcações, mas acabam auxiliando nas demais atividades em terra, sendo muitas vezes as responsáveis pela transformação e comercialização do pescado. É muito pertinente um evento voltado às pescadoras que são parte importante da atividade pesqueira”.
Eduardo ressaltou que a pesca artesanal é uma atividade que vem sendo desenvolvida há milênios, mas com o aumento das populações, enfrenta desafios. “O aumento da poluição, mudanças climáticas, ameaças de extinção de algumas espécies e redução dos estoques e volumes pescados, entre outras coisas, ameaçam a atividade. Isso torna evidente a necessidade de se pensar, planejar e discutir o futuro da atividade pesqueira e envolver os pescadores e as pescadoras”.