Avaliar a abundância, os tipos e as principais fontes de plásticos na superfície oceânica da Antártica. Este é o objetivo da pesquisa de Ana Luzia Lacerda, estudante de Doutorado em Oceanografia Biológica da FURG. Um artigo com resultados foi publicado recentemente na revista científica Scientific Reports, da Nature Research.
O estudo comprova que nem as regiões mais remotas do planeta estão a salvo da poluição por plásticos. O material foi coletado em doze pontos no entorno da Península Antártica, em uma expedição realizada durante o mês de fevereiro de 2017.
Ana Luzia graduou-se na segunda turma de Oceanografia na Universidade Federal do Ceará (UFC) e posteriormente concluiu o Mestrado na FURG, onde atualmente se dedica ao Doutorado. Ela conta que trabalha com Biologia Molecular desde os tempos da graduação, e deu início ao Doutorado para analisar com mais afinco os organismos que vivem aderidos aos plásticos. "Quis analisar a diversidade e o potencial desses organismos na biodegradação dos plásticos, através do seu DNA, porém, me faltava informação de base - a quantidade, os tipos e a distribuição dos plásticos nas duas regiões de estudo, que são a Antártica e a costa brasileira", relata. Assim, a pesquisadora teve que, primeiramente, fazer a caracterização dos resíduos plásticos (o que resultou nesse primeiro artigo) para, então, conseguir analisar os organismos que vivem aderidos aos plásticos nos oceanos, um sistema atualmente chamado de "Plastisfera".
O artigo teve a coautoria de Lucas Rodrigues, Erik van Sebille, Fábio Rodrigues, Lourenço Ribeiro, Eduardo Secchi, Felipe Kessler e Maíra Proietti. De acordo com o levantamento, a concentração média dos plásticos foi estimada em 1.794 itens/Km² e os plásticos foram descritos de acordo com o formato (fragmentos, linhas e esferas), tamanho (meso e microplásticos) e composição química (náilon, poliuretano e polietileno, entre eles). O modelo oceanográfico de dispersão revelou que, por no mínimo sete anos, os plásticos amostrados na Antártica não foram oriundos de regiões menores de 58° de latitude sul, o que significa que o material coletado veio, predominantemente, de fontes locais. Contudo, os autores não descartam a possibilidade do transporte desses polímeros vindo de outras regiões, por meio das correntes marinhas.
Além da caracterização dos plásticos, também foram identificados os organismos que formam o biofilme na superfície desses materiais, já que os plásticos atuam como um substrato artificial para o desenvolvimento de comunidades aderidas a eles. Na plastisfera antártica foram identificadas, por exemplo, diferentes espécies de microalgas, colônias de bactérias e invertebrados. Os autores também destacaram a contaminação por fragmentos de tinta na região, possivelmente oriundos de embarcações e aparatos náuticos, que podem ter impactos similares aos dos plásticos nos oceanos.
Financiamento
Ana Luzia recebe bolsa de doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O estudo foi financiado pelo projeto Interbiota, através do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O trabalho é uma contribuição do Grupo de Oceanografia de Altas Latitudes (Goal), vinculado ao Programa Antártico Brasileiro (Proantar).
Em novembro passado, a doutoranda apresentou dois trabalhos na Conferência Internacional de Microplásticos, nas Ilhas Canárias. Em um dos trabalhos, a pesquisadora mostrou os dados de poluição plástica marinha no Brasil e na Antártica. O outro trabalho foi baseado em uma atividade de extensão para popularização da ciência, que envolveu equipes do Instituto de Oceanografia (IO) e do Instituto de Letras e Artes (ILA) da FURG.
Mulheres na FURG
O Selo Mulheres na FURG busca dar visibilidade para os fazeres e vivências das mulheres que constituem a universidade. Por meio de texto, áudio e vídeo o projeto mostra diversas facetas da atuação da universidade através da trajetória das mulheres na pesquisa, na extensão, no ensino, na atuação técnica, cultural e social.