Assinado em 2019 com a Universidade Tecnológica do Uruguai (Utec) para a implementação do Programa Binacional de Pós-graduação Lato Sensu em Robótica e Inteligência Artificial, o objetivo do acordo - com duração de cinco anos -, está na contribuição para a formação de profissionais, integrando conhecimentos acerca de robótica e inteligência artificial, para a promoção de desenvolvimento regional. Dois anos depois, os procedimentos de defesa dos 22 projetos resultantes do programa se aproximam com a formação da primeira turma do curso, estimada para julho de 2021.
De acordo com Paulo Drews, professor do Centro de Ciências Computacionais (C3) da FURG e coordenador do curso, o projeto surge de uma aproximação da Utec com várias instituições no Brasil. Com uma proposta voltada para Robótica e Inteligência Artificial, o primeiro contato foi feito com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Atualmente, o programa binacional é coordenado pela FURG e pela Utec, com suporte da UFSM, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Robótica e inteligência artificial
Iniciado em 2019 com a oferta de 30 vagas - sendo 15 para brasileiros e 15 para uruguaios -, o programa binacional de Pós-graduação Lato Sensu em Robótica e Inteligência Artificial se aproxima do encerramento de sua primeira turma. De acordo com Drews, o objetivo do programa para a FURG é, além de possibilitar uma formação internacional para estudantes brasileiros, também internacionaliza o grupo de professores e pesquisadores da universidade.
“Com a proposta voltada para uma área tecnológica em que a instituição é referência, a ação pode nos aproximar de parceiros importantes, e nós, em contrapartida, podemos servir como referência, tanto para a Utec quanto para o Uruguai, além, ainda, da contribuição direta e indireta para o desenvolvimento regional nessa área que é importante aos dois países”, pontua Drews.
Ao longo dos últimos 20 anos, com a criação do Grupo de Automação e Robótica Inteligente da FURG (Nautec), em 2001, a universidade vem ocupando uma posição de destaque na América Latina como um dos maiores grupos de robótica. “É do nosso interesse que estudantes do continente venham fazer mestrado e doutorado, e que, futuramente, também possamos promover o intercâmbio entre docentes. Além de sermos vistos como a referência que somos, nossa intenção é compartilhar o conhecimento que temos aqui, que é um conhecimento de excelência mundial”, adiciona Drews.
Antes do começo da pandemia, o curso aconteceria presencialmente, em Rivera, no Uruguai. Mas com a chegada das ações de contenção e combate ao vírus, bem como o fechamento das fronteiras, as atividades do programa foram repensadas em modo totalmente online e remoto. Cem inscrições foram recebidas, 90 de uruguaios e 10 de brasileiros, dos quais sete foram aprovados. “Talvez, o baixo número de brasileiros inscritos tenha relação com a distância e as opções que os estudantes têm aqui. Este foi um curso de especialização sem correlatos no Uruguai, pioneiro no país”, esclarece o coordenador.
Em termos de logística, a Utec fornece toda infraestrutura e, antes da pandemia, custeava o deslocamento dos professores da FURG; que por sua vez, entram com a mão de obra.
Uruguai, tecnologia da informação e o programa como agente transformador
Segundo Drews, o Uruguai é um país com muitas oportunidades na área do programa, com inúmeras companhias voltadas para tecnologia da informação e sede de multinacionais como a Microsoft e a IBM. Atualmente, o curso recebe diversas empresas e representantes uruguaios interessados em apresentar problemáticas próprias com a finalidade de buscar soluções em robótica e inteligência artificial. “Alguns alunos inclusive buscaram os problemas dessas empresas para trabalhar em seus projetos finais”, afirma Drews. De acordo com o coordenador, uma empresa chilena - interessada em se estabelecer em Rivera -, também expôs suas demandas e agora está em fase de assinatura de projeto piloto com a FURG para o desenvolvimento da tecnologia necessária.
Planos futuros
Segundo Drews, com a reta final para a conclusão da primeira turma do programa, a FURG e a Utec já estão em negociação para a renovação do acordo de cooperação, planejando uma segunda turma. “Com isso, essa negociação passou a ser trinacional. Se tudo der certo, este será pioneiro no formato”, declara. A ideia é envolver Brasil, Uruguai e Argentina. O curso teria 30 vagas, sendo dez para cada país participante. “É algo que está em negociação, ainda não foi assinado. Estamos refinando o programa para que a gente possa melhorar aspectos que identificamos como problemáticos”, completa o coordenador.
