ARTE E CULTURA

Biblioteca da FURG SLS sedia conversa sobre livro que aborda tradições pomeranas

Romance histórico retrata vida e opressões sofridas por mulheres que viviam em região que hoje se localizam a Alemanha e a Polônia

Na última quarta-feira, 15, o escritor e historiador lourenciano Jairo Scholl foi recebido na biblioteca do Campus da FURG em São Lourenço do Sul. Na ocasião, Scholl presenteou a universidade com um exemplar de “Noivas de Preto: uma saga contra a força da tradição e da lei dos senhores” e dialogou sobre a obra com os presentes.

Lançado este ano, o romance histórico retrata as condições de vida da população pomerana antes da vinda para o Brasil, em região que atualmente se localizam a Alemanha e a Polônia. A escolha por esta comunidade se deu pelo impacto da cultura no Sul do Brasil, e especificamente, em São Lourenço do Sul, município que é considerado um dos principais polos de imigração pomerana no país.

Pensado a partir de fatos reais, a obra utiliza uma narrativa ficcional para abordar a tradição das noivas que se casavam de preto. A explicação mais corrente é de que na época o traje simbolizaria o luto, uma vez que para terem a autorização para o matrimônio as mulheres eram submetidas à primeira noite com o senhor feudal, chamada de jus primae noctis.

“Então, em repúdio, vestiam-se de preto como viúvas, num silencioso ato de rebeldia. É importante frisar que o direito da primeira noite do senhor vigia em toda a Europa medieval, constando que em regiões como a Pomerânia o sistema custou mais a desaparecer. Esta história, com sua forte matriz humana, me pareceu ideal para um romance histórico”, disse o autor.

Durante a roda de conversa, Scholl explicou, no entanto, que a jus primae noctis não consta em nenhum registro escrito, sendo um relato somente repassado pela oralidade.  Acreditando ser necessário que as gerações atuais realizem uma reflexão histórica, de modo a compreender as raízes da desigualdade que se perpetuam até hoje, o autor afirma que procurou, através da literatura, tornar a narrativa mais acessível, aproximando-a de um público mais amplo.

Ele também comparou a situação das pomeranas aos números atuais de violência contra a mulher no Brasil. “As mulheres seguem sendo vítimas de uma violência milenar em que os homens se acostumaram que seria assim e elas próprias, por vezes, acreditam que seja de fato, assim”, pontuou.

Da mesma forma, o autor alertou sobre a importância de escrever a história, e o grande perigo de repeti-la. “História esquecida é história repetida, e como sofrimento”. Assim, destacou a importância da FURG em São Lourenço do Sul e o papel da universidade no fomento ao senso crítico da comunidade.