Alguns projetos desenvolvidos no programa
De acordo com Rodrigo Guerra, professor da UFSM e orientador de diversos projetos do programa, era esperado que os estudos explorassem temas muito variados, já que a aplicação prática dos trabalhos não é um critério obrigatório nessa fase de avaliação. No entanto, o docente indicou que a maioria das pesquisas propõe soluções para problemas reais e que muitas dessas ideias “podem ser transformadas em empreendimentos futuros, se os alunos e seus orientadores assim o desejarem", diz.
Conheça algumas das soluções propostas por acadêmicos do curso
Sistema de inteligência artificial para ajudar a detectar o câncer cervical mais rapidamente
O câncer cervical é um dos mais frequentes no Uruguai. De acordo com o Registro Nacional da Comissão Honorária de Combate ao Câncer, todos os dias uma mulher é diagnosticada com a doença, e 140 morrem por ano. “O trabalho visa colaborar com a atuação do médico na etapa de observação de imagens ao microscópio, para identificar células com atipia, o que é fundamental no estudo, podendo reduzir substancialmente o tempo despendido”, aponta o estudante Pablo Cuña, natural de Rivera.
O projeto consiste em um sistema de inteligência artificial que, por meio de Deep Learning, classifica células atípicas em imagem. “A ideia é treinar uma rede neural artificial para que possa reconhecer e classificar as imagens dessas células, identificadas a partir do exame Papanicolau”, explica Cuña.
O sistema não substitui o profissional médico, mas é capaz de reduzir o tempo de diagnóstico, melhorando a eficiência do processo.
Uma proposta para proteger os pulmões do planeta
Listado como questões importantes ao estudante Matheus Mello, de Santa Maria, os incêndios na Amazônia ameaçam a biodiversidade e o futuro do pulmão do planeta. Mello é engenheiro elétrico e atualmente mora em Munique, na Alemanha, onde faz estágio no Centro Aeroespacial Alemão. Seu projeto, denominado "Localizando e Quantificando o Desmatamento na Floresta Amazônica", consiste na criação de um sistema automatizado para detecção e quantificação de incêndios florestais por meio de imagens de satélite e inteligência artificial.
O projeto busca facilitar a tarefa de monitoramento e detecção de incêndios, ilegais ou naturais, para promover a avaliação do impacto na floresta amazônica, gerando conscientização social a respeito do tema. “O monitoramento por meio de imagens exclui a necessidade do envio de equipes in loco para o trabalho de campo, assim não expondo-os ao risco que isso implica”, explica Mello.
Nos próximos meses, entre as tarefas pendentes, será feita a estimativa de custos para implantação do sistema. Quanto ao acesso às imagens via satélite, a Agência Espacial Europeia ofereceu gratuitamente as imagens de seu satélite, Sentinel-1, para incentivar sua aplicação neste tipo de iniciativa.
Sinais artificiais para detectar arritmias
Carina Maerro é tecnóloga em informática com formação na UTEC e se dedica à análise funcional de banco de dados e Business Intelligence. No programa, a estudante desenvolveu o projeto "Aumento de Dados em Sinais de ECG", que busca contribuir para a detecção de novos tipos de arritmias cardíacas.
A ideia surgiu por meio do contato com uma startup uruguaia que desenvolveu um aparelho para medir sinais de eletrocardiograma (ECG) e monitoramento cardiológico remoto de pacientes. Segundo Maerro, o dispositivo é capaz de detectar determinados tipos de arritmias por meio de algoritmos matemáticos, oferecendo a possibilidade de enviar as informações obtidas ao prestador de saúde, ou, ainda, emitir alertas caso necessário.
O projeto visa resolver o problema da insuficiência de dados, especialmente sobre certos tipos de arritmias raras e difíceis de classificar, além de contribuir com a criação de sinais artificiais para a criação de um banco de referência. O estudo está em fase de desenvolvimento, com o treinamento do algoritmo e o teste de diferentes arquiteturas de redes neurais.